A Indústria Naval Brasileira emprega hoje, aproximadamente, 80 mil trabalhadores. Nos próximos anos o Plano de Negócios da Petrobras prevê a construção de 38 plataformas, 88 petroleiros, 28 sondas de perfuração e 146 barcos de apoio. Estas encomendas têm potencial de gerar mais de 20 mil postos de trabalho. Entretanto, isso só acontecerá se elas continuarem sendo feitas no Brasil. Para isso, é de extrema importância a continuidade da política de conteúdo nacional que, ao mesmo tempo, precisa ser ampliada e aprimorada. Tem que ser acompanhada durante todo o processo de construção das encomendas, pois atualmente isso acontece apenas nos certificados finais das obras.
O Brasil e a Petrobras – a nossa empresa mais importante – precisam entender e assimilar que construir no Brasil pode até ficar mais caro em um primeiro momento, pois não estamos construindo apenas petroleiros, plataformas ou barcos de apoio, estamos planejando um novo Brasil, com novos profissionais, mais qualificados. Estamos colocando a nossa nação em um novo patamar perante o mundo. Temos que ter em conta o impacto positivo na vida de milhares de famílias que hoje possuem um emprego melhor. É significativo também deixar claro que o aumento do número de encomendas faz com que as obras tenham preços finais menores, principalmente pelo desenvolvimento tecnológico e de gestão, que rebaixa os custos.
A política de conteúdo local precisa fomentar o surgimento de indústrias de navipeças, formar uma ampla rede de fornecedores para este setor. A Indústria Naval tem potencial para ser no Brasil o que a indústria automobilística foi, e em alguns casos ainda é, na Alemanha, Itália e EUA. O Brasil possui mais de oito mil Km de costa, o que nos obriga a, no mínimo, sermos uma grande referência mundial neste segmento industrial. Potencial não nos falta!
Da mesma forma, não podemos fechar os olhos para os problemas existentes, que são muitos e variados. Os aditivos de contrato que não são honrados pela Petrobras e que quebram várias empresas de médio porte, onde o prejuízo na maioria das vezes acaba nas mãos dos trabalhadores, a sede insaciável por maiores percentuais de lucro, que acomete grande parte do empresariado nacional, e a velha política do jeitinho que acaba levando a grandes escândalos de corrupção, são apenas parte dos problemas que precisamos enfrentar, com serenidade, firmeza e com a convicção da importância deste projeto que é do Brasil e dos brasileiros.
É preciso identificar e punir com o rigor da lei os corruptos e os corruptores que se locupletaram do dinheiro público, estando eles em empresas públicas ou privadas. Porém, se faz necessário separar as instituições das pessoas físicas. Vejamos o caso da SBM Offshore, empresa holandesa que pode ser proibida de realizar novos negócios com a Petrobras. A SBM tem participação no estaleiro Brasa, em Niterói, e encomendas com a Ebse, que constrói no canteiro da Nuclep. A saída desta empresa significaria a perda de centenas de empregos. Na Holanda, esta empresa fez acordo e pagou multa para não ser processada.
No nosso caso, a Petrobras, uma das principais empresas do mundo e orgulho dos brasileiros, neste momento é manchada por diversas denúncias. Mas esta situação não pode frear o desenvolvimento da nossa indústria, que depende principalmente da estatal brasileira. Nem mesmo desconsiderar o conteúdo nacional, fator preponderante para a manutenção dos empregos e a aquisição de tecnologia, que nos coloca de igual para igual no mercado mundial.
Alex Santos é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro.
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