“Mais fortes são os poderes do Povo”
Glauber Rocha
“O Povo, unido, jamais será vencido!”
Mao dizia que basta uma fagulha para incendiar uma pradaria. Nunca sabemos quando um fato, um símbolo, acenderá as paixões das ruas. Quando isso acontece, dias valem anos de aprendizado e de tempo histórico, a realidade muda rápida e impressionantemente, e sempre se coloca a questão de como dirigir essa grande luta às vitórias.
No Brasil, tal quadro se agudiza. No ano anterior às eleições, em meio à crise capitalista, é inevitável, diante do fato novo das mobilizações, a necessidade de disputar a agenda da sociedade, e o quadro atual impõe que essa disputa seja feita no plano da comunicação e com a imprensa golpista e a direita.
O fato central é que o nosso povo está na ruas! Isso é básico, a nossa responsabilidade de nos vermos como parte dos anseios mais avançados de luta expressos nas mobilizações, que tem quatro preocupações principais:
1. O povo não aguenta mais ser massacrado pelo transporte público, e exige o direito à cidade, em especial para os mais pobres, estudantes, trabalhadoras e trabalhadores, e quer o massivo financiamento do transporte público, a preço baixo, subsidiado, o que recoloca o debate da força do estado no tema;
2. A prioridade do gasto público com saúde e educação. São bandeiras nossas. Lutamos pelos 10% do PIB para a Educação e para a Saúde, que sofreu dura derrota quando a direita impediu que a CPMF destinasse 50 bilhões à saúde pública. Dilma reapresentou o Projeto de Lei que assegura 100% dos Royalties do Pré-Sal para a Educação. O povo apoiará com certeza as NOSSAS bandeiras, que são as formas concretas de atender ao anseio das manifestações;
3. Questiona os grandes eventos esportivos que o Brasil conseguiu, porque efetivamente se menosprezou a necessidade disputar o sentido avançado dessa vitória. E há que publicizar a transparência com o gasto público, e punir qualquer desvio. Mas, principalmente, pouco se defendeu a importância desse investimento. Por 40 anos, em grande medida, as arenas esportivas ficaram em clara degradação, lembrem do dramático desabamento no Estádio da Fonte Nova, em Salvador, que cobrou vidas. Em tão poucos anos se renovarem as arenas, melhorar o transporte e as malhas viárias e aeroportos, precisa ser justificado diante do povo, que canta o Hino Nacional e leva as bandeiras do Brasil para os protestos.
O que esse mesmo povo acharia, se soubesse que há um gasto muito pior, quase metade do orçamento reservado ao imposto do capital financeiro que a mídia defende? Como enfrentar os gargalos ao investimento e aos serviços públicos se não mudarmos essa realidade? Como disputar a legitimidade do investimento público?
4. Questiona a política brasileira, na crítica à corrupção e aos partidos. Diante dos dilemas de dez anos de governos de centro-esquerda, essa crítica não tem apenas a versão que interessa à direita, que descaradamente assume ares golpistas e quer dirigir o movimento. Temos de denunciar que a imprensa golpista e da ditadura quer disputar a agenda de luta do povo, denunciar seu golpismo! Mas também temos de ouvir a exigência de maior nitidez na aliança política que leve o Brasil à solução efetiva dos dilemas do desenvolvimento, incluindo o bem estar do povo como sua prioridade.
Temos que enfrentar o tema da Reforma Política e da construção de maioria, disputando de modo mais nítido a consciência da Nação. Desse modo, é indispensável a máxima amplitude e unidade do nosso campo, e uma Reforma Política que dê poderes ao povo nas eleições, e não apenas aos ricos.
O povo tem sua agenda, e ela também se expressa, de modo mais nítido em três linhas:
1. Na luta do movimento Passe Livre, das Entidades Estudantis e do Movimento Comunitário pela melhoria e gratuidade do transporte público para o povo, agenda histórica e permanente, que assume importância central e que pode constituir uma grande vitória política;
2. Na pauta da Marcha das Centrais Sindicais que reuniu 50 mil em Brasília esse ano;
3. Na pauta de reivindicações entregue pela Jornada de Lutas da Juventude Brasileira à presidenta Dilma.
Conhece o povo essas bandeiras, essa luta? O bloqueio midiático impede o povo de saber o que querem as tantas marchas que temos feito ao longo dos anos. Há uma tremenda luta política em curso e a imprensa golpista disputa em tempo integral a direção e as bandeiras do movimento, assim como vendeu, por mais de dez anos, a sua própria agenda.
É preciso separar o nosso povo em luta da pretensão da direita e da imprensa golpista dirigirem o movimento. É preciso ter humildade para estar junto com o povo e a juventude nessa hora de aprendizado, muitos pela primeira vez conhecem manifestações públicas. É preciso acompanhar como o povo faz a sua própria experiência, e por isso é preciso estar com o povo e a juventude. Eles já percebem que as marchas organizadas por nós são SEMPRE pacíficas! Nós somos os que temos as propostas para resolver as demandas! É esse experiência que pode ajudar esse movimento, afirmando uma luta massiva, unida, com propostas que levem a vitórias!
A juventude e os estudantes, por sua denúncia da imprensa golpista são deliberadamente ocultados de toda a cobertura jornalística. O PIG – Partido da |Imprensa Golpista – quer assumir a voz do movimento. É um escândalo! Eles querem eleger os líderes e a agenda, a direita e a imprensa golpista quer tomar de assalto o movimento. Digamos não! Como é importante apoiar as entidades estudantis e a juventude nessa hora!
Cabe-nos entrar na disputa com toda a nossa força, organização, didática, propostas e apontar um rumo de vitória para o povo, demarcando com a imprensa hipócrita da Ditadura, com os provocadores de direita e irresponsáveis que desejam o caos. Apontemos saídas que unifiquem o campo das mudanças pela sua aceleração, por uma nova arrancada, nas propostas, na utopia e na mobilização de massas pelas mudanças de sentido avançado do Brasil. E, por isso mesmo, os nossos governos têm de ter a coragem de propor saídas que signifiquem a nossa própria vitória e do movimento.
Nunca saímos das ruas, e o nosso povo quer o melhor para o nosso país, falemos com ele, disputemos apaixonadamente a agenda de mudanças no Brasil. É preciso apresentar as nossas ideias para o povo nas ruas!
Paulo Vinicius Silva é secretário da Juventude Trabalhadora da CTB. Texto publicado originalmente no blog “Coletivizando”.