Repetindo a máxima do general nazista Joseph Goebbels de que uma mentira muitas vezes repetida acaba virando verdade, a mídia comercial brasileira não se cansa de atacar o governo Dilma diariamente, sem nenhum compromisso com os fatos reais. Não se publica nas páginas dos jornalões ou das revistas ditas “informativas” nada favorável a Dilma e quase nada contra o outro candidato. Na tevê a coisa é mais séria. Os telejornais, que mais se assemelham a programas humorísticos, fazem verdadeiro terrorismo aos eleitores. Por isso, anos atrás, o jornalista Paulo Henrique Amorim criou a sigla PIG – Partido da Imprensa Golpista -, em referência à maioria dos órgãos comerciais da mídia.
A bola da vez é a Petrobras que tem um ex-diretor investigado pela Polícia Federal por atos ilícitos. Ao aderir à “delação premiada” o ex-diretor, contratado por Fernando Henrique Cardoso e demitido por Dilma, tem seus supostos depoimentos, que estão sob sigilo de investigação, divulgados de acordo com os interesses da mídia. Para impedir a reeleição de Dilma, a mídia ignora o fato de Paulo Roberto Costa ser bandido e dá ares de verdade absoluta a suas elucubrações.
Mas essa tática golpista da mídia não é novidade. Após ataques sistemáticos de boa parte da mídia, Getúlio Vargas se suicidou em 1954. Essa foi a forma que o ex-presidente encontrou para barrar a trama golpista contra o seu governo que se voltava contra os interesses imperialistas no país. Naquele tempo, a televisão ainda não tinha grande penetração popular, a internet não existia e o rádio era o veículo mais forte.
A estratégia funcionou 10 anos depois e o golpe se consumou com a mesma desculpa esfarrapada de combate à corrupção, derrubando o governo de João Goulart, inclusive com a omissão midiática de pesquisa de opinião, amplamente favorável ao governo constitucionalmente eleito. O combate à corrupção foi uma fraude. Os ditadores pegaram o país com uma dívida externa de US$ 3 bilhões e 21 anos depois foram tirados do poder com a dívida brasileira em US$ 100 bilhões.
As farsas da Globo
Com o enfraquecimento da ditadura ocorreram eleições diretas para os governos estaduais em 1982. No Rio de Janeiro, o favorito era o desafeto dos Marinho, Leonel Brizola. A Globo montou uma apuração paralela e, como o voto não era eletrônico, tentou fraudar o resultado divulgando dados do interior, dando vitória a outro candidato e ignorando os votos da capital fluminense, amplamente favoráveis a Brizola. Para o bem da democracia, o PDT (partido de Brizola) também montou apuração paralela e desmontou a farsa global.
Em dia 25 de janeiro de 1984, mais de 300 mil pessoas se reuniram na Praça da Sé (e eu estava lá), para exigir a aprovação da emenda constitucional que restituía o voto direto para presidente, no movimento denominado Diretas Já. O “Jornal Nacional”, da Globo, noticiou o evento como se fizesse parte das comemorações do aniversário de São Paulo. A emissora nunca assumiu essa mentira. A emenda foi derrotada, a eleição direta não veio, mas a ditadura acabou no ano seguinte pelo voto indireto do Parlamento.
Já na primeira eleição presidencial pelo voto direto em 1989, a intromissão da mídia foi total. Os empresários da comunicação transformaram o governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, no “Caçador de Marajás” e, mesmo em partido minúsculo e sem coligação, Collor foi ao segundo turno das eleições. Como a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva não parava de crescer, o “Jornal Nacional” (sempre ele) transmitiu o depoimento de Miriam Cordeiro dizendo que Lula havia pedido para ela abortar a filha de ambos. Collor utilizou a ex-namorada de Lula em seu horário eleitoral. Era tudo mentira. Descobriu-se depois que essa senhora levou dinheiro para expor publicamente a sua filha Luriam, na época com 15 anos. A Globo jamais assumiu o seu “erro”.
Como, mesmo assim, a candidatura Lula não parava de crescer, as mentiras corriam soltas. Os veículos de comunicação alardeavam o terror para a economia e para a propriedade privada no país caso ocorrresse vitória de Lula. O então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Mario Amato, afirmou que “se Lula for eleito, 800 mil empresários deixarão o país”. Também era mentira. Como nada funcionava, o “Jornal Nacional” (sempre ele) fez uma edição do último debate do segundo turno, quando já não havia tempo para o “direito de resposta”, mostrando Collor sempre altivo e Lula nocauteado.
Collor assumiu o governo em 1990. Dois anos depois saia pela porta dos fundos. O “Caçador de Marajás” promoveu um grande desastre na economia com abertura escancarada do mercado em prejuízo total para a empresa nacional. Sofreu o primeiro impeachment da história republicana. Em 1994, o partido da mídia continuou vencendo. Elegeu FHC em 1994 e em 1998. Com os péssimos resultados da gestão do PSDB, Lula veio forte para a disputa eleitoral de 2002.
Desemprego nas alturas, juros altíssimos, salário mínimo entre os piores da história deram vitória a Lula. O primeiro operário eleito presidente da República no Brasil governou o país por 8 anos com ampla aprovação popular (superior a 80%). Mas governou sob intenso ataque midiático do começo ao fim. O sucesso de Lula elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, a primeira mulher a dirigir o país. O preconceito contra a pouca escolaridade de Lula e à sua origem humilde nunca abandonaram os veículos de comunicação.
A mídia nunca deu trégua. Na eleição de 2006, quando a internet ainda não tinha a força de hoje, os jornalões publicaram foto, muito bem ajeitada, de um monte de dinheiro, como se isso incriminasse Lula na suposta corrupção, que a mídia apelidou de “mensalão”. Essa foto deu à mídia o fôlego de tentar alçar a candidatura Alckmin para o segundo turno. Mas como era tudo mentira, o eleitorado voltou para Lula e o presidente foi reeleito. Em 2010, Dilma ganhou também em segundo turno, mas a mídia tem sido implacável com seu governo.
Em 2011, o ator José de Abreu soltou um twitter com a afirmação de Roberto Civita, dono da editora Abril, de que “não tem trégua, vou derrubar Dilma!”, em diálogo com um dirigente petista. A revista “Veja”, ainda carro-chefe da editora, nunca publicou notícia boa sobre os governos Lula e Dilma, mas contra sempre, mesmo sem checar fontes e informações. A Abril esteve envolvida no escândalo envolvendo o empresário e bicheiro Carlinhos Cachoeira, mas assim mesmo desvirtuou o assunto, mobilizou lobistas e até hoje não explicou as dezenas de matérias “plantadas” pelo bicheiro na revista. Também nunca explicou as “reportagens” em defesa do banqueiro envolvido em falcatruas Daniel Dantas.
Os telejornais repercutiam as capas da “Veja” sem nenhum questionamento e em período eleitoral vale tudo para aporrinhar a candidatura popular. A mídia criminaliza o movimento social, sindical, estudantil e preconiza o pensamento único como verdade absoluta e não admite contestações.
A única válvula de escape, mesmo que restrita, tem sido a internet, onde há certa gama de publicações questionando inclusive a mídia comercial. O que salvou da fraude a eleição de 2010 foi a internet. Desde o caso da “bolinha de papel” na cabeça do candidato tucano José Serra até as sistemáticas acusações de corrupção, sem provas, no governo Lula. Dilma venceu e não teve trégua.
Neste ano, a voracidade midiática vem com força total. A eleição é decisiva para o futuro do país. Os empresários da mídia estão com fome de poder, do qual estão fora há 12 anos. Isso explica a ferocidade e o desrespeito com que tratam a presidenta Dilma. Em 1989, a mídia golpeou a vontade popular. Será que em 2014 a farsa se repetirá como tragédia?
Por Marcos Aurélio Ruy, publicado original no Olho Crítico ed. 4