A Fifa mordeu a imagem do Brasil

A Fifa não tinha o direito de enfiar seus dentes estragados pela cárie moral das inúmeras denúncias de corrupção na brilhante Copa que o governo e o povo brasileiros realizam até o momento. A exagerada punição ao uruguaio Luís Suárez foi uma mordida não apenas na Nação celeste, mas também um desrespeito aos quase 4 bilhões de habitantes do planeta que assistem aos jogos.

O atleta foi tratado como marginal, dentro do território brasileiro. Nunca na história do Brasil um criminoso, inclusive membros de quadrilhas internacionais que por aqui passaram, recebeu tão sórdido e desumano tratamento. O dano moral ao cidadão Luís Suárez foi muito mais grave que ao atleta, que já foi absurdo.

Suárez e sua família foram expulsos às pressas do país, acompanhado por policiais, teve cassada sua credencial, sem direito sequer a permanecer com os compatriotas. Só faltou algemá-lo. Uma violência ao direito internacional e a uma Nação amiga.

O atacante foi violentado em seus direitos mais elementares por uma entidade privada. Banido da Copa 2014, proibido de atuar em partidas de futebol por quatro meses no mundo e pena pecuniária relevante. Prejuízo que jamais será reparado.

Penso ser, agora, papel do Palácio do Planalto pedir desculpas públicas ao governo de Montevidéu pelo desrespeito a um cidadão uruguaio. É o mínimo que o Itamaraty poderá fazer para reparar o dano, inclusive à imagem do nosso mundial. A Copa não pertence à Fifa, embora os direitos legais; pertence ao povo brasileiro.

A altivez diplomática tem sido um dos pontos altos dos governos Lula e Dilma. A presidente não pode se furtar nas desculpas, muito menos ponderar possível melindre junto à associação que dirige o futebol no mundo.

O episódio depõe contra a notável hospitalidade que os brasileiros têm dado aos estrangeiros das 32 nacionalidades que visitam ou visitaram o país. De antemão, como cidadão brasileiro e desportista, parabenizo os uruguaios e o seu querido presidente José Mujica pela solidariedade ao atleta na chegada ao seu país. Bem como ao técnico Oscar Tabárez por renunciar ao cargo que ocupava na Fifa.

Caso o governo brasileiro não assim o veja e faça, caberá à Unasul – a União das Nações Sulamericanas – apresentar moção de repúdio à Fifa e de solidariedade a Luís Suárez. Esquecer, será gol contra.

Aliás, a Copa no Brasil tem sido a reafirmação da unidade política das Nações Sulamericanas. Teria sido essa unidade, notadamente nas quatro linhas, ou a hegemonia das seleções do continente na primeira fase da competição, que teria motivado tamanho rancor na punição? Ou os belos gols de Suárez que teriam contribuído na eliminação de seleções campeãs e prestigiadas mundialmente?

Como se trata de uma competição esportiva, é tático se perguntar também: o tribunal da Fifa que protagonizou tamanha estupidez numa Copa com tanto sucesso, seria o mesmo que negociou o Mundial de 2022 no Catar, verdadeira seleção de denúncias de corrupção? O tempo dirá.

Mas o que já se sabe é que foi esta mesma Fifa que disse que os organizadores da Copa no Brasil mereciam um pontapé na bunda por supostos atrasos na construção dos estádios. O resultado do trabalho do governo está aí para o mundo ver e elogiar, como tem feito.

Os fatos têm mostrado que quem precisa ser substituída é a Fifa, que há anos joga muito mal, e jamais escalou para o time a transparência em suas transações financeiras. Se com a destrambelhada punição a entidade tentou ser exemplar, o exemplo que ficou de fato é que passou da hora de sua substituição como organizadora mundial do futebol – como, inclusive, já se discute em alguns países europeus.

No que tange a suposta mordida, acho que a punição deve ser proporcional ao dano físico causado ao agredido. Não defendo a conivência a atitudes antidesportivas no palco da disputa. O esporte é uma ferramenta de união e congraçamento dos povos. Como acontece nesse mundial.

Não esqueçamos que o lateral Leonardo, do Brasil, na Copa de 1994, desacordou um jogador da Seleção dos EUA com uma cotovelada. O volante Phillipe Mello, em 2010, agrediu violentamente um holandês caído. O rei Pelé também já protagonizou cena parecida em Copa do Mundo. O próprio Neymar, maior jogador do Mundial, juntamente do colombiano James Rodriguez, até agora, também foi maldoso em disputa de bola na estreia.

Nenhum deles foi marginalizado por isso; e nem deveria. São reações próprias desse esporte, e para puni-los existem as regras do futebol. Quem já esteve dentro de campo, sabe. Banimento é coisa para criminoso.

O zagueiro Chiellini, que teria sido mordido pelo uruguaio, continuou no jogo naturalmente após o incidente. Sem contar todo o antijogo que praticou durante a referida partida, simulando agressão dos uruguaios, com a complacência da arbitragem.

E o próprio italiano, nas redes sociais, horas depois da decisão da Fifa, mostrou o teatro que o episódio representou: apareceu em foto com mulher simulando mordida em seu ombro. O fato revela a chacota com o episódio e o papelão da Fifa.

Mordido mesmo ficou o mundo esportivo, notadamente os uruguaios e os brasileiros pela entidade manchar nosso mundial. Como a Fifa elege o melhor jogador da Copa, sugiro que este ano escolha também o pior: o troféu é seu “jogador” Joseph Blatter.

Gilmar Medeiros é jornalista


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