A Cúpula do G-77 mais China, realizada em Santa Cruz de la Sierra, reativou o organismo internacional após meio século de sua fundação. Trata-se de um “relançamento para que siga trabalhando com políticas de complementaridade e solidariedade”, disse o presidente boliviano e anfitrião da reunião, Evo Morales. A erradicação da pobreza, a luta contra a desigualdade, as críticas a uma economia “orientada ao lucro” e o “direito universal aos serviços básicos” deram a tônica do encontro liderado por presidentes, primeiros-ministros e altos funcionários que representam 60% da população mundial.
O grupo aprovou, em sua declaração final de 242 pontos, que a defesa da soberania das nações sobre seus recursos naturais, a importância de tornar mais leve o peso da dívida externa e a necessidade de um maior compromisso internacional perante os efeitos da mudança climática são prioridades para os Estados em desenvolvimento. O encontro de dois dias foi concluído neste domingo (15).
Entre os latino-americanos, além do presidente anfitrião, Evo Morales, estiveram presentes os mandatários da Venezuela, Nicolás Maduro; de Cuba, Raúl Castro; da Argentina, Cristina Kirchner; de Equador, Rafael Correa; do Peru, Ollanta Humala; de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén; do Uruguai, José Mujica; e do Paraguai, Horacio Cartes.
“O neoliberalismo gerou uma crise econômica global que empurrou milhões de pessoas para a pobreza extrema. É hora de caminhar em outro sentido para construir uma ordem social mais justa”, declarou o presidente cubano, Raúl Castro em seu discurso no evento.
Outro mundo
Evo defendeu, em sua fala, nove tarefas para “construir a irmandade planetária dos povos”. Entre os princípios aprovados pelo documento estão a erradicação da pobreza, a promoção da multipolaridade, a descolonização, a integração e a cooperação sul-sul. No âmbito financeiro, os participantes defenderam a soberania dos Estados e povos sobre os recursos naturais e exortaram a realização de uma reforma da atual estrutura financeira mundial.
O texto final convoca o respeito à “independência dos Estados, a soberania nacional, a integridade territorial e a não ingerência em assuntos internos dos Estados”.
Os participantes do G-77 também condenaram a “continuação da ocupação militar israelense no território palestino” e reafirmaram os direitos do povo palestino à autodeterminação, à independência e à disposição sobre os recursos naturais, incluindo a terra, a água e os recursos energéticos. Os emergentes também condenaram e pediram o fim do bloqueio econômico e comercial que os Estados Unidos mantêm contra Cuba.
Na mesma linha, a presidente argentina, Cristina Fernández, afirmou que o “anarco capitalismo” é responsável pela “unilateralidade dos organismos internacionais hegemômicos”. Os países presentes apoiaram a demanda da Argentina pelo restabelecimento da soberania sobre as ilhas Malvinas, hoje sob domínio da Grã Bretanha.
Em sua exposição, o mandatário uruguaio, José Pepe Mujica, ressaltou que é necessário instaurar uma “mudança cultural”: “não é fácil mudar as relações de propriedade como as culturais, (mas) é preciso fazê-lo, porque se não há mudança cultural, não há nada”.
Outros temas
Também foram tratadas questões como meio ambiente, o combate à pobreza e Direitos Humanos. Como a reunião não abordou o controle dos recursos naturais e a industrialização, será realizado um novo encontro, com os ministros de mineração e hidrocarbonetos em agosto na cidade boliviana de Tarija.
O grupo também decidiu que uma nova reunião será realizada com a coordenação da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, e organismos econômicos de América Latina e Caribe, África, Ásia e Pacífico e Ásia Ocidental.
Fonte: Opera Mundi