Começaram oficialmente na quinta-feira (18), em Oslo, na Noruega, os diálogos de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Governo deste país, com a finalidade de colocar um fim, de forma pacífica, ao conflito armado que a Colômbia enfrenta há mais de meio século. Após a oficialização do processo por parte do porta-voz do governo, Humberto de la Calle Lombana, o comandante Iván Márquez (foto ao lado), do Secretariado Nacional das Farc, se manifestou reafirmando o “sonho coletivo de paz” e pedindo a priorização de questões como a situação agrária.
O chefe da delegação das Farc manifestou que o povo colombiano terá que ser o protagonista principal desta busca pela paz com justiça social e que chegar até ela não depende de um acordo entre porta-vozes das partes combatentes. “Quem deve traçar a rota da solução política é o povo e ao mesmo lhe corresponderá estabelecer os mecanismos que hão de referendar suas aspirações”, reforçou.
Iván Márquez reforçou ainda que, diferente do que muitos almejam, os diálogos não vão ser “um processo contra o relógio”, não vão gerar uma “paz express”, uma paz que não aborde a solução dos problemas econômicos, políticos e sociais que geraram o conflito. Isto seria uma inconsequência e equivaleria a semear ilusões no solo da Colômbia, manifestou, assegurando a necessidade de se semear uma paz estável e duradoura.
Esta paz, defende, depende da resolução de situações como o desenvolvimento agrário integral, que deve ser tratado em primeiro lugar, com vistas a debater e analisar um dos aspectos centrais do conflito, visto que o problema da terra é uma causa histórica da confrontação de classes na Colômbia. A própria guerrilha das Farc nasceu como forma de resposta popular e resistência à agressão latifundista.
Atualmente, 70% da população colombiana está na pobreza; 12 milhões vivem na indigência; 6 milhões de campesinos foram deslocados forçosamente de suas terras e encontraram nas ruas sua casa e 50% da população economicamente ativa está desempregada ou subempregada.
Além disso, dos 114 milhões de hectares existentes no país, 38 são para exploração petroleira, 11 milhões para a mineração e dos 750 mil hectares em exploração florestal se projeta passar para 12 milhões. A criação extensiva de gado ocupa 39,2 milhões de hectares; a área cultivável é 21,5 milhões de hectares, mas apenas 4,7 milhões são dedicados à agricultura, cifra considerada ultrapassada, já que o país importa 10 milhões de toneladas de alimentos por ano.
“As propriedades com mais de 500 hectares corresponde a 0,4% dos proprietários que controlam 61,2% da superfície agrícola. Trata-se de um acúmulo por espólio, cuja mais recente referência fala de 8 milhões de hectares arrebatados a sangue e fogo através de massacres paramilitares, fossa comuns, desaparições e deslocamentos forçados, crimes de lesa humanidade, acentuados durante os 8 anos de governo de Uribe, todos eles componentes do terrorismo de Estado na Colômbia”, manifestou o comandante Iván em seu discurso.
O porta-voz das Farc alertou que a estratégia governamental é usar a terra para ampliar as explorações florestais e as plantações voltadas para a produção de agro-combustíveis e não para resolver o grave problema alimentar. Ciente de situações como esta é que as Farc defendem a restituição de terras e especificamente das mesmas terras que foram retiradas de campesinos, indígenas e afrodescendentes, e não de propriedades distantes e inférteis.
Para além da questão agrária, o discurso de Iván Márquez também relembra a subscrição dos Tratados de Livre Comércio, considerados um dos fatores que mais impactam negativamente à população. O comandante assegura que, sem dúvida, este tema será abordado nos diálogos. “Pobre Colômbia obrigada a competir com as transnacionais com uma infraestrutura arruinada pela corrupção e indiferença”. O integrante do Secretariado Nacional das Farc encerrou seu discurso agradecendo aos governos da Noruega, Cuba, Venezuela e Chile pelos esforços e chamando os setores sociais do país a que encham de esperança esta tentativa diplomática de solução ao conflito interno.
Fonte: Agência Adital