Acaba de ser relançado o álbum “Direitos Humanos no Banquete dos Mendigos”, uma caixa com três CDs que registram um repertório histórico gravado em 1973 por importantes artistas brasileiros em um show-manifesto contra a ditadura militar organizado e apresentado no Rio de Janeiro.
Na época, o objetivo era comemorar os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos enquanto o Brasil vivia um dos períodos mais sombrios da ditadura militar, sob a batuta de Emílio Garrastazu Médici. O nobre propósito, no entanto, não vingou. A gravação do disco foi proibida e somente em 1978 foi lançado o LP Banquete dos Mendigos, já no clima da dispersão da abertura lenta e gradual, de então.
Jards Macalé teve a iniciativa do show comemorativo e convidou uma constelação de amigos para se apresentarem no Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro, no dia 10 de dezembro de 1973, aniversário da Declaração. A ideia da apresentação era simples, as músicas seriam apresentadas com trechos da declaração intercalados.
Subiram ao palco Edu Lobo, Dominguinhos, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, MPB4, Chico Buarque, Raul Seixas, Gonzaguinha, Jorge Mautner, o próprio Macalé, entre outros. Como se vê a gravação não ficaria impune com um time desses. Paulinho da Viola cantou, de sua autoria “Roendo as Unhas”:
Meu samba não se importa que eu esteja numa
De andar roendo as unhas pela madrugada
De sentar no meio fio não querendo nada
De cheirar pelas esquinas minha flor nenhuma
Já o grupo vocal MPB4 acompanhado de Chico Buarque foi mais contundente. Os cinco cantaram “Pesadelo”, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro:
Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Depois desse soco na cara da ditadura, Milton Nascimento canta a sua “Cais”, com Ronaldo Bastos:
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E Raul Seixas emenda “Ouro de Tolo”, ataque á hipocrisia de quem lucrava com a ditadura:
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social
Gonzaguinha emenda “Palavra”:
Palavras, palavras, palavras
Eu já não aguento mais
Palavras, palavras, palavras
Você só fala, promete e nada faz
Palavras, palavras, palavras
Desde quando sorrir é ser feliz?
Este álbum antológico reúne preciosidades da música popular brasileira e constitui registro fundamental para que ninguém se esqueça do que representou para o país a ditadura instaurada em 1964. Afinal “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”, como diz o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Por Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB
Vídeo completo do álbum “O Banquete dos mendigos”