Faz parte do cotidiano de todo usuário do Metrô de São Paulo a superlotação, com direito a muito tumulto e sufoco. Plataformas lotadas, filas e falhas atrasam diariamente a viagem de ida e volta do trabalhador.
No entanto, nos últimos dois meses os passageiros têm experimentado o gosto amargo do desespero, ao se depararem diariamente com graves defeitos técnicos que chegam a fechar diversas estações ao mesmo tempo.
E como se não bastasse todo esse caos, o governo de São Paulo decidiu fazer uso da Polícia Militar para reprimir qualquer revolta da população com a situação.
A declaração foi feita pelo próprio comandante-geral da PM, Benedito Meira, na quinta-feira (6), ao revelar que a instituição fará um mapeamento das estações de metrô para que seu efetivo possa atuar dentro delas, em caso de tumulto. O plano de contingência para tumultos dentro do Metrô começou a ser elaborado nesta segunda-feira (10) com a Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado.
“Essa situação é o reflexo do descaso do Metrô de SP e do Governo do Estado com a população. Enquanto os usuários são espremidos dentro dos trens do metrô, nos deparamos diariamente com o propinoduto [denúncias de desvio de verbas do metrô de SP]. A população é quem paga a conta e sem poder se revoltar, ameaçada pela repressão policial”, afirma o metroviário e presidente da CTB São Paulo, Onofre Gonçalves.
Culpa de quem?
No último dia 04 de fevereiro, a situação atingiu um nível insuportável. A circulação de trens na Linha 3 – Vermelha do Metrô de São Paulo foi paralisada no horário de pico, por cinco horas, das 18h às 23h. Houve tumulto, pânico, protesto e indignação entre os passageiros. Uma composição apresentou falha na porta, parou na estação Sé e paralisou a circulação no sentido Itaquera. O Metrô diz que a porta de um trem apresentou problema.
Os atrasos na circulação, a superlotação e o grande calor, que dentro dos trens passava dos 45°C, fez com que muitos passageiros passassem mal e até desmaiassem. Os botões de emergência foram acionados e passageiros desceram dos trens, seguindo pelos trilhos em caminho às estações. Durante cinco horas, dez estações da linha mais movimentada da cidade pararam.
“A população acaba agindo por conta própria, consciente de que o Governo de SP não trata como prioridade o transporte público”, salientou o presidente estadual da CTB.
Na outra ponta da corda, do alto de sua arrogância, o governador Geraldo Alckmin culpou a população pelos recentes transtornos. Para ele foi uma ação orquestrada de vândalos que querem sabotar o sistema.
A saída para o governador foi então acionar a Polícia Militar, que invadiu as estações para expulsar os usuários.
A mesma frota, as mesmas falhas
O presidente da CTB revela que, apesar do governador jogar a culpa na população, os inúmeros problemas apresentados pelos trens da Frota K não são novidade.
De acordo com o sindicalista, os trens da frota K têm apresentado falhas frequentes. Em um relatório produzido entre dez de outubro e nove de novembro de 2013, foram registrados 696 problemas em sete trens reformados. Desses, mais de 300.
“Esses trens passaram por uma reforma muito ruim. Não é a primeira vez que essa frota apresenta falhas técnicas graves. O problema foi com o K-07, que é o mesmo trem que descarrilou em agosto de 2013, que faz parte da frota K”, afirmou.
A composição que apresentou problemas terça-feira, conhecida como K07, é uma das recordistas em panes graves no Metrô de São Paulo.
A série K faz parte de um lote de trens reformados a partir de 2008 pelo consórcio MTTrens, envolvido nas denúncias de cartel, pagamento de propina para políticos tucanos a fim de ganhar as licitações no Estado durante as sucessivas gestões do PSDB.
O procedimento foi considerado “danoso” ao Estado pelo Ministério Público Estadual (MP), já que as composições vêm apresentando problemas. Por causa disso, os contratos foram cancelados na segunda-feira pelo MP.
Demanda e capacidade
Diante do caos presenciado diariamente no sistema metroviário, o próprio secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, admite que os paulistanos enfrentam uma situação “desconfortável”. “O passageiro tem razão de dizer que está desconfortável. Mas nós nunca mentimos, esse desconforto era previsível”, argumentou.
A situação mais “desconfortável” é presenciada diariamente por quem utiliza a linha 3, que é a mais movimentada -leva mais de 900 mil pessoas por dia. O secretário, porém, diz que não há uma solução rápida. “Não existe mágica a curto prazo. Nada vai poder melhorar entre seis meses e um ano”, afirmou o secretário.
“No meio desse cenário desesperador, têm também os metroviários, que além de conviver com a terceirização, o reduzido quadro de funcionários e a precarização das condições de trabalho, ainda precisam atuar na linha de frente, absorvendo o descontentamento da população e o descaso do governo”, lamentou o presidente da CTB-SP.
Fonte: CTB-SP