São profundamente lamentáveis os resultados da pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), especificamente quanto às três principais respostas dadas pela maioria dos consultados no tópico em que se avalia a violência contra a mulher.
Os números divulgados pela pesquisa chamam a atenção negativamente, pois 65% dos entrevistados concordaram com a afirmativa segundo a qual “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”; outros 58,5% avaliaram que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros” e 63% disseram que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre membros da família”.
Como atestaram os próprios autores do trabalho, são resultados que mostram haver uma forte tendência de atribuir às mulheres a culpa pelos casos de violência, sejam estes de natureza sexual ou não, dentro ou fora de casa.
Entretanto, numa análise mais profunda, o que se pode observar, é que estes tipos de pensamentos são um retrocesso frente às conquistas já obtidas, com muita luta pelo movimento de mulheres, em relação à proteção da mulher, como a Lei Maria da Penha, por exemplo, instrumento dos mais importantes para coibir a violência doméstica e familiar.
Em outras palavras, no pensamento de algumas pessoas ainda permanece incutida a visão de que o homem pode, à sua revelia, usar de atos de violência contra a mulher. É o que se pode perceber na resposta de 70% dos entrevistados que, embora tenham admitido que o marido que bate em mulher deva ir para a cadeia, ainda se mostram favoráveis ao fato de que as brigas entre o casal devam ser resolvidas dentro de casa, na própria família.
Ora, atribuir à postura da mulher ou à forma como se veste a responsabilidade por possíveis agressões ou estupros é, nada mais nada menos, uma demonstração de que existe uma concepção machista arraigada na sociedade, que não vê a mulher como sujeito de sua própria história, que tem autonomia e capacidade para lutar por seus direitos, mas, unicamente, como mero objeto.
Os resultados desta pesquisa revelam, resumidamente, que ainda predomina um pensamento profundamente autoritário sobre a condição da mulher, além de uma tendência de legitimar a violência e até mesmo o controle sobre seu corpo.
No entanto, estas opiniões manifestadas nesta pesquisa merecem um tremendo repúdio da sociedade como um todo e, em especial, das mulheres, que devem continuar firmes nos embates contra quaisquer tipos de discriminação ou violência (física, simbólica ou sexual), lutar por igualdade de condições e direitos e ocupar seus espaços na sociedade para superar este modelo de sociedade ainda machista e patriarcal.
Andréia Diniz, secretária-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região