Perguntei-me filosoficamente
Eu sou cachaceiro?
Fui buscar a resposta
Me apeguei a um mineiro
Ele me respondeu:
Cachaceiro é quem faz cachaça quem toma é o biriteiro.
Jesus Cristo tomou vinho
Porque na sua época não tinha cachaça
Se na sua época existisse
Tinha preferido a manguaça
Tinha proferido grandes discursos
Contra a inveja e a desgraça.
Tomar cachaça é um negocio sério
Em público se tomar vira vidraça
É acusado de alcoólatra
Patrocinador de arruaça
Sujeito sem qualidade
Pra sociedade é uma ameaça.
A cachaça é magnífica
Está no país inteiro
Está na alta sociedade
Na macumba, no meio do terreiro
Ela é socialista
Me respondeu um comunista timoneiro.
Cheguei à conclusão
A cachaça é consumida a nível internacional
Ela é democrática, de fácil acesso
Do liso sem dinheiro ao magnata neoliberal
Para ser produzida
Só é preciso um pequeno canavial.
A cachaça em excesso
Tem efeito colateral
Você bebendo direto
Ela provoca chifre, depressão, miragem, distúrbio estomacal…
Zezin de Caicó bebeu por quase sessenta dias
Passou a ver uma legião de jumentos alados, destruindo seu milharal.
Está provado:
Cachaça na mulher provoca ternura
A cachaça no machão:
Provoca a merda da brochura
No baitola:
A ascensão da frescura.
A cachaça gera emprego e renda
É um produto genuinamente nacional
Ela hoje é exportada
Pra América e pra o mundo oriental
É consumida na Europa
Hoje faz sucesso mundial.
Não uso maconha, nem tão pouco cocaína
Mas, gosto de uma boa pinga
Faz parte da minha cultura
Do povo humilde da caatinga
Degustada do Oiapoque ao Chuí
Da tropicália desse povo que tem ginga.
Viva sua vida
Invejoso sem compostura
Não devo nada pra você
Meu caminho é de bravura
Cachaça e cordel andam juntos
Faz parte de nossa literatura.
Passei a me questionar: quem eu sou?
Consultei Dionísio e a Deusa Era
Ele e ela me responderam
Você é uma pantera
Cordelista nordestino
Você é a marca da fera.
Entre: cerveja, Whisky, Campari…
Eu fico com a Cangibrina
Se for pinga da boa
Fica mais gostoso do lado de uma concubina
Quem não gostou desse cordel
Tome uma dose de estricnina.
Francisco Batista Pantera é professor, jornalista, poeta e presidente da CTB-RO