“Ser carteiro atualmente em São Paulo é uma das atividades mais perigosas de todas. Tentamos chamar a atenção das autoridades e da sociedade para a situação de desespero vivida pela categoria”, essa é a afirmação do presidente do Sindicato dos Correios e Telégrafos de São Paulo (Sintect-SP), Elias Cesário, o Diviza, diante da violência vivenciada pelos carteiros na cidade.
Considerada uma profissão que envolve riscos, os carteiros e motoristas que realizam entregas na cidade de São Paulo enfrentam diariamente uma onda de assaltos nas ruas da cidade. Se antigamente o alvo eram cheques e cartões de crédito, hoje, com o aumento de compras on-line, o que atrai os bandidos são os aparelhos eletrônicos.
Os alvos prediletos dos assaltantes são os motorizados que entregam objetos de alto valor, como tablets, televisores de última geração e outros equipamentos tecnológicos, em vans ou caminhonetes, quase sempre juntos de um motorista.
Na maioria das vezes, são acompanhados de escolta de seguranças privados pagos pelos Correios. Mas nem sempre isso é possível devido a uma desproporcionalidade entre o número de carteiros e o de seguranças.
Os números confirmam essa afirmação. De acordo com o Sindicato, no Centro de Entregas de Encomendas de Santo Amaro, Zona Sul, existem quase 100 carteiros para seis seguranças. “O Correio tira de uma região para colocar em outra. A solução é aumentar o número de escoltas”, revela Vagner Nascimento, o Guiné, secretário adjunto de Finanças do Sintect-SP.
Números alarmantes
Diariamente são assaltados nas ruas da cidade entre 20 a 30 carteiros. Alguns até mais de uma vez no mesmo dia. “Eu falei, olha, chegou atrasado. Não tenho mais nada, acabei de ser roubado. Abri o carro para ele confirmar que não tinha nada. Em um dia só queriam me roubar duas vezes seguidas”, revela um carteiro assaltado.
A Zona Sul, de acordo com o sindicato, é a região onde os carteiros se deparam com mais riscos. Capão Redondo, Cidade Dutra e Campo Limpo são alguns dos locais com maior índice de violência na capital. No entanto, os bairros de São Rafael, Itaquera, Itaim (Zona Leste), Brasilândia, Taipas (Zona Norte) e a região do ABC também fazem parte das estatísticas de riscos.
Ricardo Souza, o Peixe, dirigente do Sintect, revela que muitos carteiros também já foram sequestrados e carros incendiados. “Um trabalhador do ABC foi sequestrado e teve sua viatura toda alvejada por bandidos”, revelou o sindicalista ao completar que não é só um problema de Segurança Pública. “A questão é que a empresa investe errado. Foram gastos em torno de 4 milhões com o sistema GR1, que promove o travamento da porta do veículo. Ao invés de trazer segurança, o sistema dificultou o serviço do entregador, inclusive, colocando sua vida em risco. A empresa não está preocupada com a vida do ser humano, mas com o prejuízo”, analisa o sindicalista.
Outra solução adotada pelos Correios diante da pressão do Sindicato foi a implantação de chips que servem para rastrear as encomendas. Os sindicalistas veem com bons olhos a iniciativa, que precisa ser ampliada.
“Essa situação penaliza não só o trabalhador dos Correios, que sofre com os assaltos, mas também toda a população que é prejudicada, por não receber as suas correspondências e encomendas como deveria”, afirma Diviza.
Assaltos: Sofrem os carteiros e a população
A situação já é assumida pelos Correios. Para quem vive em determinados bairros, há uma gravação da estatal afirmando “que o prazo para a sua área de entrega é automaticamente estendido, pois se trata de bairro com restrição devido ao grande número de assaltos.”
Os donos das encomendas que atrasam por conta da violência contra a categoria também se sentem prejudicados pela situação. A autônoma Simone Biondi de Almeida, de 30 anos, moradora do Capão Redondo, Zona Sul, esteve no Centro de Entregas de Encomendas de Santo Amaro, também na Zona Sul, para buscar uma encomenda atrasada há quase 15 dias. “Paguei pela entrega, mas tive de vir buscá-la. É um absurdo. Já avisei ao pessoal dos Correios que vou atrás dos meus direitos no Procon. A gente não pode ser feito de palhaço a esse ponto”.
Cinthia Ribas – Jornal Olho Crítico