O jogo político é como um tabuleiro de xadrez”. Sim, a metáfora é desgastada, claro. Mas clichês também são reveladores, na medida em que revelam consensos, como esse do xadrez: há uma confluência de forças na disputa entre peças progressistas e conservadoras para tomar o poder.
Se no xadrez o objetivo é avançar as peças e conquistar espaços no tabuleiro até capturar o rei – com o “xeque-mate”, vencendo o jogo -, na política a lógica é similar: avançar no terreno político, enfraquecer os adversários e conquistar espaços de poder.
Vamos, então, entender o xadrez da política nacional. A meta das forças conservadoras é evidente: capturar o rei, conquistando a Presidência da República. O ponto central da estratégia consiste em destruir a principal peça do adversário: a presidente Dilma. Para isso, recorreu até a estratégias sórdidas, como mensalão e acusações levianas no caso Lava Jato, sempre, claro, respaldada pela velha mídia, e querendo “sangrar” o adversário para que ele chegue fraco e com hemorragias irreversíveis nas eleições presidenciais seguintes.
No entanto, mesmo jogando sujo, os conservadores falharam nas últimas três eleições. Lula e Dilma, com a força dos trabalhadores e dos movimentos sociais, venceram os pleitos. Rancorosa, agora a direita vem com tudo para o jogo, ameaçando até trapacear nas regras democráticas do jogo ao pedir o impeachment da presidenta Dilma. Claro, 2015 não é 1954 e não é 1964, as circunstâncias são diferentes e essa direita, com sua gritaria histérica e alucinada, parece mais desejar manter os progressistas ajoelhados, imobilizados até 2018, como bem alertou o DCM em recente artigo. É a velha situação do “rei afogado”, quando o enxadrista tem a vez de jogar, não está em xeque, mas não tem movimentos válidos e o jogo, portanto, termina em empate.
E o ataque é sistemático, em especial contra a classe trabalhadora. Nesse ano de 2015, uma artilharia pesada tem sido disparada em duas frentes: uma nas novas propostas de legislação promovida, principalmente, pelo Congresso Nacional e outra na área econômica com medidas restritivas.
No campo legislativo, a ofensiva sobre os direitos trabalhistas partiu dos poderes Executivo, por meio das medidas provisórias 664 e 665, e Legislativo, por intermédio do PL 4330/2004, que escancara a terceirização e a precariza as relações de trabalho. No Congresso Nacional houve uma conjunção de fatores contrários aos trabalhadores: a bancada sindical diminuiu e as bancadas empresarial, ruralista, da segurança e evangélica, voltaram mais coesas, mais motivadas e com novos quadros. Além disso, o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), apoiando essas forças, parece ter declarado guerra contra o governo federal e as forças progressista do país.
Já na economia, o momento é de retração, com queda na atividade econômica, aumento do desemprego, inflação em alta, juros altos e escassez de crédito. Em resumo, a coisa não está boa para muitos setores econômicos e quem parece que será obrigado a pagar a conta é o trabalhador. A cada semana, se noticia o fechamento de centenas de postos de trabalho. A presidente Dilma, no entanto, apesar de sempre ter defendido a classe trabalhadora, se encontra na defensiva.
Esse é um momento delicado. Deve-se refletir muito antes de mover cada peça nesse tabuleiro, impedindo que o adversário jogue mais gasolina na fogueira. Porém, é necessário também ousar mudar. Como bem disse o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832): “ideias ousadas são como as peças de xadrez que se movem para a frente; podem ser comidas, mas podem começar um jogo vitorioso”.
Marcelino Rocha é presidente da Fitmetal
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