As imagens que chegam hoje de Curitiba, em pleno 2015, não são diferentes da selvageria praticada pela policia de Chicago contra os trabalhadores, 129 anos atrás.
Em maio de 1886, cerca de 100 mil trabalhadores entraram em greve na cidade de Chicago, então o principal centro industrial dos Estados Unidos. A bandeira de luta do movimento era uma jornada legal de trabalho de oito horas diárias (oito horas de trabalho, oito de lazer e oito de repouso). Naquela época, jornadas de 16 horas diárias eram práticas amplamente comuns e o único limite para a duração diária do trabalho era o esgotamento físico do trabalhador.
Sem capacidade de diálogo e de entendimento, as forças patronais e o governo daquele país ordenaram que a polícia sufocasse o movimento. A violência dos policiais contra os trabalhadores deixou seis trabalhadores mortos e centenas de pessoas feridas. Os líderes da luta por uma jornada minimamente humana de trabalho foram presos. O julgamento foi severo: quatro foram condenados à morte e enforcados, um suicidou-se na prisão e três pegaram prisão perpétua.
Instituído em 1889 num congresso socialista realizado em Paris, em homenagem aos trabalhadores assassinados em Chicago, data de 1º de maio passou, então, a ser encarada como o dia internacional de luto e de luta dos trabalhadores.
Não há dúvida de que, a despeito dos avanços conquistados, o choque de interesses entre patrões e trabalhadores ainda é uma realidade evidente e cristalina. No capitalismo, não há chance para a liberdade do trabalhador e da trabalhadora lutar por condições dignas quanto a salários, jornada, salubridade, segurança, saúde e direitos individuais e coletivos.
As imagens que chegam hoje de Curitiba, em pleno 2015, não são diferentes da selvageria praticada em Chicago, 129 anos atrás. Professores agredidos, mães com crianças fugindo de bombas de gás e balas de borracha disparadas a mando do governador tucano Beto Richa (PSDB). O uso covarde e desproporcional da força ainda é o único argumento de quem governa e manda sem capacidade de diálogo e entendimento.
Em São Paulo, depois de mais de 45 dias de greve dos professores estaduais, outro governador tucano, Geraldo Alkmin (PSDB), usa a brutalidade do silêncio e agride os professores e a sociedade civil com a crueldade de quem aposta no impasse e no prolongamento da greve para condenar os trabalhadores.
Para completar a opressão, a tirania e o constrangimento contra os trabalhadores, a pressão do empresariado fez a Câmara dos Deputados aprovar o famigerado PL 4330. De autoria de um deputado que nem mais é parlamentar, Sandro Mabel, a proposta promove o desmanche da CLT, libera geral a terceirização em qualquer atividade, levando a precarização irreversível de todo o trabalho em nosso país.
Ninguém se faça de surpreso. A origem do Primeiro de Maio mostra que não é de hoje que o trabalhador vem sendo fustigado por todos os tipos de armas usados por uma classe dominante e patronal sem o menor escrúpulo ou senso de justiça.
A tendência natural das elites é a tirania, a maximização dos lucros e da exploração dos trabalhadores e a “socialização” dos prejuízos e das crises que a própria elite fabrica. Por isso, o Dia Internacional do Trabalhador para nós é um dia de muita conscientização, de mobilização e de muita luta contra o retrocesso. Que este 1º de Maio represente a retomada da autoconfiança dos trabalhadores e do povo brasileiro, que faça renascer o debate político, contra os extremismos praticados e propostos pelas forças reacionárias e conservadoras.
Wagner Rodrigues é Vice Presidente da União Internacional Sindical (UIS) – Serviços Públicos (Trade Union Internacional), Presidente da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Públicos Municipais do Estado de São Paulo (FTM-SP) e Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto