O Museu da Língua Portuguesa apresenta pela primeira vez uma exposição de um compositor e cantor da música popular brasileira. O escolhido foi Agenor de Miranda Araújo Neto de codinome Cazuza. Denominada Cazuza Mostra Sua Cara, a exposição comprova que o poeta rebelde do rock brasileiro continua vivo na sua obra que tão bem representa a rebeldia juvenil dos anos 1980 e ainda hoje faz parte do nosso show.
Os fãs ainda têm a chance de entrar em contato com um pedaço da vida do compositor até o dia 23 de fevereiro no museu localizado próximo á Estação da Luz (cartão postal da cidade) na capital paulista.
Cazuza que a nasceu no Rio de Janeiro em 4 de abril de 1958 e faleceu e 7 de julho de 1990, vítima do vírus HIV foi o roqueiro brasileiro que melhor incorporou o grito da juventude suprimido por muitos anos pela ditadura e que na década de 1980 soltava a voz quando o regime fascista fenecia. Com o seu grupo Barão Vermelho prenunciava novos tempos em 1982 cantando “estamos meu bem por um triz pro dia nascer feliz” (Pro dia Nascer Feliz, Cazuza e Frejat). Por coincidência, Cazuza parte para a carreira solo em 1985, quando a ditadura acaba.
Filho de classe média, ele poderia seguir a trilha do pop-rock comercial como muitos fizeram, mas dirigiu-se pelo caminho da contestação e destilou sua rebeldia, sob influência da guitarra inovadora do rock de Jimi Hendrix, pela voz rouca bluezística de Janis Joplin, pelo som meio inconseqüente dos Rolling Stones, mas também por grandes autores da MPB, como Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Dolores Duran, Maysa, Caetano Velos, Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento, Nelson Cavaquinho, Beatles, Rita Lee, entre outros. Mas o seu grande ídolo também se chamava Agenor, de codinome Cartola.
Cazuza sempre mostrou muita irreverência por onde passou e em suas poesias e com um som misturado que chegou ao samba-rock Brasil, onde canta:
“Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada
Pra só dizer ‘sim’, ‘sim’”
Em uma entrevista em 1988 para o programa do SBT Jô Onze e Meia, o cantor carioca se definiu como socialista e disse textualmente que “não dá para ser anarquista num país como o Brasil”, mostrava-se ávido de viver e nutria esperanças com o fim do ciclo ditatorial. Muito de sua veia política está na canção Burguesia (com George Israel e Ezequiel Neves), onde canta que “a burguesia fede”, numa contraposição á ojeriza que a elite tem ao cheiro do povo. Para Cazuza a burguesia fede a perfume francês caríssimo e cantava com voz rasgada:
“Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo”
Dividida em três partes (Reflexão, Aprendizado e Interação) faltou um pouco mais de poesia e menos espetáculo na exposição no afã de atrair o público jovem e tem conseguido – a bem da verdade – esqueceu-se de enfatizar as poesias do grande poeta. Também os organizadores do evento resolveram contar a história do período em que Cazuza viveu para que dessa forma possa ser entendida a conjuntura na qual o artista viveu e criou sua obra. Chegando a certo exagero ao tentar engajar o cantor com nas manifestações de junho
De qualquer jeito, vale muito a pena pela obra de Cazuza que permanece viva em canções de fino trato, que expressam os anseios de uma juventude que se via livre das amarras de uma ditadura e iniciava seus passos para a vida em liberdade. Suas canções estão presentes na trilha sonora de todos que sonham com vida digna para as pessoas.
Em Ideologia (parceria com Frejat) também mostra veia política:
“Ideologia, eu quero uma pra viver
O meu tesão, agora é risco de vida
Meu sex and drugs, não tem nenhum rock’n’roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem sou eu
Ah, saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo, mudar o mundo
Agora assiste a tudo em cima do muro, em cima do muro
Meus heróis morreram de overdose”
Já a canção Vida Louca Vida, em parceria com Bernardo Vilhena, define o modo como o cantor encarava a vida:
“Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida
Vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa”
Como definiu a cineasta Sandra Werneck, “Cazuza era um homem apaixonado pela vida. Com ela, nutria sua poesia. E, com sua poesia, se entregava ao amor.” Diversas obrs de Cazuza povoam os corações e mentes dos brasileiros como O Tempo Não Para, Faz Parte do Meu Show, Codinome Beija-Flor, entre dezenas de outras que continuam atuais porque serem atemporais e calarem fundo na alma humana.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB
Fotos da exposição: Fernanda Ruy
Serviço
Exposição: Cazuza Mostra Sua Cara
Local: Museu da Língua Portuguesa
Estação da Luz – Praça da Luz, s/nº – centro – São Paulo
Quando: Até 23 de fevereiro de 2014 (quarta a domingo das 10h às 18h e terças das 10h às 22h, a bilheteria fecha sempre 1 hora antes do encerramento da exposição)
Preço: R$ 6 (meia R$ 3)
Assista entrevista de Cazuza no Jô Onze e Meia em 1988:
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Músicas:
Ideologia (Cazuza/Frejat)
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Burguesia (Cazuza/George Israel/Ezequiel Nves)
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O Tempo Não Para (Cazuza/Arnaldo Brandão)
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