As ideias e o debate da concepção classista no Brasil adquiriram elementos sociais, subjetivos e objetivos que se acentuaram neste início de século 21. Seja pelas mudanças geopolíticas ocorridas na última década do século passado, transmutado ao domínio do imperialismo norte-americano e ao neoliberalismo, seja pelo fenômeno não incomum da revolução das tecnologias de informação e a ascensão da “esquerda democrática” no governo, na representação do líder e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na primeira década deste século.
As mudanças estruturais são um objetivo quase fetichizado da presidenta Dilma Rousseff, continuadora do seu antecessor presidente Lula e, portanto, destoado de ex-presidente FHC onde índice de elevação econômica, quando havia, estava relacionado à especulação e não à renda salarial. É através das políticas sociais e de políticas econômicas heterodoxas, que desde 2002 o país fortalece a defesa frente às ondas de crises do capitalismo e aguça o crescimento econômico, ainda aquém de subelevações asiáticas e se comparado ao restante dos países do BRICS – bloco de interação comercial e política internacional do qual faz parte.
Porém, o Brasil tem uma dinâmica de ações diferenciadas em relação ao restante dos BRICS, em que mesmo com o crescimento econômico menor, as classes populares mantêm-se em ascendência econômica. Estes fatores fazem parte de uma governança histórica favorável à equidade social, que gera mais empregos, mais renda salarial e com isso o fenômeno não incomum do consumismo. Consumo este financiado e, de produtos com novas tecnologias digitais, que o (a) brasileiro (a) não estava acostumada (o) e se tornou um atrativo comercial, além disso, adentrando no empreendedorismo mesmo que isso valha à hora para ficar saudando dívidas. Somado a estes fatores está a diminuição da taxa de natalidade e de mortalidade infantil, também, inovadores entre outros, na sociabilidade.
Recentemente, a instituição que trata desses assuntos em nível governamental, o IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, teve sua troca de presidência, para a saída do prefeiturável Márcio Pochmann em Campinas, e a entrada de Marcelo Neri, autor do conceito de “Nova Classe Média”. Enquanto o primeiro detinha uma argumentação com a classe trabalhadora, o segundo faz a ponte com o discurso empresarial, do qual camufla a desfaçatez do jogo do mercado na influência do perfil da relação capital-trabalho no Brasil. O risco é uma instituição pública e para a população, mais uma vez se fechar em medidas categóricas. No momento em que o Brasil entra no processo em que as instituições públicas têm que se abrir para o diálogo com atores sociais que muitas vezes não estão dentro de uma estrutura (engessada), mas também não estão livres das contradições sociais.
Por todo esse aparato de acontecimentos, não justifica dizer que a pobreza tem seu lado brilhante ou que Brasil é feito de “C”, “Classe C” e “Celebridades”. Mas significa que o país com a população de 190 milhões, está fazendo um percurso com as opções acessíveis, com o protagonismo da luta diária da diversidade do povo brasileiro e da luta política da classe trabalhadora. Não se resume à história em “fatos numéricos” e “classes econômicas”, os que “conciliam-se” dessa forma somente o fazem pela falta ou má formação, o que mostra ser um gesto equivocado de disseminação de tal conceito, tanto mais, quando fora dos parâmetros da concorrência imediata/eleitoral – “e olhe lá” – mesmo que seja para o reconhecimento de um novo Brasil, ainda não consolidado. É possível um passo à frente?
Bibliografia
NERI, M. A nova classe média: O lado brilhante dos pobres. Rio de Janeiro: FGV/CPS, 2010.
NERI, M. A nova classe média: O lado brilhante da base da pirâmide. São Paulo: Saraiva, 2011.
POCHMAN, M. Nova classe média? : O trabalho na base da pirâmide social brasileira. São Paulo: Boitempo, 2012.
QUADROS, W. A evolução recente da estrutura social brasileira: Unicamp, 2008.
QUADROS, W. Notas Metodológicas: A estrutura ocupacional individual: Unicamp, 2008.
REVISTA. Debate Sindical: Os desafios do sindicalismo. São Paulo: N°13 – Março/Abril/Maio – 1993.
André Lemos é cientista social e membro da equipe do Centro de Estudos Classistas (CES).