As 25 mil vozes que entoaram em uníssono o coro “Fora, Beto Richa”, no domingo (3), não eram professores ou servidores da Educação paranaense. Tão pouco pessoas “infiltradas” com o objetivo de tumultuar a ordem pública. Numa mistura vultuosa de cores dos times Coritiba e Operário, o estádio Couto Pereira reverberou toda a insatisfação que domina atualmente a população do estado.
O desgoverno tucano no Paraná é um símbolo que espelha bem a incapacidade de seus líderes em auscultar os movimentos sociais. Na falta de diálogo com os sindicatos, Beto Richa e seu secretário de Segurança implementaram a “política do cassetete”, reprimindo com violência extrema a manifestação dos professores contra uma imoralidade: o confisco de suas previdências.
O Governo de Richa murou covardemente a Assembleia Legislativa do Paraná para que os parlamentares aprovassem, a qualquer custo, uma política que permitisse movimentar o fundo previdenciário superavitário de professores públicos, nublando o futuro destes profissionais por conta de dívidas bilionárias de sua gestão. Indignação mais que justa dos professores!
Bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, uso de cães ferozes e pancadaria foi a resposta de Richa aos manifestantes na Praça Cívica. A truculência da política militar com os professores, que gerou mais de 200 feridos, foi repudiada por toda a sociedade brasileira, junto da Anistia Internacional, entidade que é referência mundial em questão de Direitos Humanos.
É vergonhoso que o governador tucano se isole das demandas sociais e, em plena crise, tente usar da premissa que os professores fazem uso político ao tentarem resguardar seus direitos previdenciários. É travestir a realidade numa tentativa de justificar o injustificável.
A estratégia de Beto Richa não é única. Também tem sido a escolhida por diversos governos que são inábeis quanto às demandas de trabalhadores e movimentos sociais, como já ocorrido em São Paulo, no Governo Alckmin e no Rio de Janeiro, no Governo Sérgio Cabral. Ambos usaram da força policial para imprimir suas vontades políticas e reprimir as manifestações numa clara incapacidade de dialogar com o povo. Esse panorama só reforça a tese de que a relação Estado e sociedade precisa ser revista, principalmente acabando com a militarização das polícias, fruto de regimes autoritários. É preciso aprovar no Parlamento propostas que mudem esse conceito tão atrasado.
Nossa solidariedade aos milhões de professores que lutam por suas pautas em todo o País. Pautas que passam pela sua valorização enquanto profissional fundamental para qualquer país que almeje o desenvolvimento e cidadania plena. O Brasil percebeu novamente que o mantra entoado pelos líderes da oposição sobre “escutar as ruas” só se aplica aos outros. Na teoria, defendem as manifestações e pedem o diálogo. Na prática, seguem o ABC da violência de Estado, consolidada na Ditadura Militar.
Jandira Feghali é deptuada federal pelo PCdoB-RJ e líder do PCdoB na Câmara dos Deputados.
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