O Brasil, ao ser identificado como a sétima economia do mundo, conforme dados divulgados pelo Banco Mundial (BIRD) no final do mês de abril deste ano, reforça os estudos apresentados pelo economista Jim O’Neill, que em 2001 declarou o Brasil como um dos países emergentes capaz de se constituir em uma potência econômica até 2050, devido a sua capacidade de investimentos.
Na mesma oportunidade, O’Neill afirmou que China, Índia e Rússia estariam nesse processo de crescimento, resultando assim na constituição do grupo chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China), que em 2011 incorporou ao acordo internacional a África do Sul, originando-se, assim, o acrônimo BRICS.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul juntos, representam 42% da população mundial, resultante de 45% da força de trabalho e um gigantesco poder de consumo no mundo. Mas a grandiosidade desse grupo está no aumento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e na representação do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, que chega ao patamar de 21%. A diferença econômica desse grupo para os países desenvolvidos está no crescimento econômico mundial. Enquanto os países que formam os BRICS foram responsáveis nos últimos anos por um crescimento de 55%, os países desenvolvidos cresceram apenas 20%, em termos econômicos.
Em julho, acontecerá em Fortaleza a reunião da 6ª Cúpula dos BRICS, e na oportunidade será formalizada a criação de uma instituição financeira denominada de “Banco dos BRICS”, que terá o capital inicial integralizado na ordem de US$ 50 bilhões. Esse banco fará o contraponto ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao BIRD (Banco Mundial). Além da audácia da criação dessa instituição, os BRICS também criarão um fundo de reserva comum de US$ 100 bilhões. Essas medidas têm por objetivo garantir a crescente aceleração das economias dos países-membros.
A crise do capitalismo mundial, iniciada nos Estados Unidos, assolou o mundo a partir de 2006. Porém, o Brasil encarou e transformou a crise numa oportunidade de crescimento, investindo na economia interna, ampliando o poder de compra do conjunto dos brasileiros e investindo nas políticas de proteção social, o que permitiu o pujante crescimento, contrariando assim, países europeus e os EUA, que viram suas economias contrair frente às dificuldades apresentadas.
No contexto do cenário mundial, no Brasil podemos constatar que houve avanço do crescimento mesmo no cenário da crise capitalista. A inserção do país no grupo político de sustentação econômica e de desenvolvimento como o BRICS, a criação de uma instituição financeira capaz de disputar com o FMI e o BIRD, além da destinação de US$ 100 bilhões para a constituição de um fundo de reserva são fatos que nos mostram, sem medo de errar, que o Brasil precisa pode avançar e aproveitar mais e melhor a oportunidade de crescimento em função dos fatores positivos apresentados, construindo uma oportunidade ímpar de investir no social, principalmente nas politicas publicas de saúde, educação, transportes, segurança e assistência social.
No âmbito do bloco dos BRICS, não podemos admitir que o Banco Internacional que será criado, seja uma organização que atue de modo semelhante ao que se com o BIRD (Banco Mundial) e FMI, que na maioria das vezes, ao emprestar aos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, atrelam tais empréstimos a uma agenda de compromissos sociais e econômicos que contrariam os interesses das classes trabalhadoras, submetendo-se à agenda do capital dos bancos privados, que financiam pretensas soluções por meio da do aumento da pobreza e da dependência financeira das nações, que vêem comprometidas a sua soberania.
É o momento de consolidarmos os avanços encontrados e formatados na Cúpula dos BRICS; porém, se a forma de investimento na proteção social ocasionou um crescente desenvolvimento no PIB, IDH e na renda “per capita”, na época da erupção da crise capitalista no país, essa formula deverá ser aplicada novamente e com mais intensidade, utilizando uma parte dos recursos do banco e do fundo de reserva do grupo nas políticas sociais e nas politicas públicas.
Assim como no Brasil, um serviço público de qualidade se faz necessário nos demais países membros dos BRICS, pois as dificuldades de acesso da população, principalmente a mais carente e que não detêm o poder econômico ativo, é um fator preocupante das nações, pois mesmo numa conjuntura de crescimento econômico, a falta de investimentos nos serviços públicos é gritante.
Nossa expectativa é que a autossuficiência econômica venha imbuída de uma ofensiva contra o neoliberalismo, posto que nos últimos doze anos conseguimos sufocá-la a ponto dela ter sérias dificuldades para aglutinar forças. Todavia, é preciso avançar e acelerar as reformas estruturais, com mais investimentos em bens, serviços e equipamentos públicos, e não somente no sistema privado para que possamos ter uma sociedade mais equilibrada, na qual o conjunto da população desfrute igualmente do acesso a bens e serviços e disponha do mesmo leque de oportunidades de vida.
Wagner Rodrigues é presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto
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