A passagem de cinquenta anos da ditadura militar instalada no Brasil no dia 1º de abril de 1964 foi motivo de muitas manifestações recentemente. Foram muitos os debates, muitas plenárias reunindo militantes do campo social, muitos dos quais sofreram perseguições, prisões, demissões de seus empregos e o exílio forçado.
E foram mencionados aqueles que foram assassinados. Mas as homenagens que foram prestadas a todos esses verdadeiros heróis de certa forma serviram para mostrar que uma sociedade diferente ainda é o grande objetivo a ser alcançado, mas para que isto aconteça, muitos esforços terão de ser dispendidos.
Há ainda questões que precisam ser colocadas em destaque, como os métodos que os reacionários que comandaram o país durante a ditadura adotaram para reprimir os que ainda tentaram movimentos de resistência. Ou que de alguma forma, durante os governos anteriores não deixaram de apontar a necessidade da organização para ocupar espaços, lutando pela implementação de pontos sociais como a reforma agrária.
O tempo passou, a democracia foi reconquistada, a eleição direta e a nova Constituição foram duas grandes referências, implementadas com grandes e efetivas participações populares. E não demoraram as mudanças na estruturação sindical, até então submetidas às determinações da legislação oriundas da ditadura Vargas, no ano de 1943.
O novo tempo permitiu a criação de Centrais Sindicais, com algumas divergências no campo político, mas que nos últimos tempos tem mostrado a perspectiva de entendimento, um ponto fundamental para lutar por algumas reivindicações que são de interesse de toda a classe trabalhadora. E esta é uma questão que leva a pensar no trabalho das lideranças sindicais de antigamente.
E que serviram para que a ditadura que estava sendo implantada em 1964 usasse como argumento, para afastá-los das direções dos sindicatos, cargos ocupados pela escolha por parte das categorias as quais os mesmos representavam. Foram alguns milhares de sindicalistas, substituídos por pessoas com vinculação com alas reacionárias e que passaram a dirigir sindicatos, federações e confederações.
E cumprindo determinações que levaram muitas categorias a perderem direitos conquistados na luta. Eis que surge uma questão que merece uma profunda reflexão. Uma atitude que foi tomada em relação aos integrantes de alguns Executivos e Legislativos à nível nacional levou em consideração prestar uma homenagem a quem faz parte de nossa história política. Eles estão recebendo de forma simbólica a devolução dos cargos para os quais foram eleitos e dos quais foram destituídos, com os mandatos cassados.
É um ato que significa uma grande homenagem e coloca-os na história, para não serem esquecidos. E qual tem sido a atitude do movimento sindical? Por que não fazer o mesmo? Por que não convidar os sobreviventes, já que foi passado um grande espaço de tempo e muitos já não estão vivos? E na ausência deles, seus familiares, que conviveram com esses verdadeiros heróis e sofreram quando os mesmos estavam sendo submetidos às pressões dos ditadores.
É uma situação que vai mostrar a sensibilidade da classe trabalhadora, que não esquece aqueles que fizeram a história do movimento sindical brasileiro. Este papel pode ser desempenhado pelas Centrais Sindicais e nada impede que possam haver manifestações unitárias, levando em consideração a característica de cada cidade ou região. Por certo, é uma homenagem e que vai ficar na história, mostrando a sensibilidade de quem luta por uma sociedade onde todos sejam iguais, com os mesmos direitos, uma sociedade socialista.
Uriel Villas Boas é membro do Departamento de Previdência Social da Fitmetal, integrante do MAP.LP e dirigente da Associação dos Siderúrgicos e Metalúrgicos do Litoral Paulista
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