O Brasil não está à venda

O Brasil, constituído sob um condicionamento político e econômico tardio e dependente, acumulou um passivo de múltiplas dimensões, sobretudo as defasagens sociais típicas de uma nação em desenvolvimento.

Tais circunstâncias históricas repercutem até hoje no padrão de nossa evolução. Um estágio ainda socialmente desigual e com uma base produtiva, mesmo que diversificada, com excelências pontuais.

Essa condição não se formou por uma destinação divina ou pela natureza. Ela é a resultante das lutas que demarcaram os ciclos civilizacionais do nosso país, principalmente o segundo de 1930. Uma batalha até hoje inconclusa.

Por isso, as forças políticas, que outrora disputaram sobre qual projeto o Brasil deveria caminhar, se enfrentam atualmente e sob novas circunstâncias a mesma pauta está em jogo.

Uma virada

O país quando governado pelo PSDB-DEM de Fernando Henrique retrocedeu à república velha e foi colocado não apenas como uma grande fazenda abastecedora agrícola do mundo, mas também como mero quintal dos ditames do mercado financeiro internacional e seus acéfalos. Não à toa o FMI e o Banco Mundial ditavam as regras por aqui durante esse período. Esse consórcio financista dirigiu o país através das chamadas cartas de intenções, todas maléficas ao povo e ao patrimônio nacional. Foi a era das privatizações.

Apenas em 2002, o país alcança uma virada histórica e elege, pela primeira vez, um operário à Presidência da República. Luiz Inácio Lula da Silva descortinou um novo ciclo político, econômico e social para o povo brasileiro. O êxito alcançado criou as bases para o mesmo projeto eleger, pela primeira vez, uma mulher para conduzir uma nova etapa. Dilma Rousseff é a expressão máxima da capacidade das mulheres brasileiras e a que reúne as melhores condições para introduzir o nosso país a um soberano e próspero terceiro ciclo civilizacional.

Reside contra essa perspectiva a ira e o ódio de classe da elite brasileira contra a Dilma. A frase dita por um de seus importantes integrantes, o banqueiro Jorge Bornhausen – o mesmo que hoje lidera e financia a candidata Marina Silva – é revelador desse preconceito: “Vamos nos livrar dessa raça por uns 30 anos”.

Portanto, a eleição presidencial deste ano é o desenvolvimento histórico entre essas visões que disputam o futuro do Brasil. São os dois e únicos polos sobre os quais se galvaniza essa batalha eleitoral.

O pragmatismo e suas aparências

As campanhas eleitorais assumem, cada vez mais, o pragmatismo, a difusão eletrônica e o insuficiente debate programático. A forma tem se tornado o foco em detrimento de estimular o conhecimento da essência das propostas. A antidemocrática legislação eleitoral em vigor e um sistema midiático oligopolizado e desregulado são as promotoras maiores desse “espetáculo”.

As forças políticas, já anteriormente identificadas com o conservadorismo, aproveitam-se disso e fogem do debate de ideias. Eles afrontam a inteligência popular e tentam criar um clima em que baste apenas especular genericamente o que fariam.

Evitam identificar seu lado e não explicitam como realizarão concretamente as propostas apresentadas. Ou seja, fogem de apresentar o como fazer.

Os anseios populares é uma constante
 
O povo escolheu Lula, em 2002, sob grandes expectativas mudancistas e teve as suas condições sociais e econômicas melhoradas, mesmo que ainda permaneçam importantes lacunas. Esse legado também foi responsável por eleger a presidenta Dilma, mas não apenas por isso. Esteve presente o sentimento de obter mais mudanças e a ela foi dada a tarefa de realizá-las.

Mesmo que inserida numa das maiores crises capitalistas da história – desconhecida pelos populares – a presidenta Dilma realizou importantes avanços desenvolvendo o atendimento à base de nossa pirâmide social e a infraestrutura do país.

No entanto, mesmo no curso dessa histórica mobilidade social, o clamor por novos anseios continua e tornou-se uma constante. Faz parte da aspiração humana e, particularmente numa nação com defasagens sociais múltiplas.

Aproveitando-se desse contexto, os presidenciáveis opositores artificializam e insuflam sob a liderança da grande mídia o imaginário popular à descrença generalizada e a falta de perspectiva. Buscam atrair para si o papel de executar suas falsas teses pelas mudanças.
Precisamos disputar a esperança popular em torno de quem tem autoridade e capacidade de alcançá-las, pois quem fez uma gestão mudancista já comprovou que é capaz de continuar avançando a passos mais rápidos, com mais mudanças e mais conquistas. A presidenta Dilma Rousseff, com esse legado, é a única que apresenta o X da questão: o como fazer.

Marina surfa circustancialmente

É nesse ambiente do discurso genérico – acima do bem e do mal- e do falso moralismo usados como senha de atração às camadas médias que surfa a candidatura Marina Silva. É uma onda circunstancial que enfrentará dificuldades na medida em que consigamos aprofundar os debates de como fazer as propostas acontecerem. Momento em que o sistema financeiro, abraçado por ela, mostrará sua face e o seu riso sádico para tentar eleger um “humanismo monetário”.

Inevitavelmente, para efetivarmos um novo salto capaz de atender as novas aspirações populares, exige-se que rompamos o acordo tácito feito pelo PSDB de Fernando Henrique-Aécio Neves dede 1994 com a banca rentista mundial e local. Desde então os banqueiros elevaram seus já fabulosos lucros.

Apenas a presidenta Dilma reafirma enfrentar esses interesses. Ela tem convicção e autoridade, pois já os confrontou durante sua gestão. Retirou do comando do Banco Central o banqueiro Henrique Meireles, alargou as fontes de financiamento, com taxas menores dos bancos públicos, diminuiu os compromissos com o superávit primário em detrimento dos investimentos estruturantes e chegou a baixar as absurdas taxas de juros do país. Uma luta renhida com idas e vindas, pois os banqueiros chantageiam o país e hostilizam a presidenta. Por isso apostam todas as fichas para derrotá-la.

E para cumprir essa tarefa é fundamental assegurarmos o comando do Banco Central, possibilidade já descartada por Marina e Aécio. Recupero dois depoimentos que dão a dimensão da importância estratégica deste banco:

“Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis”. Mayer Rothschild – banqueiro alemão.

“Todo aquele que controla o volume de dinheiro de qualquer país é o senhor absoluto de toda a indústria e comércio, e quando percebemos que a totalidade do sistema é facilmente controlada, de uma forma ou de outra, por um punhado de gente poderosa no topo, não precisaremos que nos expliquem como se originam os períodos de inflação e depressão”. James Garfield – presidente dos EUA

Portanto, temos que denunciar os candidatos que propõem privatizar esse órgão, tornando-o independente da gestão pública brasileira.

O que propõem Marina e Aécio?

Nunca, na história desse país, uma candidatura em plena campanha anuncia a venda do Brasil. Não é exagero.

O ex-presidente FHC pediu durante sua gestão que esquecessem o que ele tinha escrito. Marina Silva ainda em campanha anuncia na pratica o abandono de seus “princípios imexíveis” e assume de vez a pauta da direita – até então apropriada por Aécio Neves.

Aécio em desespero e com receio de perder a prioridade dos banqueiros, anunciou que se eleito, que Armínio Fraga seria o presidente do Banco Central. Um executivo ultraliberal que administra as grandes fortunas da elite brasileira no sistema financeiro norte-americano.

Já Marina Silva, além de ameaçar a exploração do pré-sal para os brasileiros – fonte de financiamento à educação e à saúde pública – aproveita-se da desinformação popular sobre o assunto e defende a independência do Banco Central, ou seja, entregaria ao mercado financeiro o centro decisório do Brasil. Estaria assim terceirizando o controle de um posto estratégico para o país. Uma temeridade que inviabilizaria até a sua suposta agenda mudancista.

Não é a toa que o comando de sua campanha e da governança de seu programa de governo são dirigidos por personagens ligados ao sistema financeiro. Maria Alice Setúbal é herdeira e defensora dos interesses do maior banco privado do país, o Itaú Unibanco. São interesses antagônicos e o Brasil não merece esse destino.

Em nova fase da campanha eleitoral, o interesse de classe fala mais alto e frações da burguesia – mesmo contrariadas – já se deslocam para tentarem o fim de derrotar o povo, justificando o meio Marina.

Essa possibilidade messiânica e conservadora em torno da candidatura Marina Silva se junta às grandes farsas eleitorais de nossa história e sua repetição seria uma tragédia civilizacional.

Ao povo, à classe trabalhadora, à intelectualidade progressista e aos democratas urge a realização de uma marcha nacional em defesa do Brasil e contra o retrocesso neoliberal.

Mãos à obra.

Divanilton Pereira é secretário de relações internacionais da CTB.

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

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