“Bancários nas ruas!” Com este debate, diante deste momento de grandes manifestações populares no país, a 15a Conferência Interestadual dos Bancários da Bahia e Sergipe definiu a estratégia de luta e as reivindicações da categoria que serão levadas para a Conferência Nacional. O encontro, que aconteceu neste final de semana (29 e 30), no Hotel Portobello, em Salvador, contou com a participação de 190 (154 homens e 36 mulheres) representantes dos sindicatos filiados à Federação dos Bancários. Estiveram presentes também convidados, como o presidente da CTB-BA, Aurino Pedreira.
No evento, foram eleitos também os delegados da base da Bahia e Sergipe que irão participar da 15ª Conferência Nacional dos Bancários, que acontecerá de 19 a 21 de julho, em São Paulo. Além disso, no sábado (29/), foram debatidos temas como a conjuntura, Sistema Financeiro Nacional, saúde do trabalhador, terceirização e campanha salarial. “Esta Conferência é o coroamento de um processo de campanha salarial que começou com os encontros regionais e dos bancos públicos. E é muito bom que esteja acontecendo no meio das manifestações populares!”, avaliou o presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Emanoel Souza.
Conjuntura
No debate sobre Conjuntura, o professor Milton Barbosa fez uma breve análise do processo histórico brasileiro para compreensão do momento de manifestações populares em que vive o país. “Devemos o que temos hoje de conquista democrática a lutas populares contra as nossas classes dominantes. A história de nossas conquistas foi realizada pela luta popular”, concluiu.
Para Barbosa, quem tem condições de fazer o governo avançar de forma progressista é o povo organizado, pois as outras alternativas são poderes à direita, como Marina Silva, o DEM e o PSDB. Dentre os problemas a resolver no país, listou a questão da democratização da mídia, a reforma agrária, a valorização do trabalho, as desigualdades sociais, a degradação ambiental e as tensões populares, relacionadas às questões raciais, religiosas, de gênero, etc..
O deputado estadual e bancário, Álvaro Gomes, que participou do debate, afirmou que sem a mobilização nas ruas não se tem como superar o problema da governabilidade do Governo Dilma. Para ele, “é preciso dar uma resposta para o que o povo está falando nas ruas”. “A mobilização é importante para levar o governo para a esquerda Irmos às ruas para levantar bandeiras mais justas e avançadas”, defendeu.
Sistema Financeiro
Sobre o Sistema Financeiro Nacional, Eduardo Navarro, vice-presidente da Federação e coordenador do Ramo Financeiro da CTB, destacou que a crise econômica que vivemos tem origem no rentismo. Para ele, neste momento de manifestações, devemos questionar o sistema financeiro nacional e internacional e colocar nas ruas a regulação do setor.
Navarro denunciou a concentração e a centralização do sistema financeiro no país, com poucos bancos atuando e agências funcionando, em sua maioria, nos grandes centros urbanos. “O Sistema Financeiro que temos hoje não nos interessa, é exclusivista e segregado”, criticou.
Entre as propostas para o setor, defendeu: fortalecimento dos bancos regionais e de desenvolvimento ou fomento; atuação do Banco Central vinculada à politica de governo; modelo de gestão mais democrático nos bancos públicos; inclusão não apenas baseada no cartão magnético, mas em agências em todos os municípios para todos os tipos de transações bancárias; uma política via Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para evitar a concentração bancária; e nacionalização dos bancos privados estrangeiros para impedir o envio de lucros para fora do país.
Terceirização
Diante da eminente aprovação do Projeto de Lei 4330 na Câmara de Deputados, que regula a terceirização de forma prejudicial aos trabalhadores, o diretor da Federação e advogado, José Antônio, defendeu a mobilização dos sindicatos contra o projeto. Conclamou a todos irem às ruas, juntamente com as centrais sindicais, para protestar contra este “projeto pernicioso à classe trabalhadora”.
Em sua avaliação, o PL representa o fim das categorias reguladas por convenções e acordos coletivos, pois desregulamenta as relações formais de trabalho, desconsiderando a CLT; retira a responsabilidade do empregador subsidiário em honrar as dívidas com os trabalhadores, conforme estabelece a Súmula 331 do TST; e autoriza a terceirização sem limitações nas empresas públicas e privadas.
Saúde do trabalhador
Em sua palestra, o diretor do Sindicato da Bahia, Reinaldo Martins, demonstrou as causas mais frequentes de adoecimento na categoria bancária: assédio moral, metas abusivas de produtividade e móveis e equipamentos inadequados. Essas causas provocam doenças como LER/Dort, depressão, estresse e síndrome do pânico. Para Martins, o assédio moral “é o lado sombrio do trabalho”, que deve ser denunciado e combatido.
Além disso, há os assaltos a bancos que têm comprometido também a saúde do bancário, ocasionando a síndrome de pânico. Lembrou que na Bahia, de 10 de janeiro a 16 de junho deste ano, ocorreram 96 casos de ataques a bancos. Diante deste quadro sombrio da saúde do trabalhador bancário, defendeu que os sindicatos organizem a luta e criem mecanismos de denúncia e orientação, como reuniões, encontros, seminários e ações judiciais.
Campanha Salarial
Emanoel Souza, presidente da Federação, avaliou que o modelo de mesa de negociação não é o ideal, mas é o melhor para o contexto de campanha salarial dos bancários. Destacou que neste ano houve mobilização nos bancos fora do período da campanha, dentro da luta de reivindicações da pauta específica.
Salientou que o foco principal da campanha salarial deve ser a valorização da categoria bancária, com crescimento do piso salarial, aumento real de salários e plano de cargos e salários. Para ele, devem-se observar avanços de outras categorias, como os empregados domésticos e operários da construção civil, que levantaram a sua autoestima com a sua valorização. Defendeu ainda que os bancários coloquem nas ruas o debate sobre o Sistema Financeiro, com as bandeiras da redução dos juros e do superávit, e reivindicação da democratização da mídia.
Vinícius Lins, do Departamento Sócio-econômico do Sindicato da Bahia, apresentou o resultado da consulta feita com os bancários da base da Bahia e Sergipe sobre a campanha salarial. Dos entrevistados, 79% têm como prioridade o aumento real; sobre remuneração variável, 89% defendem uma PLR maior, e sobre emprego, 42%, a Convenção 158 da OIT.
Na consulta, os bancários sugeriram como reivindicações a equiparação salarial dos cargos, plano de saúde após a aposentadoria, comissão sobre venda de produtos, melhoria do ambiente de trabalho e aumento real entre 10 a 15%.
Fonte: Seeb SE