Múltiplas jornadas: o desafio das mulheres trabalhadoras

A grande inserção da mão de obra feminina no mercado de trabalho ocorrida nas últimas décadas foi fator determinante para o avanço das conquistas das trabalhadoras em relação a seus direitos, seja no universo profissional ou nas relações sociais, comprovando que o exercício de uma atividade remunerada é fundamental para a autonomia e a emancipação da mulher.

No entanto, apesar das garantias trabalhistas e sociais conquistadas ao longo de anos de lutas, a mulher trabalhadora ainda convive com a dura realidade da desigualdade salarial e com o peso da dupla jornada de trabalho. Pesquisas demonstram que as brasileiras gastam, em média, 26,6 horas semanais em cuidados com a casa e a família. Em contrapartida, os homens dedicam somente 10,5 horas por semana.

Esse contexto é agravado quando se comprova que, além de receberem salários menores, as mulheres trabalhadoras executam jornadas maiores do que aquelas para as quais foram formalmente contratadas, gerando uma sobrecarga física e psicológica que aumenta o nível de estresse e provoca sérios danos à saúde.

É unânime o entendimento de que a inserção das mulheres no mercado de trabalho alterou as relações sociais, levando-as a ocupar cada vez mais espaços no âmbito do exercício da cidadania. Contudo, no espaço do lar ainda reina o estereótipo machista de que são elas as maiores ou únicas responsáveis pelos cuidados da casa e dos filhos. Romper com esse desequilíbrio na divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres é, portanto, um dos mais importantes desafios para as trabalhadoras, principalmente para aquelas que exercem a maternidade.

A ação do Estado é fundamental para que as conquistas da mulher na sociedade venham acompanhadas de melhor qualidade de vida. Tal ação é concretizada através de políticas públicas que permitam o acesso das trabalhadoras a equipamentos sociais e, sobretudo, que tenham abrangência para atendimento à infância e à adolescência, como, por exemplo, a ampliação de escolas infantis e escolas de turno integral, reconhecendo, na prática, a função social da maternidade e sua importância para a reprodução da vida.

No âmbito das relações de trabalho, a redução da jornada laboral para 40 horas semanais é uma das reivindicações de maior significado, pois sua adoção terá grande impacto, não apenas por aliviar a carga profissional, mas por permitir à mulher e também ao homem maior convívio e compartilhamento nas tarefas domésticas e na atenção aos filhos.

Vencer esses desafios é parte da atualidade da luta das mulheres na busca da igualdade na lei e na vida. Para isso, é fundamental que o crescimento da participação feminina no trabalho e na sociedade seja acompanhada pelo aumento de sua participação na política. Hoje, as mulheres representam metade do eleitorado brasileiro, mas ocupam apenas 10% das vagas no parlamento! Este também é um estereótipo que precisa ser rompido, pois ao ocupar espaços de poder as mulheres dão visibilidade às suas lutas e contribuem para a formulação de políticas e de leis que impulsionem mudanças na consciência da sociedade. Mudanças que enraízem o conceito de que a reprodução da vida e o cuidado com a família são responsabilidades a serem compartilhadas igualmente por homens e mulheres, sob a proteção e incentivo do Estado.

Abgail Pereira, educadora e ativista dos direitos da mulher, é ex-secretária Nacional da Mulher da CTB e ex-secretária de Estado do Turismo.


 

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