Marco mundial na cruzada contra a violência à mulher, os 16 Dias de Ativismo levou centenas de baianas às ruas do Centro de Salvador, na tarde desta quinta-feira (29), durante a caminhada unificada do movimento de mulheres. Com o objetivo de dialogar com a sociedade sobre os direitos da mulher, elas levantaram cartazes faixas e palavras de ordem pelo fim desta violência que atinge 23% das brasileiras.
Para a secretária de Mulheres da CTB-BA, Rosa de Souza, as entidades do movimento social incluir esta questão na ordem do dia é imprescindível na luta pelo enfrentamento. “As mulheres estão tomando a iniciativa de denunciar e quando nós assumimos as ruas nesses 16 Dias de Ativismo é no intuito de chamar a atenção para a importância da denúncia, que pode ser feita por um vizinho, um familiar, não só pela mulher. Para nós da CTB, está pontuando isso é de suma importância”, explicou.
Durante a caminhada, uma mulher chamou a atenção. Cleides Albuquerque carregava um cartaz com fotos da irmã, assassinada a tiros pelo marido no último ano. Claudelina Anunciação deixou uma filha, saudades e o desejo de justiça para a família. “”Ele não aceitava a separação. Falou que matava ela de manhã e de tarde estava solto e até hoje nós convivemos com essa injustiça”, lembra Cleides.
Uma das autoras da Lei Maria da Penha, a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) afirma que esta é, sem dúvidas, uma das leis de proteção à mulher, contra a violência intradomiciliar e geral, mais importante do mundo. “Avançamos, mas é preciso fortalecer, com orçamento público, a criação de novas varas especiais no judiciário, com o fortalecimento das delegacias de proteção aos direitos da mulher, e com a consciência coletiva, começando na família, nas escolas, para que as mulheres ergam a cabeça e possamos romper com este preconceito milenar”.
Enfrentamento
A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 – realizou, somente no primeiro semestre deste ano, 388.953 atendimentos, um aumento de 13% comparado ao mesmo período do ano anterior. Dessas, a violência física foi a mais citada por 56,65% das pessoas atendidas. Nas denúncias, o companheiro ou marido são os principais agressores.
“É importante estar nas ruas para valorizar essa grande conquista para o movimento de mulheres que foi a lei Maria da Penha e reafirmar que nós queremos avanços maiores. Aqui na Bahia, por exemplo, precisamos ampliar o número de delegacias especializadas, de casa de abrigo, de políticas de reinserção desas mulheres vítimas de violência no mercado de trabalho. Então essa caminhada é nesse sentido de dizer que nós conquistamos, mas é necessário ainda grandes avanços porque a violência é um crime muito presente na sociedade e vem sendo banalizada, principalmente pela grande mídia”, ressalta a coordenadora geral da União Brasileira de Mulheres (UBM), na Bahia, Daniele Costa.
Se o enfrentamento não é tarefa fácil, políticas públicas e processos articulados favorecem a ampliação das ações de combate. A Bahia foi o primeiro estado brasileiro a criar uma Secretaria de Políticas para as Mulheres, em 2011. Para a titular da pasta, Lúcia Barbosa, a medida representou um salto. “Nós estamos com a estratégia de trabalhar em rede para superar esse alto índice. Temos que criar mais conselhos, mais equipamentos que protejam as mulheres, é preciso também orçamento, orçamento casado com articulação política porque entendemos que o tema das mulheres é de transversalidade política e deve envolver todas as secretarias, seja de saúde, da justiça, do trabalho”, refletiu a secretária, concluindo que “nossa tarefa é não só a de executar, mas a de articulação desta política”.
A campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres completa 21 anos e é realizada de 25 de Novembro a 10 de Dezembro. No Brasil, as atividades começaram com antecedência, no 20 de Novembro – Dia da Consciência Negra – e se encerram no Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Por Wilde Barreto