Mais parecia o Incrível Exército de Brancaleone (comédia italiana de 1965), um aglomerado de destemidos guerreiros molambos, mas com uma bravura capaz de demolir castelos medievais. Aliás, o prédio da Vivo (Telefônica) mais parece um desses edifícios de ficção científica hollywoodiana, feito para afastar os seres humanos. A manifestação ocorrida nesta quarta-feira (16) no fim da tarde, para denunciar a pressão feita pelos barões da mídia contra o inédito Marco Civil da Internet em tramitação no Congresso, justamente no que esse projeto apresenta de melhor.
“O Brasil é pioneiro em colocar esse debate para o mundo”, afirma Pedro Ekman, coordenador do Intervozes, Coletivo Brasil de Comunicação Social, que atua em defesa da liberdade de expressão. Ele explica que as empresas de telecomunicação no país, querem controlar a internet, cobrando pelo acesso aos conteúdos com pacotes iguais aos existentes de TV a cabo. Com isso, “a internet deixaria de ser livre e o acesso seria concentrado apenas em quem tem dinheiro para pagar”, define.
Já o professor da Universidade Federal do ABC, Sérgio Amadeu acrescenta que o Marco Civil “visa garantir o direito a que a internet continue livre.” Para ele, o projeto defende os internautas de “um controle da criatividade, pois a jogada dos caras é exercer o controle sobre tudo o que for veiculado por esse meio de comunicação”, reforça. A mobilização é para que “possamos usar a internet como queremos, sem intromissões”, defende. Por isso, segundo Amadeu, o Marco Civil agride tanto os poderosos. Porque ele define “regras com o intuito de preservar o direito do cidadão à liberdade de comunicação”.
Amadeu garante que “o Brasil está sendo o norte da internet livre e democrática” no mundo. Justamente porque visa “proteger os internautas daqueles que guardam nossas informações e os proíbe de usá-las e comercializá-las”.
A manifestação patrocinada por diversos movimentos sociais, foi planejado pra “impedir que bloqueiem, censurem e quebrem a nossa privacidade de comunicação”, diz texto de folheto de divulgação do evento. Para os manifestantes a democratização da comunicação é tão fundamental quanto a reforma agrária no campo e a urbana. A CTB compreendeu a importância dessa luta aderindo ao movimento, garantindo a presença de cerca entre os 1/3 dos manifestantes. A central sindical mostra que tem perfeita compreensão da importância de se transformar em uma das trincheiras na guerra da comunicação contra o monopólio do pensamento e em defesa da liberdade de expressão.
Os barões da mídia já controlam a imprensa escrita, o rádio e a TV e agora, um ano antes da eleição, querem assegurar o controle do único meio de comunicação ainda livre no país. Por isso, essa luta precisa ganhar as ruas e avançar ainda pra uma regulação de toda a comunicação no país para impedir que meia dúzia de famílias tenha todo esse poder nas mãos em defesa dos interesses do capital contra o trabalho.
Por Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB