O PSDB foi pego com as calças na mão

Denúncias dão conta da existência de um cartel voltado ao burlamento de concorrência em obras do metrô de São Paulo e que lesou – nos últimos 20 anos – os cofres públicos em R$ 425 milhões. Além das obras, os contratos previam o fornecimento de trens e outros itens às obras.

É muito interessante o momento em que essas denúncias chegam ao grande público. Manifestações iniciadas justamente por demandas de mobilidade urbana varreram o nosso país no mês passado. Um amplo acordo nacional, liderado pela presidenta Dilma Roussef, tem sido forjado ao enfrentamento deste imenso óbice – parte da crise urbana que vivemos. E no principal estado da federação comandado há 20 por uma mesma força política um verdadeiro esquemão foi montado para desviar centenas de milhões de reais em uma área nevrálgica tanto ao desenvolvimento quanto à qualidade de vida do povo.

O problema deve ser tratado em vários níveis e não podemos nos ater ao do tratamento dado pelo oligopólio da mídia ao caso. Basta dizer que muitos minutos do Jornal Nacional são dedicados ao governador de São Paulo se defender. Sabemos que a essência do oligopólio (e dos cartéis) é extremamente conservadora.

A descoberta deste cartel criminoso deve servir de pretexto não a um debate pequeno politicamente. O nível de debate que propomos é outro. O evento em si é interessante para desnudar, e relacionar, o fenômeno da corrupção como um câncer multiplicado pelo assalto do público pelo privado engendrado pelo neoliberalismo no Brasil e no mundo.

Por detrás da descoberta deste esquema está todo um complexo que envolve sucateamento de competentes empresas nacionais (Mafersa), compras no exterior que poderiam ser feitas em território nacional e, consequentemente, um verdadeiro dumping sobre o mercado nacional patrocinado pelo próprio Estado.

Alston e Siemens são empresas estrangeiras envolvidas em escândalos por todos os países em que elas operam. Por que seria diferente no Brasil onde o neoliberalismo do PSDB reduziu um banco público voltado ao financiamento do desenvolvimento (BNDES) a mero agente do processo de privatização e entrega de capital nacional a empresas estrangeiras corruptas, num processo felizmente revertido já no primeiro mandato do presidente Lula? Quantos empregos de qualidade deixaram de ser gerados no Brasil por conta de esquemas este nível? Alguém sabia que o metrô de São Paulo, no momento de sua inauguração, era tido como o mais moderno do mundo e equipado com trens, trilhos e escadas rolantes fabricados no Brasil? A que ideologia (e contas bancárias) serviu esse tipo de destruição?

São perguntas que estão aí, no ar. A esse tipo de esquema é que se apegam aqueles que lutam para a volta desta gente em 2014. O debate é mais de fundo. Estratégico. A despolitização, à moda deles, definitivamente não nos interessa.


Renato Rabelo é presidente nacional do PCdoB.

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