O ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, sua esposa e ex-candidata à presidência, Xiomara Castro, e centenas de militantes do partido Libre (Liberdade e Refundação) foram retirados à força do Congresso Nacional durante uma manifestação na última terça-feira (13).
Os integrantes do Libre — a segunda maior força política do país — protestavam contra a falta de representação do partido no TSE (Tribunal Supremo Eleitoral), órgão da Justiça Eleitoral cujos magistrados são indicados pelos partidos hondurenhos.
Uma nova manifestação foi convocada para esta quarta (14) em frente à sede do TSE. O Congresso hondurenho afirma ter recebido um alerta de bomba no edifício, motivo pelo qual teria sido necessária a presença da polícia para remover os manifestantes do prédio.
Mais de 200 policiais militares interromperam os manifestantes lançando gás lacrimogêneo e spray pimenta e distribuindo golpes com cassetetes contra os partidários do Libre que cantavam o hino nacional e gritavam palavras de ordem contra o presidente Juan Orlando Hernández, a quem acusam de querer instaurar uma “ditadura militar” no país. Sete pessoas ficaram feridas, entre elas dois militares e dois congressistas.
O deputado Rasel Tomé, do Libre, disse à AFP que na terça (6/5), a direção do Congresso juramentou “ilegalmente (…) novos membros do Tribunal Supremo Eleitoral” sem levar em conta o Libre, que é a segunda força política do país.
Em Honduras, os partidos presentes no Congresso indicam os membros do TSE. A indignação se deve ao fato de que os magistrados empossados e que assumem suas funções amanhã, não foram eleitos pelo Congresso atual, mas pelo anterior, durante o governo de Porfírio Lobo (2010-2014), que assumiu o poder após o golpe de Estado que destituiu Zelaya, em eleições consideradas ilegítimas. O Libre considera a ação uma “usurpação de funções”.
Um vídeo gravado pelo site LaPrensa.hn, mostrou a cena caótica na sede do Congresso com policiais avançando contra os manifestantes de maneira violenta. Ao final da gravação, a deputada Claudia Garmendia, do Libre, desmaia e é pisoteada por outros manifestantes e pela própria polícia. Ela segue hospitalizada.
A manifestação realizada nas ruas próximas ao Congresso também foi dispersada com paus e bombas lacrimogêneas. Os presentes protestavam contra a violência e insegurança no país após o atentado ocorrido na segunda-feira (12/05) contra o deputado Rafael Barahona, do Libre, enquanto se preparava para a convocação de um protesto diante do Congresso. Segundo seu relato, foram disparados oito tiros contra seu carro, sendo que um deles atingiu sua mão.
À TeleSUR, Barahona afirmou que as autoridades de investigação de Honduras “confirmaram que se tratou de um atentado, que quiseram me assassinar”.
A ação ocorreu no dia em que entrou em vigor um novo sistema de segurança interna no Parlamento, indicando uma nova rota de entrada, por um elevador, para os deputados entrarem no salão de sessões. Para os manifestantes, a medida foi tomada para impedir que o povo chegue à sede do legislativo. Deputados da situação, no entanto, afirmam se tratar de uma medida de segurança para evitar que pessoas entrem portando armas de fogo.
Repressão
Nos primeiros cem dias do governo Hernández, houve um aumento da criminalidade no país e os três partidos da oposição afirmam ser “comumente” censurados no Congresso Nacional. “É mais do que evidente que há uma confabulação. O país continua mergulhado na pobreza, na criminalidade e na corrupção – tudo continua na total inércia. A palavra no plenário nos é negada e nossos projetos são engavetados. Parece que Hernández continua mandando aqui e que nunca deixou seu cargo de presidente do Congresso”, disse em entrevista a Opera Mundi o ex-procurador e atual deputado pelo Libre, Jari Dixon.
“Eu responsabilizo por estas ações violentas (…) o aprendiz de ditador que é o presidente Juan Orlando Hernández”, afirmou o ex-presidente, que permaneceu sentado por vários minutos com panos molhados no rosto e na cabeça, enquanto era atendido por seus correligionários, como informou a Reuters.
A ação realizada no Congresso ontem não tem precedentes no país desde que Honduras retomou a democracia em 1982, após quase 20 anos de regimes militares de fato.
Em junho de 2009, Zelaya foi derrubado por um golpe de Estado realizado por uma aliança entre militares, empresários e políticos de direita. Em janeiro deste ano, apesar das denúncias feitas pelo Libre sobre diversas irregularidades e fraudes nas eleições, Hernández foi eleito sucedendo assim Perfírio Lobo, após eleições organizadas pelo regime que havia tomado o poder.
Outro lado
Em um comunicado, o Congresso Nacional informou que autoridades policiais receberam um alerta de bomba no edifício legislativo, por isso foi necessária a ação e a presença do Esquadrão Antibombas das Forças Armadas para efetuar a retirada dos manifestantes.
O presidente do Parlamento de Honduras, Mauricio Oliva, afimou a jornalistas que ele ordenou a retirada dos deputados e seguidores do Libre. “Disse que corria risco um monte de gente, que precisavam ser retirados”, afirmou.
“Eu condeno energicamente esta atitude [o protesto], realmente é penoso que o povo hondurenho veja estes atos, mas não vamos dar um passo atrás nisso, terá segurança no Congresso, haverá espaço para o diálogo para quem quiser buscá-lo”, enfatizou.
Vanessa Martina Silva, no Opera Mundi