Nesta quinta-feira (6), alunos de mais de 80 escolas e universidades em todo o México paralisaram as atividades, em uma greve prevista para durar 72 horas. Eles se uniram aos protestos que vêm sendo realizados no país para pedir que os 43 jovens desaparecidos no dia 26 de setembro em Iguala, no estado de Guerrero, sejam encontrados ainda com vida. Familiares alertam que o governo mexicano pretende encerrar o caso e oficializar a morte dos jovens.
Na quarta (5), cerca de 30 mil pessoas participaram da marcha realizada na Cidade do México. “Foi o Estado”, gritavam os manifestantes, em referência ao fato de os jovens terem sido entregues ao cartel Guerreros Unidos pela própria polícia, a mando do ex-prefeito de Iguala José Luis Abarca e sua esposa, María de los Ángeles Pineda. Os pais dos estudantes, que se reuniram com o presidente Enrique Peña Nieto na última sexta-feira (30), seguem descrentes da ação governamental. “Se Enrique Peña Nieto não pode [resolver a questão], que saia”, diziam durante a marcha. Eles pedem também que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos intervenha no caso.
Na última terça (4), Abarca e María Pineda foram presos. Familiares dos jovens desaparecidos, porém, consideram que enquanto os jovens não forem encontrados vivos, “não há resultados” a serem apresentados. Um dos pais presentes na marcha disse ao jornal local Excelsior que se o “quebra-cabeças está mesmo completo” a partir da prisão do político e da esposa, então “queremos respostas, porque as 43 famílias em vez de chorar estão enfadados pelas mentiras de todos os dias”. Os pais reclamam da falta de informações, apesar do compromisso firmado pela Presidência de lhes repassar tudo o que for descoberto sobre o caso em primeira mão. Primeiro os buscaram em valas comuns, depois em um rio e logo em um lixão. “Não vamos permitir outra mentira”. Eles também se recusam a aceitar que os filhos estão mortos: “de maneira descarada pretendem encerrar o caso com uma coletiva de imprensa onde vão anunciar que os estudantes estão mortos. Para nós estão vivos”, afirmaram os pais.
Intervenções estão sendo realizadas em todo o país para denunciar que o Estado é o responsável. Estudantes, em conjunto com os familiares, organizam a “Caravana de Indignações”, com o objetivo de articular um movimento nacional para reunir todos os que sofrem com o desaparecimento de familiares. O problema é crônico no país. Nos últimos oito anos, 52.941 pessoas desapareceram. Familiares de 22.322 deles ainda esperam resposta sobre o paradeiro dos parentes, segundo dados da Secretaria de Governo do Sistema Nacional de Segurança Pública.
A falta de respostas por parte do governo tem inflamado ainda mais os discursos e as mobilizações pela localização dos jovens. A Frente Indígena de Organizações Binacionais considerou que a falta de esclarecimento sobre o desaparecimento dos jovens e a possibilidade de que sejam encontrados com vida “demonstram o fracasso do governo federal mexicano diante do crime organizado”.“No México é mais perigoso ser estudante do que narcotraficante”, diz um cartaz escrito por alunos e colocado nas escadas da Universidade Iberoamericana, na Cidade do México.
Vanessa Martina Silva, no Opera Mundi