Como um dos maiores escritores em língua espanhola de todos os tempos, Gabriel García Márquez completa nesta quinta-feira (6) 87 anos. Aposentado desde 2009, o escritor colombiano infelizmente sofre de um mal pelo qual está perdendo a memória. O Nobel de Literatura de 1982 (pelo conjunto de sua obra) no livro de memórias Eu Não Vim Fazer Um Discurso relata sua vida dos 17 aos 80 anos e conta que se tornou escritor meio à força ao ser desafiado por um critico literário seu compatriota. “Eduardo Zalamea Borda, diretor do suplemento literário do El Spectador de Bogotá, publicou um artigo no qual dizia que as novas gerações de escritores não ofereciam nada, que não se via em lugar algum um novo contista ou um novo romancista”, disse Márquez provocado a escrever. Ele enviou um conto ao editor que reconheceu o engano e pediu desculpas sem saber que Márquez se tornaria o maior romancista de seu país e um dos mais importantes do mundo.
No discurso de agradecimento pelo Prêmio Nobel, disse que “a independência do domínio espanhol não nos pôs a salvo da demência”, porque “os desaparecidos pela repressão somam quase 120 mil” e ainda porque “20 milhões de crianças latino-americanas morreram antes de fazer dois anos” e complementa com as denúncias ao afirmar que “é compreensível que insistam em nos medir com a mesma vara com que se medem, sem recordar que os estragos da vida não são iguais para todos, e que a busca da identidade própria é tão árdua e sangrenta para nós como foi para eles”, ao falar sobre a atitude dos europeus e norte-americanos em relação a nós. No discurso “A América Latina existe”, Márquez afirma que “tudo o que não parece com eles parece um erro, e fazem tudo para a sua maneira, corrigir isso, como, aliás, fazem os Estados Unidos”.
Em defesa da paz, um dos principais representantes do “realismo mágico” na América Latina, afirma que “a corrida das armas vai ao sentido contrário da inteligência”, ele diz ainda “a educação privada, boa ou ruim, é a forma mais efetiva da discriminação social”. Ao debater a necessidade de se investir na educação pública, no incentivo à leitura e na defesa da cultura nacional dos países, respeitando-se as formas populares de expressão. Para ele, vivemos num continente “no qual a morte há de ser derrotada pela felicidade e haverá mais paz para sempre, mais tempo e melhor saúde, mais comida quente, mais rumbas saborosas, mais de tudo de bom para todos. Em duas palavras: mais amor”. Um tempo, diz o escritor colombiano, “que cada um possa fazer apenas aquilo que goste do berço à tumba”.
O escritor comunista revela a obstinação por um mundo melhor através de sua literatura e de livros fundamentais para a leitura de todos, como Cem Anos de Solidão, O Amor nos Tempos do Cólera e muitos outros livros que o colocam como um das vozes mais constantes em defesa da América Latina. García Márquez teve inúmeras obras adaptadas para o cinema e aposentou-se em 2009 deste ofício do qual diz ser falta de escolha na vida. Como seria bom se todos os que não tivessem escolha na vida se tornassem escritores tão grandiosos como Gabo, como é chamado pelos amigos.
Algumas obras de Gabriel García Márquez:
O enterro do diabo: A revoada (La Hojarasca) (1955)
Ninguém escreve ao coronel (1961)
Cem anos de solidão (1967)
Como contar um conto (1947-1972)
Crônica de uma morte anunciada (1981)
O Amor nos tempos do cólera (1985)
Doze contos peregrinos (1992)
Do amor e outros demônios (1994)
Memória de minhas putas tristes (2004)
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB