A luta no Campo, a pauta trabalhista, desafios, educação, mulheres e juventude foram alguns dos temas que preencheram as páginas do caderno de teses e fomentaram a intervenção de delegados e lideranças sindicais, na tarde desta sexta-feira (23), segundo dia do 3º Congresso Nacional da CTB.
Antes de iniciar os trabalhadores, delegados e delegadas receberam no plenário a visita do Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que destacou em sua saudação o papel desempenhado pelo esporte, em especial pelo futebol para o país e a inclusão social.
“São atores da nossa integração, da nossa identidade. Não estamos no futebol pelas mazelas criadas, mas pelas raízes que ele tem e identificacao com o povo. É no esporte que o povo prevalece acima da origem social e riqueza, pela promessa de igualdade de democracia”, finalizou o ministro desejando um ótimo Congresso aos sindicalistas.
A mesa coordenada pelo secretário-geral Pascoal Carneiro e por Raimunda Gomes, secretária da Mulher Trabalhadora, reuniu os membros da Comissão de Organização e de setores estratégicos da CTB como trabalhadores rurais e portuários.
Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB, fez a apresentação das teses e reforçou a importância de sua atualidade. “Na tese fazemos um balanço desse periodo que o Brasil enfrentou. O projeto de resoluçao incorpora a agenda trabalhista abordando bandeiras como valorizacao trabalhadores, dos aposentados e incorporando os reclames sociais que ocuparam as ruas. Mas é importante destacar na agenda bandeiras como mais saúde e educação, sem abrir mão de questões politicas para nosso país”, afirmou o dirigente.
Eleições 2014
Durante a apresentação das teses, Joílson Cardoso, secretário de Política Sindical e Relações Institucionais, fez uma análise da relevância de se reforçar a defesa do socialismo e da aliança da esquerda no enfrentamento ao capitalismo.
No entanto, o socialista destacou, que isso não quer dizer que os dirigentes da CTB defendam uma única candidatura nas eleições presidenciais de 2014. “Temos unidade dentro da CTB, no entanto, em 2014, existe a possibilidade de defendermos duas candidaturas no mesmo campo”, revelou.
De acordo com Joílson Cardoso, um setor deve apoiar a provável reeleição da presidenta Dilma Rousseff, enquanto os socialistas devem defender a possível candidatura de Eduardo Campos (PSB).
“Nós temos uma grande unidade e um reconhecimento da vitória que representou a eleição de um trabalhador em 2002, que impôs um retrocesso do projeto neoliberal. Mas só isso não basta. Temos que influenciar na correlação de forças no Congresso Nacional. E nós, da SSB, ousamos dizer que iremos defender a possível canditadura do socialista Eduardo Campos à Presidência da República”, afirmou o secretário de Política Sindical da CTB.
Campo e cidade juntos
O 3º Congresso da CTB contou com a participação expressiva dos trabalhadores e trabalhadoras rurais assalariados e agricultores, que compareceram em massa para defender as políticas necessárias para melhorar a qualidade de vida e para garantir a produção agrícola que alimenta o povo brasileiro.
Em uníssono, líderanças rurais trouxeram ao debate a questão da Reforma Agrária e a crítica ao governo de Dilma Rousseff, que não avançou na discussão do tema.
Sérgio de Miranda, secretário de Política Agrícola e Agrária da CTB, e Vilson Luiz, secretário de Finanças, destacaram a importância da participação do segmento no congresso e da defesa que a Central faz de bandeiras como valorização do trabalhador do campo, tanto de assalariados como agricultores familiares.
“Precisamos avançar muito em defesa ds direitos dos trabalhadores assaliados e agricultores, melhorando a renda e evitando o exôdo rural. Precisamos dar à nossa juventude a oportunidade de ficar no campo. Avançamos muito em diversos pontos, tais como na habitação rural, conquistada com muitas mobilizações como o Grito da Terra”, ressaltou.
Sérgio de Miranda revelou também o sentimento que os trabalhadores rurais têm pela CTB. “Nos sentimos muito bem dentro da CTB, essa Central que ajudamos a construir. Atualmente somos mais de 5 milhões de assalariados representados por sindicatos, federações e confederações rurais”, disse o dirigente.
A mesma opinião tem o secretário de Finanças da CTB. “Antes da CTB o campo não tinha essa valorização que tem hoje. Esse avanço que conquistamos até agora não é mérito do governo, mas da nossa luta, de termos ido para as ruas”, salientou Vilson Luiz, que lembrou ainda da situação dos assentados e da unificação da agenda do campo e da cidade para mudar a situação. “Não queremos disputar a cidade. Queremos ficar no campo, mas com qualidade, com uma infraestrutura básica. Para isso precisa de credito, saúde, educação, emprego”, revelou.
Para o tesoureiro da CTB, a Reforma Agrária é a saída para a reversão do cenário preocupante encontrado no campo. “É a reforma que vai absorver a mão de obra desses trabalhadores. O governo Dilma fez muito pouco. Essa é uma critica construtiva, para ajudar a consertar o governo. Porque esse modelo de hoje é voltado para o agronegócio. Por isso precisamos avançar com valorização do trabalhador”, argumentou Vilson.
Reforma Agrária Já!
Alberto Broch, presidente da Contag, considera ser impossível lutar isoladamente por um novo projeto de desenvolvimento agrário para o país. “Precisamos nos unir com os trabalhadores da cidade para ampliar a defesa de um projeto rural alternativo, sustentável, que valorize o trabalho e esteja em sintonia com a soberania alimentar”.
Ele lembrou que a revolução verde e o neoliberalismo criaram um modelo excludente de produção agrícola, que expulsou, a partir da década de 70 e início da década de 90, mais de 50% dos trabalhadores rurais para a cidade. É com base nesta realidade que a Contag quer debater qual o modelo de produção agrícola que queremos para o campo brasileiro.
“Um projeto alternativo para o campo deve basear-se na luta pela reforma agrária, que quebra a espinha dorsal do latifúndio brasileiro. Acreditamos que a reforma agrária deve fortalecer a agricultura familiar. Outro ponto fundamental é sobre a forma de fazer a produção da agricultura familiar seja mais valorizada. Nós entendemos que fortalecendo esse novo projeto de desenvolvimento, estaremos beneficiando mais de 80% dos municípios brasileiros, criando o desenvolvimento onde as pessoas vivem. O que é diferente do modelo atual, baseado no agronegócio, em que o dono da terra mora na cidade e raramente vai ao campo. Queremos debater uma proposta que gere o desenvolvimento harmônico entre o campo e a cidade”, conclui Alberto Broch.
Parceria de sucesso
José Adilson Pereira, presidente do Sindicato dos Estivadores do Espirito Santo (SindEstiva) e vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos (Conttmaf) , representou outro segmento estratégico dentro da CTB: marítimos, fluviários, portuários e trabalhadores da pesca. De acordo com o dirigente, a CTB tem sido fundamental para o setor, pelas bandeiras que defende: pluralidade de ideias, unicidade, defesa do imposto sindical e dos portuários como categoria diferenciada.
“A CTB tem sido uma ferramenta fundamental para os trabalhadores, principalmente neste momento, quando o governo tenta fazer várias mudanças no cenário de desenvolvimento e de infraestrutura. O maior exemplo disto foi a Medida Provisória 595 [MP dos Portos], que veio para reformular a legislação portuária. Nós tivemos um papel indicado pela CTB de representar a Central na negociação com o governo. Conseguimos bons resultados nessa negociação, como o enquandramento dos trabalhadores do setor como categoria diferenciada, a proibição do trabalho temporário nos portos, a aplicação da Convenção OIT 137, que garante benefícios sociais contra os impactos da nova tecnologia e prevê garantia de renda mínima.
De acordo com Adilson, a CTB colocou os sindicalistas num cenário positivo de negociação em relação ao setor patronal. “Um enfrentamento brutal contra o governo e o Congresso Nacional, onde a CTB foi uma ferramenta fundamental de interlocução com o governo e ação perante os trabalhadores, que realizaram uma greve histórica parando 100% dos portos do Brasil”, destacou Adilson, que agora prevê novos desafios. “Nós temos agora o desafio da implantação da nova legislação. Porque ela é voltada para a negociação coletiva. E cada terminal novo e investimento que chegar de construção portuária, teremos que fazer valer as bandeiras que colocamos na Lei. A CTB será a grande ferramenta de mobilização para esse enfrentamento”, finalizou o líder portuário.
Cinthia Ribas – Portal CTB