Brasilidade e negritude presente em grandes músicos negros brasileiros

No mês da Consciência Negra uma homenagem a alguns representantes da cultura popular brasileira, que fizeram de seu canto uma forma de expressar a negritude e a brasilidade. Transformaram em arte toda a adversidade vivida pelos negros brasileiros em pleno século 20.

Além de ser o principal intérprete da escola de samba carioca Mangueira, Jamelão acabou sendo eleito por críticos em 1999 como o “intérprete do século do carnaval carioca”.

Conhecido por tocar somente a inseparável caixa de fósforos, Wilson Batista foi apelidado por Custódio Mesquita como o “maestro caixa de fósforos”. O sambista fluminense ficou mais famosos pela maior polêmica musical da MPB travada com o grande Noel Rosa. 

A importância de Pixinguinha para o chorinho é a mesma da de Tom Jobim para a bossa nova, ou seja, ele sistematizou o ritmo e lhe deu novos contornos, muito avançados para a época. 

Os três músicos nos encantam ainda hoje com suas obras.

Jamelão

José Bispo Clementino dos Santos, conhecido como Jamelão, nasceu no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1913. Jamelão enfrentou muitas adversidades para impor a sua voz. Mesmo com seu reconhecido talento, teve dificuldade para ganhar a vida como cantor. Cedo conheceu a Estação Primeira de Mangueira e lá se engajou no samba e encontrou seu caminho, transformando-se para muitos no principal puxador de sambas-enredo do país. 

O tenor do carnaval e da música de dor de cotovelo (foi o maior intérprete de Lupicínio Rodrigues) reforça os obstáculos que enfrentou com um depoimento sobre o racismo, que ainda persiste no Brasil. Para ele, “o artista negro sempre encontra uma barra mais pesada”; “no meio musical todo mundo quer o crioulo, mas para fazer figuração, para tocar pandeiro e agogô e as mulatas para sambar”, mas “para ser estrela não serve, tem de ser branco e de preferência boa pinta”. E reforça “não grito contra isso porque sei que as pessoas que hoje me desprezam vão me amar”, porém “já fui deixado de lado em função de outros caras só porque eram brancos”, acentua.

Jamelão teve uma careira sólida com a gravação de dezenas de discos. Morreu em 14 de junho de 2008 aos 95 anos, mas permanece na memória como um dos nossos maiores cantores.

Matriz ou filial (Lupicínio Rodrigues/Lucio Cardim)

{youtube width=”600″ height=”400″}su-7n0InzI4{/youtube}

Wilson Batista

Considerado por Paulinho da Viola como o “maior sambista de todos os tempos”, o compositor fluminense tem sido um tanto quanto relegado a segundo plano, talvez pela sua aproximação com notórios malandros da época e trajar-se como eles, inclusive carregando uma navalha no bolso, que dizem as más línguas nunca saiu desse bolso. O seu culto à malandragem lhe rendeu fãs famosos como Madame Satã, para quem ele era “o maior compositor do Brasil”. 

Wilson Batista nasceu em Campos (RJ), em 3 de julho de 1913. Ficou muito conhecido através do duelo musical travado com Noel Rosa. As canções de ambos podem ser ouvidas e cantadas independentemente da peleja e permanecem atuais porque falam da alma humana. Tudo começou com Lenço no Pescoço, de Wilson Batista para a qual Noel respondeu com a canção Rapaz Folgado, em 1933, justamente porque entendeu o samba do compositor fluminense como apologia à malandragem e para Noel essa visão prejudicava a figura do sambista, já tão malvisto pela sociedade.

Com mais de 600 músicas em seu currículo e contratos assinados com as mais importantes rádios de então, Batista teve pouco reconhecimento em vida, apesar de ter sido gravado por Aracy de Almeida e Francisco Alves, o principal intérprete da época. Para o pesquisador Moisés Basílio “Wilson na música se assemelhou muito ao Lima Barreto na literatura no que diz respeito a terem suas obras marginalizadas.” Wilson Batista morreu em 7 de julho de 1968 aos 55 anos.

Músicas da polêmica de Wilson Batista com Noel Rosa

{youtube width=”600″ height=”400″}K7qWQ8d6Uy0{/youtube}

Pixinguinha

Nasceu Alfredo da Rocha Viana Filho, em 23 de abril de 1897 – dia que, em sua homenagem, foi designado como o Dia Nacional do Choro, em 2000. O compositor carioca consagrou-se com o apelido de Pixinguinha, dado pela avó africana que o chamava pinzindim (menino bom). Iniciou sua carreira como flautista e encerrou como saxofonista. 

Transformou em arte suas adversidades como num episódio contado pelo flautista Altamiro Carrilho no livro Os sorrisos do Choro. Em 1928 o grupo Os Oito Batutas fez enorme sucesso na França sendo, por isso, homenageado em um importante hotel no Rio de Janeiro, ao retornar. Mas foram obrigados, pelo racismo vigente, a entrar pela porta dos fundos, pois não se aceitava que negros entrassem pela porta principal. A reação de Pixinguinha foi repetir a palavra lamento algumas vezes e Donga, seu companheiro de grupo, sugeriu que compusesse uma música com esse título na qual, trinta anos depois, Vinicius de Moraes colocou a letra na extraordinária Lamento. 

Pixinguinha morreu em 17 de fevereiro de 1973 e deixou um legado inestimável para a cultura do país. Suas canções derramam brasilidade por todos os poros.

Lamento (Pixinguinha/Vinicius de Moraes)

{youtube width=”600″ height=”400″}azLE4zeJFyg{/youtube}

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.