Como era previsto, os bancos privados acabaram seguindo os caminhos do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, de redução das taxas de empréstimo. A razão é simples: estava começando uma revoada de clientes para os dois bancos públicos, valendo-se da portabilidade – o direito de um correntista de transferir sua operação de crédito para um banco concorrente.
A crise de 2008 já havia permitido um notável crescimento dos bancos públicos, ocupando o espaço aberto pelos privados, quando pisaram no freio. Aparentemente, não quiserem repetir o erro.
Nas duas oportunidades – 2008 e agora – observam-se os mesmos repetidos erros de análise de comentaristas ideológicos. Em 2008 diziam que haveria um festival de inadimplência nos bancos públicos. O terrorismo provocou uma queda inicial nas ações do BB, depois de destituída uma diretoria pouco propensa a ampliar as operações. Nos meses seguintes, houve crescimento expressivo dos seus ativos, obrigando a banca privada a correr atrás do prejuízo.
O mesmo ocorreu agora, com a redução expressiva, por parte do BB e da CEF, das taxas de algumas linhas de crédito. Os mesmos comentaristas de sempre prognosticaram que a iniciativa era temerária, que não seria acompanhada por outros bancos. Erraram de novo.
É acachapante a incapacidade desse pessoal de analisar a dinâmica da economia, as mudanças de etapa. Fixam-se na defesa cega de privilégios, em uma visão estática da economia, em uma insensibilidade total sobre os mecanismos de funcionamento do mercado.
Ainda há muito a caminhar. Mas a redução de juros – pelo Banco Central -, do spread – pela competição bancária -, quando trouxer o custo final do dinheiro para níveis civilizados, provocará uma revolução no setor bancário-financeiro.
Nas últimas décadas praticamente não houve competição bancária. As escandalosas taxas de juros patrocinadas pelo BC, os lucros extraordinários, sem muito esforço, a ausência de mudanças estruturais na economia inibiram qualquer forma de competição.
Em outros tempos, o processo de industrialização, o surgimento de novas atividades, o desbravamento de regiões pioneiras, permitiram que bancos se diferenciassem pela sua atividade principal: a capacidade de financiar o desenvolvimento.
Foi assim com o Banco Francês e Italiano, antes da Segunda Guerra, com o Banco do Commercio e Indústria de São Paulo, financiando o café, com o Bradesco financiando a expansão da economia para o Paraná e os novos setores, com o Banco Moreira Salles montando suas alianças com grandes bancos internacionais, o BIB desenvolvendo o mercado de capitais.
Nos próximos anos, crescerão os bancos que conseguirem popularizar o varejo, atender à imensa legião desbancarizada e aos exército de novos empreendedores, que se seguirá à ascensão da nova classe C, a criar ferramentas de captação que compensem a queda de juros da poupança, a avançar nas novas regiões de crescimento dinâmico.
Será a maneira do setor bancário recuperar a legitimidade perdida, a ter uma função econômica relevante, garantindo seus lucros através dos ganhos de escala – não dos spreads escandalosos.
Luis Nassif é jornanalista. Texto retirado de seu blog.