O cenário de teatro independente cresceu nos últimos anos em São Paulo, mas não acompanhou a especulação imobiliária. A Lei de Fomento ao Teatro, em vigor desde 2002, já tentou corrigir esse problema, com verbas de editais que chegavam a R$ 700 mil da Prefeitura de São Paulo. Mas as companhias que conseguiram levar adiante o projeto de abrir suas próprias sedes hoje passam dificuldades para pagar o aluguel.
Os Satyros, Club Noir, Cia. Livre, Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, Commune e Os Fofos, companhias veteranas do teatro independente de São Paulo, são alguns grupos que usaram parte de verbas repassadas pela Secretaria Municipal de Cultura para investir em infraestrutura. A situação piora porque as verbas dos editais duram dois anos, e os recursos (bilheterias, patrocínios) não são suficientes para bancar os espaços.
“O teatro não consolidou um público amplo. Não criou uma tradição que tenta se firmar agora. O público acha caro pagar 30, 40 reais numa peça, quando tem a TV e outros entretenimentos”, afirma Welington de Andrade, crítico de teatro.
A ausência de políticas públicas efetivas direcionadas aos pequenos e médios grupos de teatro levou à criação do Movimento dos Teatros Independentes (MoTIn). O grupo já se reuniu com o secretário de cultura da cidade de São Paulo, Juca Ferreira, e com a ministra da Cultura, Marta Suplicy. Duas ações foram definidas: um mapeamento cultural dos teatros da cidade e um seminário internacional para discutir políticas públicas e estratégias de gestão para a área. Ainda sem números oficiais, o grupo estima que São Paulo tenha atualmente entre 150 e 160 espaços, que variam de 20 a 400 lugares.
“A cultura e o lazer estão perdendo a batalha contra a especulação imobiliária em São Paulo”, disse Rudifran Pompeu, presidente da Cooperativa Paulista de Teatro. “O despejo recente do teatro CIT-Ecum na Consolação e o provável fechamento do Brincante, na Vila Madalena, não são novidades: já aconteceu com o Cine Belas Artes, que só foi reaberto depois de muita pressão social”.
A Secretaria Municipal de Cultura fez um pedido de estudo de vinte e dois teatros independentes para registro como patrimônio cultural ou tombamento, entre eles: Teatro Heleny Guariba, Cia da Revista, Teatro Commune, Club Noir, Teatro do Incêndio. A campanha #TeatroNãoSeAbandona conseguiu mobilização na internet e o Conpresp – Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental – aprovou o registro como bem cultural imaterial dos 22 grupos teatrais. É a primeira declaração do poder público de que essas companhias são parte do patrimônio cultural da cidade e devem ser preservadas.