Os 50 anos do golpe militar foram tema de um encontro que reuniu autoridades e especialistas no assunto para debater os 21 anos do regime de governo (1964 a 1985), que promoveu no Brasil mortes, conflitos, torturas e perseguições.
O evento foi realizado pela Secretaria de Formação do Sindicato dos Comerciários de Salvador, quinta-feira (27), às 18h, no Teatro Dias Gomes, sede da categoria. Uma abordagem histórica com reflexões e depoimentos trouxeram à tona as tristes experiência vividas por líderes dos movimentos sindical, cultural, estudantil e civil.
“Estamos fazendo este debate para refletir e não permitir o retorno e o retrocesso daquele período, que foi um atraso cultural, social, econômico e político no país. Viva a democracia e àqueles que lutaram pelos direitos do nosso povo.”, afirmou Jaelson Dourado, presidente do Sindicato.
Resistência marcou história dos comerciários
Reginaldo Oliveira, sindicalista que viveu a repressão e liderou o movimento que retirou o Sindicato das mãos dos militares, lembrou as situações vividas nos tempo de chumbo e como se deu a retomada da democracia. “Os trabalhadores foram impedidos de exercer a democracia porque os sindicatos estavam sob intervenção, e a partir dos anos 70 começaram as mobilizações e foram retomadas as lutas. A partir de 81, em plena ditadura militar, os trabalhadores passaram a ocupar espaços nas entidades, e aqui foi um pouco parecido. Surgiu a primeira oposição com interferência direta no processo de democratização. Hoje estamos exercendo a democracia de liberdade lutando por salários, fazendo discussões políticas importantes graças a luta e organização do nosso povo”. “Nos dias atuais ocupamos as ruas e o trabalhador precisa entender que nesse processo de liberdade e democracia é preciso uma participação junto ao Sindicato para conquistar melhores condições.”, destacou Walter Cândido, organizador do evento.
Literatura pouco esclarecedora
A literatura brasileira não revela muito sobre os fatos e acontecimento do período porque faltam informações, conforme sinalizou o historiador Ricardo Moreno, da Uneb. “Muitas linhas de pesquisa estão sendo desenvolvidas nas últimas décadas, mas a nossa dificuldade está justamente no acesso aos documentos. No caso da Bahia, por exemplo, os documentos estão ocultos ou destruídos. O que nos sobra são as fontes alternativas, principalmente relatos das pessoas que falam das experiências vividas. Essa limitação das fontes oficiais impedem o desenvolvimento de pesquisas históricas”
Tortura nunca mais
A vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Diva Santana, lamentou a falta de acesso aos arquivos.“É lamentável que na Bahia não temos conhecimento nem acesso aos arquivos do movimento de repressão que foi a ditadura militar, que aqui se prolongou com o governador Antonio Carlos Magalhães. Uma parte dos arquivos foi queimada em 2003 na Base Aérea de Salvador, a outra parte está conosco para estudos.“, completou.
Fonte: Sindicato dos Comerciários de Salvador