O enfrentamento sindical à crise capitalista mundial

Não irei falar em euskara como gostaria, mas também não falarei a língua castelhana. Peço licença para falar em português. Em nome da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), saúdo todos os companheiros e todas as companheiras dos vários países aqui presentes. Agradeço em particular à LAB, através de sua secretária-geral, Sra. Ainhoa Etxaide, e do secretário de relações internacionais, Sr. Igor Bilbao, pelo convite para participarmos do VIII Congresso dessa organização.

A CTB é uma central sindical democrática, plural e unitária, identificada com o pensamento sindical classista no Brasil e que representa cerca de 10 milhões entre trabalhadores e trabalhadoras no país. Como a LAB, a nossa central tem como objetivo estratégico a causa socialista e também como princípio, defende a autodeterminação dos povos.  

Esse seminário que integra a programação do VIII congresso da LAB ocorre num período histórico da política internacional muito particular, no qual está marcado pela forte crise capitalista, por conflitos políticos, diplomáticos e pelas agressões imperialistas, que em seu conjunto, produzem um período de transição na geopolítica internacional.

Essa transição está caracterizada – sobretudo no aspecto político e econômico – pelo declínio relativo dos EUA e a rápida ascensão dos até então países ditos periféricos (BRICS), destacadamente a China. Esse, em nossa opinião, é o maior marco do atual contexto internacional, pois influencia novas configurações de forças no mundo. Como reação a esse novo quadro, o império estadudinense eleva as tensões no planeta, criando no mundo uma perspectiva instável, incerta e perigosa.

O modo de produção capitalista, exacerbado pelo seu atual estágio da financeirização, entrou em colapso e provoca desestabilizações políticas, econômicas e sociais em todo o mundo, sobretudo nos EUA e na Zona do Euro. Trilhões, entre dólares e euros, são saqueados dos Estados para tentarem preservar os interesses da banca financista especuladora internacional. A resultante para esses mesmos Estados é a implosão de suas capacidades políticas e econômicas, perdendo inclusive suas condições de nações soberanas.

Essa situação mundial tem provocado a privatização dos ganhos e a socialização das perdas. A classe trabalhadora é quem vem pagando a conta. Segundo dados da OIT, o crescimento dos desempregados cresceu em pelo menos 200 milhões no mundo, e que a tendência é que alcance patamares ainda maiores. Além disso, governos subordinados ao capital financeiro impõem à classe trabalhadora programas de ajuste fiscal que significam um retrocesso civilizacional relevante na história moderna.

Na luta contra esses ataques, a CTB saúda e se solidariza nesse congresso com todos os lutadores e lutadoras sociais, sobretudo com a classe trabalhadora internacional, que, com suas condições objetivas e subjetivas, resistem contra a ofensiva capitalista sobre seus direitos.

Essa crise é a mais global da história do capitalismo, consequentemente atinge a todos, mas de maneira diferente entre os países e regiões. Mesmo com os seus agressivos impactos maiores ocorrendo nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, os países em desenvolvimento como o Brasil também sofre seus efeitos.

Entretanto, eles são relativamente mitigados pela orientação política que comanda o país desde 2003. Essa realidade brasileira é extensiva à grande parte da região latino-americana. Uma situação reflexa da evolução do seu cenário político com a ascensão aos governos de forças democráticas e populares, que teve em 1998, com a eleição de Chávez na Venezuela, um marco que impulsionou o que já se acumulara politicamente no continente desde a revolução Cubana.

A partir de suas peculiaridades e processos próprios, o Brasil vem fortalecendo o papel do Estado na indução econômica, busca a integração latino-americana e caribenha, fomenta o mercado interno e age protegendo as plantas industriais no país, além de diversificar as relações comerciais externas. São novas diretrizes em curso que estão integradas com alguns projetos que valorizam o trabalho e programas sociais que propiciam importante mobilidade social. São medidas importantes que atuam contra a crise, mas que ainda não alcançaram um padrão capaz de alterar a fortíssima concentração da renda no país.

É sob essa realidade que o sindicalismo brasileiro, em particular a CTB, disputa os rumos do Brasil, lutando pela efetivação de um desenvolvimento que valorize o trabalho, e que seja capaz de criar as condições pela implementação de um modelo socialista próprio do Brasil.

No atual contexto da crise capitalista, a agenda da luta sindical brasileira caracteriza-se pela preservação e ampliação de direitos laborais, além de uma disputa política permanente para que o Governo Dilma acelere as mudanças.

Em momentos de dificuldades estratégicas e de ataque do capital aos direitos sociais e trabalhistas numa escala global, destacamos algumas dimensões sobre as quais compreendemos que a resistência sindical anticrise deva se desenvolver:

Primeiro a dimensão ideológica. Essa tem sentido estratégico, pois dela deriva a convicção transformadora social da classe trabalhadora. A CTB compreende que as dificuldades conjunturais, não devem ser justificavas para que as correntes emancipacionistas submetam-se as esgotadas concepções sindicais. Estas que compactuaram com o capital e apostaram em saídas conciliatórias, se encontram hoje sem respostas a aguda crise. Um exemplo disso é a orientação política da OIT.

Uma segunda diz respeito à luta política. Nessa escala a CTB pensa que as organizações sindicais continuam a exercer um papel relevante na vida atual, e que sua articulação com os demais movimentos sociais deva ser uma prática também para o atual momento. Nesse aspecto, as organizações sindicais internacionais e classistas jogam um papel articulador imprescindível. A realização desse seminário é uma expressão de êxito e de necessidade comprovada. A Federação Sindical Mundial, em nossa opinião, deve ser o fio condutor dessa articulação inter-sindical e social como já exerce atualmente.

Numa última, destacamos a luta concreta. Não arrefecer a agenda mobilizadora da classe trabalhadora, ao contrário, ampliá-las com jornadas de lutas que tenham como bandeiras a defesa dos direitos trabalhistas e sociais e denunciar o capitalismo como sistema que mais uma vez, joga sobre os ombros da classe trabalhadora, o ônus da sua própria crise.

Portanto, com a perspectiva socialista como estratégia e as organizações sindicais e sociais impulsionando a resistência contra a crise capitalista, haveremos de ajudar a estabelecer uma nova correlação de forças em nível mundial, capaz de evitar a barbárie social que o capital produz e efetivarmos a emancipação humana, tendo o trabalho como valor civilizatório.
“Trabalhadores de todo o mundo uni-vos”

Viva a solidariedade internacional classista!
Vida longa à LAB!
Mãos à obra!

Assim pensa a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Muito obrigado!


*Divanilton Pereira é diretor executivo nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Discurso proferido em Irunèa/Euskal Herria – Pamplona/ País Vasco, em 20 de junho de 2012, durante exposição no Seminário Internacional da Comissão de Trabalhadores e Trabalhadoras Patriotas (LAB, no original).

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