O Sindicato dos Trabalhadores da Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) está sendo palco de um dos mais acalorados debates sobre a crise hídrica pela qual o estado vem passando. Para os que olham a crise hídrica por dentro, há um consenso de que a situação de calamidade pública que vem sendo acobertada pelo Governo não tem nada a ver com São Pedro. Seria, primordialmente, um exemplo de péssima gestão – e com consequências que vão desde o mercado de trabalho até a saúde da população.
“Como pode uma empresa cujo objetivo principal é vender um produto – a água – educar os consumidores para economizar? É uma contradição!”, disse o presidente do Sintaema, Renê Vicente. “Esse governo sabe dos problemas crônicos enfrentados pela Sabesp e não tomou as providências. Ele adotou um sistema em que a Sabesp fica apenas remendando [as tubulações] e não reforma o sistema com novas tecnologias”, acusou. A divisão de lucros entre os acionistas, em detrimento do bem estar da população, é uma realidade desde a abertura das ações da empresa desde 2002 – em 2014, em meio ao caos, ela tem projeções de remeter ao exterior R$ 1,9 bilhão em lucros.
Entre os corredores do sindicato, é de conhecimento amplo dos funcionários envolvidos na questão da água que mais de 25% do recurso é perdido antes mesmo de o usuário final abrir a torneira, por conta de vazamentos e fraudes. Renê explica que o problema vai além: “O governo não fez os investimentos necessários em busca de recursos hídricos de outras bacias, na ampliação da armazenagem da agua para o abastecimento humano em torno da região metropolitana”.
O sindicalista Onofre Golçalves, da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, dá enfoque na omissão do governo Alckmin diante dos protestos do corpo técnico da Sabesp, que desde 2013 tenta criar um plano de contingência. Ele manifestou particular preocupação com as crises de diarréia que começam a aparecer no interior, que já usa os volumes mortos de suas reservas há muitos meses. “Há uma concentração enorme de metais nessa água, teremos graves problemas de saúde pela frente”, disse. O inevitável uso desses reservatórios, segundo ele, vai muito em breve passar a sobrecarregar o SUS, principalmente por casos de intoxição e desidratação.
Para Francisca Adalgisa Silva, da Diretoria de Sistemas Regionais da Sabesp, o problema seria revertido sem grandes dificuldades com um modelo de oferta mais equilibrado por parte da empresa, que sabe há muitos anos do excesso de demanda em algumas regiões do estado. O manancial PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí), por exemplo, opera no dobro de sua capacidade de reposição há anos. “Ao invés de fazer algo a respeito, o governador Alckmin nos tira o direito de corrigir os problemas. Ele chegou ao ponto de esvaziar a última reunião do Comitê de Bacias Hidrográficas para evitar a formalização das acusações, cancelando a reserva do auditório algumas horas antes”, revelou.
Sem poder fazer nada a respeito, os funcionários seguem trabalhando da mesma forma que levou o estado à situação trágica em que se encontra. A única diferença é que, agora, sofrem hostilizações diárias de pessoas cada vez mais insatisfeitas com a situação insustentável da falta de água, que ainda tem mais um ano de estiagem pela frente. “A crise da água é grave e se não forem tomadas medidas emergenciais o sistema vai entrar em colapso. Não podemos deixar que isso ocorra porque água é vida. Por isso pedimos que a população se informe para ter a real dimensão desse problema”, alertou Nivaldo santa, vice-presidente da CTB e especialista no tema.
Por Renato Bazan, publicado no jornal Olho Crítico ed. 05