Trabalhadores e trabalhadoras de Caxias do sul participaram na última terça-feira (25), no dia 25, do V Seminário de Saúde do Trabalhador de Caxias do Sul e Região. A atividade, que marcou o “Dia Internacional em Memória das Vítimas dos Acidentes e das Doenças do Trabalho” – 28 de abril, foi promovida pelo Sindicato dos Metalúrgicos em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde, o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) e a Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores.
Segundo estimativas da OIT (Organização Internacional do Trabalho), ocorrem anualmente no mundo, cerca de 270 milhões de acidentes de trabalho, além de aproximadamente 160 milhões de casos de doenças ocupacionais. Na América Latina, apenas 1% a 4% das doenças do trabalho são notificadas.
No Rio Grande do Sul existe desde 2000 o Sistema de Informação em Saúde do Trabalhador (SIST/RS), que tornou de notificação de todos os acidentes e doenças relacionados ao trabalho atendidos em serviços de saúde públicos ou privados, independente do vínculo empregatício dos trabalhadores. Em 2012 foram 37724 notificações, sendo que 95,1% foram acidentes de trabalho, com notificações em 419 municípios do Estado. Dentre as doenças a maioria foi LER/DORT (53,7%), seguida de pneumopatias (9,6%) e transtornos mentais relacionados ao trabalho (9,1%). Os trabalhadores dos ramos metal/mecânico (18,7%), agropecuário (14,1%), da construção civil (11,6%) e da saúde (9,5%) foram os mais atingidos.
Em Caxias do Sul e região, no ano passado, foram 7882 notificações, sendo que 1331 foram acidentes graves. Estes e outros números que compõem o lado mais doloroso do mercado de trabalho foram discutidos no Seminário.
A primeira palestra da manhã, “Nexo causal das doenças relacionadas ao trabalho – concausa e agravamento” foi com Paulo Antônio Barros de Oliveira, professor de Medicina e de Saúde do Trabalhador do PPG de Saúde Coletiva da UFRGS e coordenador do curso de Medicina do Trabalho na mesma instituição, e com Rogério Dornelles, médico do trabalho e assessor do Fórum Sindical de Saúde do Trabalhador. Oliveira destacou em sua fala que é preciso um novo olhar sobre as doenças relacionadas ao trabalho.
“Os problemas de hoje não são os mesmos do século XIX. As mudanças culturais e a evolução histórica do trabalhador precisa entrar nas fábricas também. Atualmente os trabalhadores estão adoecendo muito da cabeça e das LER/Dort.” O professor salientou ainda que é preciso uma interdisciplinariedade para tentar resolver o problema. “As doenças do trabalho não são problemas apenas veiculados à Medicina. Para resolver é preciso que um conjunto de especialidades atuem como a Engenharia e o Design no desenvolvimento dos produtos e maquinários, a Psicologia na capacitação, a Administração na gestão de RH e nos projetos, o Direito na penalização e na prevenção e a Medicina e a Enfermagem na prevenção e no cuidado da saúde dos trabalhadores.”
Na sequência o assunto foi “Nexo Causal nas doenças do traballho e ônus da prova”, com José Felipe Ledur, desembargador Federal do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, e com Ricardo Wagner Garcia, Procurador do Ministério Público do Trabalho. Ledur destacou que eventos como esse auxiliam a entender melhor como anda a saúde dos trabalhadores. “É muito importante que saibamos como anda a saúde do trabalhador e quais são as causas desse adoecimento, que muitas vezes passam desapercebidas. Essa integração com a sociedade é de suma importância.”
O presidente em exercício do sindicato, Leandro Velho, que participou da mesa inicial do seminário destacou que os números ajudam a ver uma realidade cruel do mercado de trabalho. “Para as empresas o que vêm em primeiro lugar é o lucro, seguido da produção. O trabalhador é descartável, enquanto que deveriam ser valorizados e cuidados por serem o maior patrimônio dentro de uma empresa.” A redução da jornada de trabalho foi um dos argumentos defendidos pelo presidente durante sua explanação. “Cada vez mais a produção aumenta, com isso aumenta também a pressão e o ritmo de trabalho, o que prejudica a saúde do trabalhador. Sem as jornadas exaustivas haverá uma considerável diminuição nos problemas de saúde e nos acidentes de trabalho, ou seja, a redução da jornada possibilitaria uma melhor qualdade de vida e uma maior segurança para o trabalhador”.
O evento teve o apoio do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde do Trabalho (NEST) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e foi voltado a profissionais e estudantes da área da saúde, trabalhadores, dirigentes sindicais, cipeiros, advogados, técnicos de segurança, empregadores e à comunidade.
Por Fabíola Spiandorello
