Considerado pelo prêmio Hutuz 2009 o melhor artista do Norte/Nordeste do século XXI, o jovem cearense vem despertando a admiração de importantes figuras da música brasileira como Lenine, Marcelo D2, GOG, Mv Bill e Rappin Hood.
A inusitada “embolada” do rap com o repente, o coco, o maracatu, a capoeira, o forró, o baião e as cantigas de roda, fazem dele um dos precursores do século de um movimento em defesa da cultura popular.
Na integração do rap contemporâneo à música de raiz, suas letras exalam poesia em busca da identificação com o povo. “Muita gente acaba fazendo rap igual gringo e igual paulista, e se esquece da sua própria cultura.
Se todo mundo parasse para analisar isso, se cada estado que tivesse a música rap com as características regionais, você ia ver como o movimento Hip Hop iria crescer muito mais, com uma identidade mais forte em todos os lugares,” afirma Rapadura.
O artista cearense ressalta a importância da identidade cultural, do orgulho de ser nordestino, e fala dos preconceitos dentro e fora de sua região.
Brasil de Fato – De onde surgiu o apelido “Rapadura”?
Rapadura – Bom, primeiro porque eu sou nordestino e como um bom nordestino, eu gosto de rapadura pra caramba [risos]. Sempre quando eu ia jogar bola com os meus amigos, voltava do jogo e entrava em casa para pegar um pote de rapadura e começava a comer. Os amigos passavam e fi cavam falando “rapadura, rapadura” aí ficou o apelido. Aproveitei e já inseri o nome do rap também: RAPadura.
Como você conheceu e se identificou com o movimento Hip Hop?
Eu conheci o movimento hip hop em Brasília, em 1997. Comecei a ouvir através de meu irmão, porém meu primeiro contato foi com a dança, o break, depois que eu fui cantar. Com 13 anos comecei a escrever. É como se fosse uma coisa natural, pois eu nunca tinha visto o rap na minha vida e comecei a fazê-lo com aquela sensação de que já estava em mim. Eu me identifiquei muito com a linguagem de manifesto e indignação, pois percebi que com o rap eu podia protestar contra os problemas na comunidade. Tudo que eu pensava, que eu sentia, transferia para a música, talvez essa tenha sido a causa principal da minha identificação com o movimento.
Em suas músicas há uma mistura da cultura nordestina (repente, coco, maracatu, embolada)com a cultura hip hop. Qual a importância dessa cultura para o Hip Hop, e vice-versa?
Se você pegar o coco, a embolada, o repente e o rap, todos são cantos falados, parecidos em sua expressão e linguagem. Se você ouve um repente de raiz, por exemplo, ele fala da vida do campo, das dificuldades, da alegria, da cultura, etc. O rap também relata as mesmas situações,mas, o mais importante disso tudo, é que a gente consegue fazer um verdadeiro rap nacional quando colocamos as nossas raízes dentro do rap, aí ele passa a ser nacional. As pessoas têm o costume de falar que é rap nacional pelo simples fato de cantar em português, mas não. O rap nacional tem que ser na sua linguagem, raiz e essência, com sua característica brasileira e regional.
Em seu clipe Norte, Nordeste a gente visualiza um nordeste diferente do que a própria mídia mostra. Você acha que esse é o seu principal papel no Hip Hop, cantar para que o povo saiba e entenda o que o nordeste realmente é?
O meu papel é mostrar que é possível a gente mudar algo com a nossa identidade, mas para isso temos que ter a compreensão do povo. Isso porque muitas vezes a gente deixa de falar o que pensa, deixa de ser o que é por vergonha. O padrão que é imposto pela própria mídia faz com que nós tenhamos vergonha de nós mesmos. Quando colocamos as nossas raízes dentro do movimento Hip Hop e nos deparamos com outras pessoas que se vestem e falam da mesma forma que a gente, passamos a ter uma referência e nos valorizamos mais. Temos que ter orgulho do que somos, porque até então, o rap era só São Paulo, só lá que dava prêmio, que fazia show grande, e o nordestino queria ser paulista. Agora não, a gente está começando a ganhar o nosso espaço com dignidade e demonstrando a nossa verdadeira raiz. Isso tudo nos dá referência. Quando, por exemplo, a gente canta com sandália de couro, chapéu de palha, fala “oxe” e diz que é do nordeste, a rapaziada fica com mais orgulho de ser nordestino. Quando eu comecei a cantar nos shows de rap com chapéu de palha e tudo mais, o pessoal me olhava estranho, como se eu fosse um extra-terrestre. Na verdade, inverteram-se os papéis. Hoje nós estamos tentando mudar o curso do rio.
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Fonte: Brasil de Fato