As eleições presidenciais na Venezuela neste domingo (14), convocada após a morte precoce do presidente Hugo Chávez, inspirou a realização do debate “O legado de Chávez e a República Bolivariana”, promovido pela CTB-BA, nesta quarta-feira (10), no teatro do Sindicato dos Comerciários, em Salvador. O evento discutiu o caráter anti-imperialista e nacionalista do governo de Chávez e procurou compreender como o país utilizou suas riquezas, a exemplo do petróleo, para investir na qualidade de vida dos trabalhadores, além de prestar apoio à eleição de Nicolás Maduro.
No debate, mediado pelo coordenador de Comunicação da CTB-BA, Renato Jorge, os palestrantes convidados fizeram questão de desconstruir a imagem de “Ditadura”, que os meios de comunicação de direita dão a entender sobre o governo de Chávez. “É o processo político mais limpo e claro do mundo”, se referiu o ex-deputado estadual pelo PCdoB, Javier Alfaya, que citou os observadores internacionais que acompanharam as eleições e a utilização de urnas eletrônicas como as brasileiras.
Outro palestrante, o professor de Ciências Políticas e mestre em Ciências Sociais pela UFBA, Cláudio André, fez um relato histórico da chegada de Chávez ao poder. “O cenário de crises econômicas e de perda de credibilidade política na Venezuela foram fundamentais para a ascensão de Chávez ao governo”.
De acordo com o professor, “o nacionalismo foi o berço de Chávez, que buscou dialogar com a retomada de um estado de bem estar social”. Cláudio André afirmou ainda que a construção da República Bolivariana chavista carrega o ideal de uma nação igualitária, pluriétnica e pluriracial.
Javier Afaya deu também visões particulares de quem visitou a capital Caracas por duas vezes. “É um exemplo para o Brasil, no sentido de destravar o investimento público, tanto em áreas como saúde e educação, quanto em infraestrutura, na construção de ferrovias, sistemas elétricos, trens e metrôs”, disse Alfaya, citando uma série de exemplos práticos.
“Chávez pegou um estado burocrático, conservador, viciado, e o fez servir aos interesses do povo. Criou uma série de programas sociais, a exemplo das missões de saúde, eliminou o analfabetismo, instaurou a democracia e promoveu uma reforma no Estado”, avaliou o dirigente comunista, ressaltando que Hugo Chávez diminuiu em 25% as desigualdades no país, destravou investimentos e soube atender com urgência as demandas sociais da população.
Ambos os palestrantes lembraram que o processo político vivido pela Venezuela inspirou uma onda nacionalista na América Latina, impulsionando uma série de mudanças políticas e sociais. Eles concluem que o legado de Chávez é conjuntural e busca ultrapassar o liberalismo, com respeito à soberania nacional e a integração autônoma dos países latino americanos.
Certos de que este é um projeto ainda em curso, os palestrantes apontaram um amplo favoritismo de Nicolás Maduro, nas eleições do próximo domingo (14). No entanto, afirmam ser necessário repensar a musculatura do Estado venezuelano para consolidar um projeto de governo, que enfrentará desafios para industrializar o país e vencer a polarização política entre ricos e pobres.
Encerrada a explanação dos palestrantes, foi aberto o debate ao público, oriundo de movimentos sociais, de juventude e sindicatos filiados à CTB. Antonio Barreto, presidente na Bahia do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), cumprimentou a CTB-BA pela iniciativa da realização do evento. “A CTB propõe o debate num momento muito importante para o povo venezuelano e isso se traduz em um ato de solidariedade”, destacou.
Por Wilde Barreto (Fotos: Manoel Porto)