Paulinho da Viola faz show gratuito em SP

Paulo César Batista de Faria, o Paulinho da Viola (apelido dado por Zé Ketti e Sérgio Cabral), começou sua carreira bebendo do samba e chorinho de grandes mestres como Pixinginha, Sinhô, Ismael Silva, entre outros. Em seu repertório autoral estão inúmeros clássicos da música popular brasileira. 

Foi um Rio que Passou em Minha Vida

 

O cantor e compositor carioca, que completa 73 anos no dia 12 de novembro, volta a São Paulo onde se apresenta gratuitamente no Sesc Campo Limpo (Rua Nossa Senhora do Bom Conselho, 120 – zona sul) neste fim de semana. Esse show ainda faz parte das comemorações dos seus 50 anos de carreira completados no ano passado. Filho de músicos, ele chegou a trabalhar em banco como contador e cursar faculdade de economia, mas o samba falou mais alto e Paulinho deixou os estudos para seguir carreira na música.

Muito voltado para as raízes da cultura popular, Paulinho dedicou-se ao samba e ao chorinho, gêneros musicais genuinamente brasileiros. Esbanjou sua negritude e sua filosofia de vida em suas composições muito bem entrelaçadas entre melodia e poesia. Na canção “Argumento” dá o seu recado:

“Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim”

Argumento

 

A cantora e pesquisadora Eliete Negreiros defende que Paulinho da Viola produziu canções de “modo decidido e delicado com que trata e sempre tratou nossos assuntos humanos, demasiado humanos, numa época em que a vaidade e a competição tomam conta da alma, onde o mundo parece um supermercado de produtos descartáveis, tendo em suas prateleiras valores e sonhos humanos em liquidação”, no livro “Ensaiando a Canção: Paulinho da Viola e Outros Escritos.” Nenhum tema escapou a um dos principais nomes da MPB. Falou de dores de amores, das questões da mulher, da falta de liberdade, do racismo, da cultura e da música numa metalinguagem e produziu clássicos que compõem o rico acervo da história da música popular. Enfrentou problemas com a censura com diversos colegas seus. Tanto que em 1974, deu para Chico Buarque, que tinha o próprio nome vetado pela censura, gravar a antológica “Sinal Fechado” que deu nome ao disco de Chico. Onde Paulinho cria um diálogo entre dois motoristas parados num semáforo vermelho:

“Olá, como vai ?
Eu vou indo e você, tudo bem ?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você ?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe …
Quanto tempo… pois é…
Quanto tempo…
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios”…

Sinal Fechado

 

O talento de Paulinho da Viola carrega em sua tinta e notas musicais a sonoridade e a temática de um país que clama por valorização de sua cultura nacional e popular, sem ignorar qualquer influência externa em nossa formação. Afinal o papel da cultura é justamente refletir sobre a vida e a realidade, mesmo que muitas vezes se fuja dela. Para Eliete, a obra dele “constrói-se pela dialética entre estes pares de opostos, tensão e relaxamento.” Como em “Coisa do Mundo Minha Nega” onde retrata a trajetória de um músico e sua musa inspiradora e conclui que:

“Hoje eu vim, minha nega
Sem saber nada da vida
Querendo aprender contigo a forma de se viver
As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender”

Numa declaração de amor ao gênero musical mais popular do Brasil, intimamente ligado a identidade nacional, Paulinho canta “Bebadosamba” e homenageia uma constelação de grandes autores:

“Chama que o samba semeia
A luz de sua chama
A paixão vertendo ondas
Velhos mantras de aruanda
Chama por Cartola, chama
Por Candeia
Chama Paulo da Portela, chama,
Ventura, João da Gente e Claudionor
Chama por mano Heitor, chama
Ismael, Noel e Sinhô
Chama Pixinguinha, chama,
Donga e João da Baiana
Chama por Nonô
Chama Cyro Monteiro
Wilson e Geraldo Pereira
Monsueto, Zé com fome e Padeirinho
Chama Nelson Cavaquinho
Chama Ataulfo
Chama por Bide e Marçal
Chama, chama, chama
Buci, Raul e Arnô Cabegal
Chama por mestre Marçal
Silas, Osório e Aniceto
Chama mano Décio
Chama meu compadre Mauro Duarte
Jorge Mexeu e Geraldo Babão
Chama Alvaiade, Manacéa
E Chico Santana
E outros irmãos de samba
Chama, chama, chama”

Bebadosamba

 

Paulinho da Viola se constitui num dos pilares da cultura brasileira com músicas antológicas como “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”, “Coração Leviano, “Recado”, “14 anos”, “Pecado Capital”, entre inúmeros clássicos nas centenas de suas composições. Humilde e sereno, ele conquista plateias sem fazer força, apenas com seu carisma. Está nos devendo um novo disco inteiramente com músicas, o que não faz há 12 anos e não por falta de talento. Paulinho da Viola é uma das expressões máximas do talento brasileiro.

Por Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

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