A Fecosul (Federação dos Empregados em Comércio do RS) com apoio dos seus sindicatos realizou pesquisa informal sobre a satisfação do trabalhador em comércio. As respostas não surpreenderam. O salário e a jornada de trabalho dos comerciários são os fatores que mais afetam os trabalhadores do setor. Estes são os motivos de muitos pedidos de demissão, da alta rotatividade no setor e da dificuldade do comércio, em especial os supermercados, conseguirem mão de obra.
A grande maioria que quer sair ou que já saiu do comércio aponta a extensa jornada e a pouca valorização do trabalho como decisivos para a continuação no setor. Principalmente, os que estão em supermercados, e que trabalham domingos e feriados.
Mesmo os que gostam do seu trabalho, do contato com o cliente, se queixam da falta de valorização desta atividade essencial para a economia das cidades, do Estado e do País. Os comerciários ainda citam a falta de vale transporte, a falta de vale alimentação, falta de auxílio creche, de auxílio estudante, entre outros.
Até mesmo quem é demitido não lamenta. “Foi uma boa porque não aguentava mais as condições de trabalho e o pouco incentivo para crescer, relata Janaína Souza de Morais, 20 anos, de Ijuí. “Está demais’, a primeira questão que fez um sair do supermercado foi a financeira, e depois o horário”, disse Marcos Meira, 30 anos, também de Ijuí, que mudou de setor.
Em Carazinho e Região, de janeiro a maio deste ano, foram 132 pedidos de demissão de funcionários de supermercados. “Chegou um tempo que eu decidi que precisava de qualidade de vida. Raramente se tem um sábado livre, quando se trabalha no comércio, então fiz um concurso público e passei”, comemora Vanderlei Assmann, 34 anos, que trabalhou 13 no comércio de Carazinho.
As queixas são as mesmas para todos os entrevistados. Mesmo os que querem continuar no setor reivindicam melhorias e mais valorização do trabalho. É o que dizem trabalhadores no comércio de Santiago, Taquari, Farroupilha, Uruguaiana, Bento Gonçalves, Taquara, Ijuí e Carazinho, que responderam a pesquisa.
Dieese mostra a diferença entre comércio e outros setores
Estudo do Dieese aponta que a jornada média semanal do comércio é de 47 horas, a mais alta entre os setores. Esta média ultrapassa em 3 horas, a jornada semanal de 44 horas. E afeta mais os jovens e as mulheres. Os jovens comerciários não podem prosseguir nos estudos e na sua qualificação, quesito muito cobrado na hora de contratar. Já para as mulheres comerciárias, que na região Metropolitana de Porto Alegre são a grande maioria das trabalhadoras do setor e 63% são mães, é difícil conciliar a vida profissional e a familiar com a jornada tão longa. As condições afetam a família toda.
Ao analisar a renda, o Dieese mostra que o salário do comerciário está na frente apenas do setor agropecuário, que tem média de R$ 749,60, e no comércio a média é R$ 797,30. Já na indústria e serviços a jornada é menor, 43 e 42 horas, respectivamente, e os salários de contratação giram em torno de R$ 914,10 e R$ 919,20.
Conforme o estudo do Dieese, feito pela economista Daniela Sandi, os pedidos de demissão no comércio gaúcho representam 33,4% dos desligamentos. Este índice representa um terço das demissões, ficando abaixo apenas das demissões por iniciativa das empresas que são 45,6%.
Fecosul diz que vai continuar luta pela redução da jornada
Para o presidente da Fecosul, Guiomar Vidor a pesquisa feita com o apoio dos sindicatos, mesmo que informal, mostra a situação dos trabalhadores no comércio do Estado, em especial dos trabalhadores em supermercados. “É preciso que os empresários do setor se conscientizem que os trabalhadores precisam ser valorizados. Que o trabalho aos domingos não dá lucro, não gera emprego, deixa o trabalhador descontente e desagrega a família”, destaca Vidor.
“A Federação vai continuar e aprofundar a luta nas negociações coletivas para que melhorem as condições de trabalho, que melhorem os salários e que haja descanso aos domingos e feriados”, completa o presidente da Fecosul.
“Fica claro que a atividade profissional no comércio começa a deixar de ser interessante. Fica mais claro ainda a necessidade que a classe patronal reveja seus conceitos conservadores. Qualidade de vida é preciso”, defende o presidente do Sindicato dos Comerciários de Carazinho e Região, Ivomar de Andrade (Tomate).
Fonte: Fecosul