A crise internacional afeta o Brasil nas seguintes frentes:
A estagnação da Europa reduz as exportações brasileiras para lá, ao mesmo tempo em que gera excedentes da produção europeia.
Também impacta as exportações da zona asiática, afetando preços de commodities agrícolas e minerais, com impactos especialmente sobre Brasil e América Latina.
Aumenta a guerra comercial, com europeus e asiáticos tentando desovar seus excedentes nas economias emergentes. O real desvalorizado aumenta o preço de produtos importados – dentre os quais máquinas e equipamentos. Mas a crise internacional leva os países produtores e reduzir seus preços em dólares.
Em relação à crise de 2008, o país têm as seguintes vantagens:
A constituição de reservas cambiais e a solidez do sistema bancário torna o país menos exposto ao trancamento de crédito.
Em 2008 a Fazenda teve que jogar quase sozinha na implementação de medidas anti-cíclicas. Agora, o Banco Central rompeu a paralisia dos últimos 20 anos e se tornou pró-ativo.
Mas não pode contar com outras vantagens da crise de 2008:
Na primeira onda de crédito, havia uma enorme demanda reprimida. Em um primeiro momento, o atendimento da demanda permite saltos no mercado. Atendida a demanda, o crescimento do mercado passa a ser incremental. Só seria auto-sustentado se esse impulso inicial tivesse se transmitido para a cadeia dos fabricantes. A desatenção para o câmbio fez com que a maior parte desse aumento de consumo fosse apropriado pelas importações.
Não é tarefa trivial a recomposição da cadeia produtiva da indústria. Nos últimos 20 anos, o câmbio apreciado mudou estruturalmente a cadeia de fornecedores da indústria – mais agudamente no período 2003-2010. Hoje em dia, a invasão dos importados – especialmente os chineses – já se dá em nível dos terceiro e quarto círculos de fornecedores. Ou seja, o fornecedor do fornecedor do fornecedor já enfrenta concorrência chinesa. Encarecendo os importados, há um longo e penoso processo de reconstrução da cadeia produtiva, sem a menor possibilidade de se obter resultados imediatos.
Com a possível estagnação da América Latina, reduz ainda mais o potencial de exportação de manufaturados brasileiros.
Há um conjunto de elementos não-mensuráveis no momento, com implicações no médio prazo. Na China, um redirecionamento do seu modelo de crescimento, focado mais no mercado exteno.
Algumas análises apressadas previram redução da demanda por commodities metálicos (devido à menor exportação de bens duráveis) e manutenção da demanda or commodities agrícolas (destinada à alimentação interna).
É análise enviesada que supõe que os novos consumidores chineses não adquirirão eletroeletrônicos, bens de consumo durável. Além disso, em todo processo de fortalecimento de mercado interno, a construção civil desempenha papel central. E é o setor que mais consome produtos siderúrgicos. Portanto, embora possa haver uma redução da demanda global por commodities, certamente será passageira.
Na Europa, uma forte reação política enfraquecendo a postura prussiana do Banco Central Europeu, da Alemanha e da Inglaterra. A médio prazo significará um abrandamento do fiscalismo suicida europeu.
Luis Nassif é jornalista. Texto retirado de seu blog.