As condições objetivas sobre as quais se deram a reeleição da presidenta Dilma Rousseff precisam ser revisitadas. Afinal, foram meses de uma disputa renhida, fratricida e com um elevado grau de rebaixamento político incitado pela direita brasileira.
Um sofisticado consórcio oposicionista liderado pela grande mídia reeditou, em escala ainda maior contra o atual governo, as mesmas conspirações utilizadas contra os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. O “pecado” desses projetos, não por coincidência, desagradam até hoje os interesses da fração poderosa da elite nacional. Desde o dito mensalão que eles operam para constituir um ambiente social anti-PT. O resultado dessa estratégia atingiu seu ápice em pleno processo eleitoral e influenciou – apesar de épica – a magra vitória da presidenta Dilma. O PT foi o mais impactado, deslocando-se até mesmo de camadas trabalhistas e vive hoje, o seu pior momento perante a opinião pública.
Além dessa contraofensiva, as condições objetivas do nosso povo começaram a sofrer limitações e mexeu com sua perspectiva. O modelo centrado no crédito e no consumo das famílias atingira seu esgotamento. As novas aspirações sociais foram obstaculizadas pelas limitações do necessário, mas insuficiente investimento. A presidenta Dilma recuou dessa direção.
Acrescente-se ainda a essas contradições, o fato de a economia brasileira ter recebido com força a visita dos efeitos da crise internacional. Uma realidade objetiva que nem mesmo a China conseguiu escapar.
Percebe-se que a envergadura desse enfrentamento não exige apenas a luta por uma estrutura óssea partidária. Apesar dessa direção ter razão, mas quando conduzida como estratégia central, alimenta o jogo das particularidades e as facilidades descabidas. Ou o PT – maior partido dessa coalisão progressista- lidera um necessário novo projeto nacional de desenvolvimento ou continuaremos patinando, ou seja, sob riscos, entre idas e vindas de resultados conjunturais.
Essa conquista, mesmo contida, foi histórica por ter se dado nessas circunstâncias mais gerais.
UMA NOVA REALIDADE PÓS-ELEITORAL
A consequência desse conjunto de fatores, é que, a partir do dia 27.10.14 configurou-se no país uma delicada situação política, econômica e social, colocando em xeque os destinos do ciclo Lula-Dilma: Um quadro econômico internacional que condiciona o desempenho da nacional; uma oposição fortalecida e com base social; o principal partido condutor atônito e isolado frente aos ataques recebidos e sua base social popular dispersa e insegura.
Agrega-se ainda a instrumentalização pela direita– seja para paralisar o país ou para desconstituir a presidenta – dos fatos ocorridos na Petrobrás. Situação ainda com desdobramentos em aberto.
Aproveitando-se deles, Fernando Henrique e José Serra – PSDB – propagandeiam o impedimento da presidenta Dilma Rousseff e recomendam “pareceres”, como o do “imparcial” jurista Ives Gandra publicado em página destacada na Folha de São Paulo, que “sustenta” o comprometimento da presidenta com a situação da estatal.
No que pese os erros da condução governamental, a vitória do Deputado lobista Eduardo Cunha, PMDB-RJ, foi quase que uma tendência natural diante desse contexto.
Nunca é pouco lembrar que as vitórias eleitorais presidenciais que tivemos ao longo desses últimos dozes anos, não significaram a derrocada ou o aniquilamento político de nossos adversários, ainda mais quando por margens apertadas. As forças que vencemos ainda detém o efetivo poder político em nosso país. Estão entranhados na superestrutura do Estado e não aceitam suas contínuas derrotas. Por isso elevam o tom da conspiração e radicalizam contra a atual mandatária presidencial.
NOVA ENCRUZILHADA
Mais uma vez o país depara-se, através do mandato da presidenta Dilma Rousseff, com mais uma encruzilhada política: Ou radicaliza na aplicação literal do seu programa de campanha ou concilia, mesmo que parcialmente, para acumular novas forças.
A nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda – expressão apaixonada pela ortodoxia econômica – evidenciou a escolha diante desse impasse. Uma opção com forte risco aos propósitos de um projeto progressista que precisa continuar.
Não condeno todas as concessões como se um rompimento de princípio fosse, pois lhes admito em circunstâncias políticas desfavoráveis. Ou seja, numa condição que independa de nossas vontades, mas que se imponha como uma flexão necessária. No caso em curso, estou cético quanto ao método e, sobretudo, quanto à dosagem aplicada.
O QUE FAZER?
Lênin apontou os referenciais metodológicos e políticos para superarmos os grandes impasses. Um deles é reconhecer a realidade concreta e atuamos em seu leito para superá-la. Nessa perspectiva a pressão popular torna-se mais do que nunca como decisiva para sairmos da defensiva política.
O movimento social identificado com o projeto Lula-Dilma deve elevar ainda mais o seu protagonismo político, pois está na ordem do dia articular uma ampla unidade com setores dessa afinidade programática. A dispersão ou a centralidade corporativista devem ser deslocadas. Ao mesmo tempo, essa diretriz minimiza os riscos por um viés voluntarista, amicíssima da idealista, irmã do esquerdismo infantil.
Essa perspectiva urge ação imediata, pois se opera no Brasil um intento antinacional, que sob o beneplácito da operação lava-jato, visa paralisar uma das maiores empresas de energia do mundo, a Petrobras, além dos maiores conglomerados que atuam nas atividades pesadas no país. Tentam atribuir a estatal a responsabilidade pelos condenáveis malfeitos de uns poucos. Uma tática que prevê a sua fragilização e nessa condição, retirá-la de suas funções estratégicas, sobretudo para o desenvolvimento das reservas do pré-sal.
O êxito dessa gente significaria o aprofundando ainda maior da já crítica desindustrialização brasileira. Contra esse possível cenário encontramos aliados políticos e industriais. Lideremos essa convergência e evitemos que o nosso país mergulhe na estagnação e na subordinação plena aos interesses rentistas.
A América Latina e o Caribe entraram em sua segunda fase de seu inédito ciclo político. Também por isso, os projetos democráticos e populares enfrentam maiores desafios e, sobretudo, a reação estadunidense patrocinando a radicalidade política. Pelo seu papel estratégico regional, o Brasil enfrenta sem tréguas esses ataques, desenvolvendo uma ambiência política que agudizará a luta de classes no país.
Venceremos!
Mãos à obra companheiras e companheiros!
Divanilton Pereira é secretário de Relações Internacionais da CTB, diretor da Federação Única dos Petroleiros e do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Norte e Membro do Comitê Central do PCdoB.
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