A importância do sistema financeiro para o desenvolvimento nacional foi o principal tema de debate do Seminário Nacional dos Bancários, realizado nos dias 24 e 25 de agosto, no Hotel Portobello, em Salvador. O evento, promovido pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, teve a participação de representantes de diversos estados, como Bahia, Sergipe, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Rio de janeiro, São Paulo e Ceará.
Na última sexta-feira (24), pela manhã, as discussões iniciaram com a palestra do professor de Economia da UFBA, Renildo Souza, que defendeu um novo projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Descreveu as mudanças políticas, ideológicas e econômicas dos últimos anos, principalmente com a implantação do neoliberalismo e suas graves consequências, para sustentar que neste contexto a luta do movimento sindical tornou-se mais complexa e difícil.
Renildo lembrou que no Brasil havia uma identificação da população com o movimento sindical, principalmente nos anos 1980 e no fim da ditadura, já que o desejo de mudança da sociedade coincidia com a luta dos trabalhadores. Para ele, a luta sindical tem que está envolvida com as questões mais gerais da sociedade e elogiou a iniciativa de discutir o papel do sistema financeiro para o desenvolvimento nacional.
Projeto de Desenvolvimento Nacional –Sobre o desenvolvimento nacional, Renildo fez uma breve retrospectiva dos projetos de desenvolvimento no país, desde o Governo Vargas, na década de 1950, com a criação do BNDES, BNB e Companhia Vale do Rio Doce, passando pelo Governo Militar, que incentivou a industrialização, favorecendo a urbanização com favelização, aumento da concentração de renda e das péssimas condições sociais. Nos anos 1980, a chamada década perdida, ocorreu o fechamento de indústrias. Nos anos 1990, o Governo FHC inicia a implantação tardia do neoliberalismo, com a flexibilização das leis trabalhistas, o incentivo à livre negociação, arrocho salarial e o aumento do desemprego.
No Governo Lula, apesar de manter a política macroeconômica do Governo FHC, houve avanços parciais e insuficientes no desenvolvimento do país, que manteve a alta lucratividade dos bancos. O crescimento econômico brasileiro foi favorecido pelas exportações de produtos, principalmente para a China, e pelo crescimento da economia mundial. No Governo Dilma, a crise econômica internacional tem levado ao baixo crescimento, apesar da política de queda de juros.
Para Renildo, atualmente, um projeto nacional de desenvolvimento deve apontar para lutas e reformas. A reforma política, para concretizar a participação direta da população; a reforma agrária; a reforma urbana, para assegurar que a propriedade urbana também tenha função social; a reforma da educação, para resgatar a escola pública e impedir a ampliação desordenada do setor privado; a reforma da seguridade social, que garanta a melhoria do atendimento da saúde; a reforma da segurança pública e a reforma da comunicação, que garanta a democratização da mídia.
Desenvolvimento chinês – Na sexta-feira, à tarde, os debates continuaram com o professor e doutor em Geografia, Elias Jabbour, sobre o financiamento do desenvolvimento chinês. Jabbour salientou a importância do sistema financeiro para o crescimento econômico da China.
No país, o crédito a longo prazo chega a 200% e a taxa de investimento é de 45% do PIB, enquanto no Brasil é de 19%. Além disso, as grandes obras de infraestrutura são financiadas pelos bancos e mercado de valores. “No Brasil, a revolução que podemos fazer é a tomada do sistema financeiro. O dia que o BC for dos trabalhadores a revolução estará feita”, defendeu com entusiasmo Jabbour.
Sistema Financeiro para o Desenvolvimento Nacional – Lécio Moraes, economista e assessor parlamentar da bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados, destacou também o papel fundamental do financiamento para o desenvolvimento nacional. Para Lécio, o grande desafio do país é financiar um investimento a longo prazo.
No Brasil, as fontes de financiamento são o setor público ou o setor privado. No setor público, lembra Moraes, boa parte do financiamento é feita pelo BNDES, com empréstimos de dinheiro mais barato. Mas no setor privado as empresas se autofinanciam e os bancos privados restringem o financiamento ao consumo e capital de giro com um dinheiro muito caro, preferindo investir nos títulos da dívida pública.
Fonte: FEEB-BA/SE