Médicos de São Paulo programam uma paralisação ao atendimento aos usuários de planos e seguros de saúde na próxima quinta-feira (06). A paralisação por 24 horas é um protesto contra a baixa remuneração paga pelas operadoras e as interferências na conduta médica. O atendimento de urgência e nas emergências não será afetado.
“Há 15 dias a Associação Paulista de Medicina e outras entidades tentaram mais uma vez o diálogo, mas as operadoras seguem intransigentes”, afirma o neurocirurgião Cid Carvalhaes, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp). Segundo ele, as poucas empresas que se manifestaram apresentam propostas consideradas insuficientes. A Porto Seguro, por exemplo, ofereceu 40% da variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE). O percentual é considerado irrisório para recompor as perdas com a inflação e suportar ainda custos com a manutenção dos consultórios.
Entre 2000 e 2011, as mensalidades dos planos subiram 150,89%, quando o IPCA ficou em 119,80% e a correção dos honorários não passou de 60%. “Os reajustes têm sido obtidos principalmente nos dois últimos anos, quando as pressões dos médicos foram intensificadas”, diz Carvalhaes. Os lucros do setor em 2010, segundo o dirigente, foram de R$ 22 bilhões.
Em compensação, o atendimento aos beneficiários não foi tão positivo. Uma pesquisa recente da Associação Paulista de Medicina mostra que 77% dos usuários no estado de São Paulo tiveram algum problema nos últimos dois anos. Até o fechamento da edição, a reportagem não localizou representantes das operadoras para falar a respeito.
Carvalhaes destacam ainda que a baixa remuneração não é o único motivo da paralisação. Outro, e mais forte, segundo ele, é a interferência das empresas no trabalho desses profissionais, prejudicando diretamente os usuários. “Os médicos pedem exames e procedimentos, as operadoras questionam a necessidade e na maioria das vezes não autorizam”, diz.
Uma pesquisa da Associação de Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo (Sogesp) divulgada recentemente aponta que 97% dos especialistas da área afirmaram sofrer algum tipo de pressão pelos planos de saúde. Na maioria dos casos (93%), as operadoras dificultam a realização de exames e procedimentos de maior complexidade, que são mais caros.
Os convênios também interferem na condução do tratamento, inclusive o questionamento quanto à necessidade de internação. Esse tipo de reclamação foi apontado por 60% dos especialistas ouvidos. Só 12% deles consideram como bom ou ótimo o serviço das operadoras, enquanto que para 47% é ruim ou péssima.
Na última sexta-feira, representantes da Federação Nacional dos Médicos, Conselho Federal de Medicina e Associação Médica Brasileira defenderam um protesto mais amplo, por 15 dias, contra os planos de saúde. Em cada estado as entidades médicas se reunirão para decidir sobre os planos que terão o atendimento suspenso.
Fonte: Rede Brasil Atual