Durante dois dias, trabalhadores de diversas bases sindicais participaram ativamente do 3º Congresso dos Metalúrgicos da Bahia. Apesar da diversidade nos discursos, que enriqueceu o evento, a luta pela unidade da categoria no estado foi unânime. “Sem a união da classe trabalhadora não é possível avançar e enfrentar de frente os problemas e dificuldades gerados pelo capital. É uma questão estratégica e isso está muito claro para nós”, diz Aurino Pedreira, presidente da FETIM (Federação dos Metalúrgicos da Bahia), que completou 10 anos de fundação e foi responsável pela realização do Congresso.
O evento, que aconteceu na sexta-feira e no sábado (24 e 25), no Hotel Vila Mar, em Salvador, teve como tema central “Desenvolver o Brasil é valorizar o trabalhador” e contou com a presença de cerca de 300 trabalhadores, além do deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA), e de representantes de diversas entidades, entre eles, Ana Georgina, supervisora técnica do Dieese; Wallace Paz, secretário-geral da FITMETAL; e Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).
Nivaldo Santana destacou os avanços do movimento sindical brasileiro nos últimos 10 anos, como a valorização do salário mínimo, a assinatura de acordos e convenções coletivas e a redução do desemprego, mas também apontou dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora, como a rotatividade e a terceirização. “Temos que tomar cuidado com armadilhas que estão no nosso caminho, como a proposta de reforma trabalhista da CNI, que propõe 101 mudanças na CLT, uma ameaça aos direitos do trabalhador”.
O cenário econômico do país foi um dos assuntos discutidos no Congresso. Os dirigentes sindicais defenderam um modelo de desenvolvimento que valorize o trabalhador e garanta a distribuição de renda. Um dos problemas graves apontados durante o evento foi a política de juros do governo federal, ainda numa linha neoliberal e distante dos anseios dos trabalhadores.
Saúde e igualdade de direitos
A defesa da saúde também marcou os debates.
Para o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Francisco Silva, a maior parte das empresas ainda impõe uma estrutura de trabalho que foge dos padrões previstos em lei. “A degradação da estrutura física das instalações, a falta de equipamentos de segurança, jornadas de trabalho desgastantes e falta de treinamento são alguns dos problemas enfrentados pelos trabalhadores. Por tudo isso, a categoria metalúrgica é uma das mais afetadas pela precarização do trabalho. Tem sido alarmante o número de casos diagnosticados de patologias, em especial uma crescente onda de LER-DORT”.
Além de temas específicos, os metalúrgicos da Bahia também destacaram a importância de avançar na luta política. “É fundamental conscientizar o trabalhador da necessidade de elegermos vereadores e deputados oriundos da nossa categoria, para fortalecer um projeto compromissado com os interesses dos metalúrgicos e do conjunto dos trabalhadores”, diz Matias Batista de Souza, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Dias D’Ávila.
O jornalista Umberto Martins, assessor da CTB, destacou a importância do Congresso. “Debates como esses são fundamentais para elevar o protagonismo da classe trabalhadora na luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento com soberania, valorização do trabalho e democracia. A categoria dos metalúrgicos desempenha um papel fundamental na luta sindical e política do Brasil, simbolizada, inclusive, pela eleição de Lula, que era metalúrgico”.
A questão da mulher metalúrgica também foi destaque no evento. Dirigentes sindicais de diversas bases da Bahia ratificaram a importância da luta contra o preconceito, o assédio e por igualdade de oportunidades e de salários. A discussão foi aquecida ainda mais com o lançamento do livro “Trabalhadoras da FAET – Condições de trabalho e sobrecarga doméstica”, da escritora Ana Rocha, secretária municipal de Políticas para Mulheres do Rio de Janeiro. Ela discutiu o duplo papel da mulher na sociedade moderna. “O aumento da presença das mulheres no mercado de trabalho não resolveu os problemas da sobrecarga doméstica, de cuidado com a casa e os filhos”, disse.
Diante da nova realidade no setor metalúrgico baiano, com o surgimento dos setores naval e de mineração, foram aprovadas alterações estatutárias da FETIM. O Congresso foi encerrado com a aprovação de um plano de lutas, em diversas áreas. Entre os principais itens estão jornada de trabalho de 40 horas semanais e jornada de turno de 36 horas semanais, sem redução de salários; combate à terceirização, flexibilização e precarização do trabalho; geração de emprego; melhores salários; saúde do trabalhador; fim do Fator Previdenciário; unicidade sindical; investimento de 10% do PIB para educação; defesa de um modelo de desenvolvimento econômico com valorização do trabalhador; e luta pelo fim das desigualdades regionais.
“O Congresso tem um saldo muito positivo, pois ajudou a organizar a categoria, aproveitando as experiências do passado para planejar as ações do futuro com sabedoria, mantendo sempre o foco na melhoria da vida do trabalhador”, concluiu Aurino Pedreira.
Por Dante Matisse