Nesse domingo 11 de janeiro, cerca de 4 milhões de pessoas saíram às ruas na França em repúdio ao terrorismo e à intolerância. A manifestação histórica pela liberdade de expressão e pela democracia homenageou as 17 vítimas dos três ataques terroristas- entre eles as 12 pessoas que morreram em um atentado contra a sede do jornal de esquerda satírico “Charlie Hebdo”. Ateus, católicos, judeus ou muçulmanos, temendo uma onda de islamofobia e de antissemitismo, participaram da marcha contra “todas as formas de racismo.”
No quadrado VIP ao lado do presidente François Hollande, encontravam-se uns 40 líderes mundiais. O Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ-CGT), questionou “a presença na procissão de representantes de países onde os meios de comunicação são amordaçados e jornalistas regularmente reprimidos e presos.” Efetivamente como justificar numa marcha pela liberdade de expressão, a presença de Ahmet Davotoglu, Premier da Turquia, uma das maiores prisões de jornalistas; ou de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, enquanto 16 jornalistas palestinos foram mortos em 2014 pelas forças de segurança israelenses.
O sindicato SNJ-CGT lembra que “118 jornalistas e profissionais da imprensa foram mortos em 2014. E entre as primeiras vítimas de 2015 estão os jornalistas iemenitas e tunisinos.” Ao mesmo tempo, devemos de examinar a política de venda de armas da França, que tem relações muito amistosas com países cúmplices do Islã radical.
A comunidade muçulmana francesa que soma entre 5 e 6 milhões teme o risco de confusão entre os fundamentalistas e o Islã. Em efeito, mais de vinte ações anti-muçulmanas foram registradas na França desde o ataque contra Charlie Hebdo anunciou essa segunda-feira 12 janeiro o Conselho Francês contra a islamofobia.
A crescente popularidade do partido Frente Nacional de ultradireita e do fundamentalismo religioso se alimentam dos mesmos problemas: a crise econômica, a injustiça social e a ignorância. Ambos os fenômenos resultam de um sentimento de exclusão e rejeição. Gilles Leproust, prefeito do Partido Comunista Francês de Allonnes chamou a atenção sobre o fato que a escola francesa, conhecida por ser um lugar onde as desigualdades sociais mais se sentem tem uma pesada responsabilidade. Ele declarou que “a melhor maneira de lutar contra o obscurantismo é garantir um acesso à educação e à cultura, e não apostar numa política de segurança.”
A pátria mãe francesa ainda não pediu desculpa pelos séculos de colonização e de escravidão, um profundo questionamento e um doloroso trabalho de autocrítica serão necessários para permitir a plena integração dos seus filhos de ascendência árabe e africana. Para evitar a divisão, a ignorância e o obscurantismo, França tem de se assumir como uma nação multicultural e multirracial. Só assim será possível ter um nação que represente dignamente o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”
Jenny Dauvergne é assessora da secretaria de Relações Internacionais da CTB
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