A juventude brasileira tem a marca da bravura que a história nunca poderá apagar. Das resistências estudantis à ocupação francesa no Rio de Janeiro, em 1710 às manifestações populares ocorridas em várias capitais em junho de 2013, os jovens sempre se apresentaram enquanto detentores de uma genética política caracterizada pela ousadia e pelo entusiasmo no enfrentamento corajoso às mazelas e contradições sociais construídas pela sociedade.
Foram inúmeros os episódios em que, dotados de um espírito coletivo, a juventude foi protagonista e acumulou um papel singular para a conquista de direitos e de transformações sociais. A luta pelo fim da escravidão no final do império, a resistência às ditaduras políticas, as campanhas “O Petróleo é Nosso”, “Diretas Já”, e a resistência frente ao neoliberalismo implantado na década de 1990, tem a cara da juventude e dos movimentos juvenis brasileiros.
Durante a década de 1960, a sociedade caracterizava a juventude por meio da expressão “futuros marginalizados”, os desafios de ser jovem em um país tão desigual era notório e as políticas destinadas a essa população, por terem raízes diretas com os anseios das elites conservadoras, propositalmente os definiam como sujeitos-problemas. No entanto, mesmo diante de tantas dificuldades, nada reduziu o vigor das lutas juvenis em prol às conquistas essenciais para o povo brasileiro.
A ousadia é o predicado da juventude. Pois são os jovens que tem o poder de quebrar as rotinas institucionais por meio das suas manifestações e das variadas formas de ocupar as ruas, as praças, as universidades e os prédios oficiais. Sua força emerge da indignação às contradições sociais e suas mensagens se propagam, principalmente nos muros, nas bandeiras e nos cartazes levantados. E por esse perfil revolucionário, não erramos ao afirmar sobre o papel de relevância que os movimentos juvenis tiveram para a derrocada das políticas conservadoras implantadas pelas forças hegemônicas, principalmente no final do século passado.
As conquistas da juventude brasileira foram construídas através das lutas, nada foi dado gratuitamente, o Estado, se viu obrigado a atender os anseios dessa crescente parcela demográfica, através de uma agenda de institucionalização de políticas públicas de juventude no início deste século, tendo maiores conquistas, principalmente após a vitória eleitoral das forças de esquerda em 2002, que levou o ex-metalúrgico, Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do Brasil.
Da PEC (Emenda Constitucional Nº 65) ao Estatuto da Juventude, foram diversas batalhas e a cada conquista garantida, aumentava a responsabilidade dos vários segmentos sociais, organizações e coletivos juvenis a se mobilizarem em seus municípios, estados e regiões para a efetivação de uma agenda constante para pressionar o poder público, para que de fato, a esfera política consiga trazer novas respostas às demandas que são urgentes para as juventudes.
Em todos esses momentos, os movimentos e organizações juvenis, bem como as entidades estudantis (UNE e UBES) se apresentaram como segmentos importantes para politizar a população e mostrando que a famosa anedota – Si hay gobierno, soy contra” – devotada as manifestações juvenis espanholas em décadas passadas não se estabelece aqui. A juventude brasileira aprende e pratica sua cidadania na luta diária em relação às contradições estabelecidas historicamente pelas elites dirigentes do país.
Infelizmente, os jovens estudantes, ainda encaram diariamente um sistema de ensino arcaico e com forte capacidade de desiludir qualquer pessoa em relação ao seu futuro. A juventude trabalhadora, ainda enfrenta um mundo do trabalho que os relega ao desemprego, subemprego, precarização e rotatividade. Já os jovens negros, mulheres e homossexuais, cotidianamente enfrentam uma institucionalidade violenta e desligada com os princípios que garantem a isonomia e o direito à diversidade. A periferia ainda é alvo de estruturas complexas de desigualdades e inseridas em um modelo de cidade precário e estruturalmente com débeis possibilidades de mobilidade.
As jornadas de junho, ocorridas em 2013 foi um exemplo de que a indignação ainda predomina no cotidiano dos jovens brasileiros. Essa juventude necessita de novas respostas políticas para os seus problemas. Muitos que foram as ruas, com absoluta certeza se quer sabiam o que eram as políticas públicas de juventudes, porém todos se mostravam interessados pela possibilidade de transformações políticas. Do turbilhão de demandas específicas, riscadas nas cartolinas e levantadas pelos jovens, a maioria tinham ligações diretas com a carência de uma efetivação de direitos tidos como universais (educação, saúde, emprego, transporte públicos etc). A pauta da juventude é a sociedade brasileira e não apenas o preço cobrado nas passagens. Esse fato é nítido.
Por outro lado, as jornadas de junho tornaram-se alvos de diversas interpretações e significados, principalmente no que tange a sua natureza e objetivos políticos. A ação da imprensa e de partidos conservadores conseguiram colocar a juventude em disputa. Porém, as organizações juvenis mais uma vez foram heroicas em não permitir uma possível hegemonia “direitista” na direção das manifestações. É válido ressaltar essa preocupação, devido ao fato de que, em outros momentos, essas tendências já investiram dentro dos movimentos juvenis, em destaque o movimento estudantil, visando, principalmente o enfraquecimento e a desestabilização política da juventude.
E diante de inúmeras trajetórias de lutas e conquistas, torna-se evidente para os jovens, que as juventudes devem ganhar cada vez mais as ruas, para que suas bandeiras se transformem em políticas públicas. E o atual momento é propício, mas necessita que a unidade e a coletividade prevaleça para que haja um maior acumulo de forças, visando um avanço orientado pelas melhores alternativas políticas , para que as respostas devotadas à juventude signifiquem maiores conquistas e efetivação de direitos. O tempo é da política e a juventude tem pressa para transformar o Brasil no país de suas utopias.
Wallace Melo Barbosa é secretário estadual da juventude da CTB/PE, integra a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino (Fitee) e o Sindicato dos Professores de Pernambuco (Sinpro-PE).
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