O país amanheceu espantado no sábado (5) com a notícia da morte súbita ator José Wilker. Como um dos principais atores brasileiros de todos os tempos, o cearense Wilker conquistou corações de brasileiros e brasileiras com participação brilhante em peças de teatro, novelas televisivas e mais de 50 filmes, numa carreira que completaria 50 anos em 2015. A CTB presta homenagem a este grande representante e defensor da cultura nacional. Seu corpo foi velado Teatro Ipanema onde iniciou sua carreira e cremado no Cemitério Memorial do Carmo no domingo, em uma cerimônia restrita a familiares e amigos no Rio de Janeiro.
Já sobre sua idade uma controvérsia secundária. A maioria da imprensa noticiou que ele morreu aos 66 anos porque teria nascido em 20 de agosto de 1947, já a Globo, emissora onde o ator trabalhava, usou gravação da voz do próprio dizendo ter nascido em 1946, portanto já teria 67 e a enciclopédia Wikipédia dá 1944. Polêmica à parte, Wilker é um dos grandes nomes da arte de atuar do país, além de especialista em cinema. O ator tinha cerca de 4 mil títulos de filme em sua casa, acervo que, infelizmente doou par aa comercial Organizações Globo.
Tão apaixonado pelo país, pela cultura popular, Wilker defendia o cinema nacional contra todos os preconceitos e as manipulações mercantis sempre em detrimento da produção nacional. Na época em que era colunista da revista Contigo, da editora Abril, defendeu enfaticamente o financiamento público dos filmes. Argumentava que como ocorre hoje, o financiamento beneficia os empresários duas vezes: no abatimento que fazem no Imposto de Renda e na participação que têm na bilheteria.
O filho de caixeiro viajante, nascido no sertão do Ceará estreou no cinema em 1965 com pequena participação no filme A Falecida, de Leon Hirszman (1937-1987). Em 1976 fez sucesso na figura do malandro e bom amante Vadinho na película baseada em Jorge Amado, Dona Flor e Seus Dois Maridos, dirigido por Bruno Barreto, por muitos anos a maior bilheteria nacional, só perde o pódio em 2010 para Tropa de Elite 2, de José Padilha.
Também atuou em Bye Bye Brasil (1979), de Cacá Diegues, O Homem da Capa Preta (1985), de Sérgio Rezende, Guerra de Canudos (1997), também de Sérgio Rezende e O Maior Amor do Mundo (2006), de Cacá Diegues, entre muitos outros filmes. Dirigiu Giovanni Improtta (2013).
Em O Maior Amor do Mundo interpreta um cientista brasileiro que resolveu viver nos Estados unidos fugindo do desemprego causado pela ditadura. Volta ao Brasil para receber um prêmio já no governo Lula e mantendo contato com sua origem e com a realidade brasileira vai saindo do egoísmo, adquirindo consciência e abraçando o país como seu. Ao receber o prêmio faz um longo discurso denunciando e reverenciando os mortos pela ditadura. Numa atuação ímpar para uma obra singular, pouco destacada na mídia nativa.
José Wilker também atuou no teatro e na televisão com imemoráveis personagens que habitam o imaginário popular. O ator morreu, mas a sua arte comprometida com a dor do povo pobre e humilde continua presente nos corações e mentes de todos os amantes da arte que acreditam no país, na classe trabalhadora e na vida.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB
Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto
Bye Bye Brasil (1979), de Cacá Diegues