América Latina e suas “veias abertas”

O livro “As veias abertas da América Latina”, do uruguaio Eduardo Galeano, escrito em 1970, é uma espécie de livro básico para entendermos o processo sociocultural da América Latina, que desde sua colonização até sua industrialização esteve sob as garras do mercado externo. O autor lamenta que o livro não tenha perdido atualidade, porém mudanças começaram. E estão se aprofundando.

Nos últimos 20 anos, a América Latina passou por profundas transformações políticas e sociais. Em vários países, governos democráticos – com amplo apoio popular – desenvolvem políticas de distribuição de renda e a economia foi impulsionada com alta nos preços das commodities (produtos, principalmente, de origem extrativista, comercializados globalmente), como produtos agrícolas e o petróleo.

De fato, o continente assume seu protagonismo em uma época de crise do capitalismo – principalmente nos EUA e na Europa, berços do neoliberalismo – e desponta como liderança estratégica nas decisões políticas no mundo. Afinal, os americanos têm enfrentado ampla resistência para implantar sua “máquina de guerra” nessa região que hoje cria uma forma diferente de movimentar a economia global, desvencilhando-se do ciclo vicioso protagonizado pelo G8, conjunto das maiores economias mundiais.

Nesse processo histórico, cabe ressaltar a importância da classe trabalhadora como impulsionadora de mudanças. No Brasil, por exemplo, fechamos uma década histórica, que não ocorria desde a época de Vargas e do Estado Novo: a experiência brasileira iniciada em 2003 com o governo Lula sinaliza a possibilidade da construção de uma nação com projeções avançadas de cunho social, econômico e políticos jamais vistos, seja pelo resultado em números obtidos ou pelo tamanho do incomodo ou desconforto da classe dominante frente ao crescimento do Brasil.

É preciso compreender que o movimento dos trabalhadores e trabalhadoras da América Latina se tornou referência para o mundo, apesar da dificuldade de compreensão histórica desse papel revolucionário da classe trabalhadora residir de forma hegemônica no movimento sindical. Como diria Igor Urrutikoetxea, dirigente sindical basco falecido nesse ano: “A luta sindical deve seguir em paralelo com uma mudança política”. Isso de forma dinâmica, atual e em prol de uma sociedade mais justa e menos opressora, não condicionada a efêmeros projetos de governos, mas baseado na superação do sistema hegemônico excludente que insiste – embora “todo remendado” – em se perpetuar como o último estágio possível de existência da natureza humana estabelecida em sociedade, a qual, hoje leva o estigma de pós-moderna.


Francisco Souza é secretário de Relações Internacionais da Fitmetal e secretário-geral da UIS MM

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