A cidade de Cajamarca, no oeste do Peru, realiza desde a zero hora desta quarta-feira (11/04) uma paralisação por tempo indefinido de seus serviços comerciais e públicos em protesto contra um megaprojeto de mineração para exploração de cobre e ouro na região, conhecido como projeto Conga. As ruas da cidade estão tomadas por protestos e passeatas e as estradas que dão acesso a Cajamarca estão bloqueadas.
Os manifestantes organizados pela Frente de Defesa de Cajamarca, que incluem sindicados, igreja católica, políticos, movimentos sociais e governo local rechaçam a implantação do Conga pela suposta ameaça ao abastecimento de água nas comunidades.
Para proteger a área do projeto, o governo peruano enviou 1.500 homens da Polícia Nacional Peruana à região que se espalham entre a cidade e a zona de influencia da mina. “Estamos em coordenação com as forças de segurança no Peru para proteger nossos equipamentos, nossos trabalhadores que já se encontram no local”, disse Luis Argueles, gerente comercial do projeto Conga.
Riscos
Segundo o economista e engenheiro Juan Aste Daffós, da Universidade Nacional de Lima, a maior contaminação será nas águas subterrâneas e superficiais. “Seriam destruídas quatro nascentes de lagoas existente na região. A empresa Yanacocha deteria o direito de controlar a água, provocando o deslocamento da população campesina que teria suas economias e modo de vida afetados”, disse Daffós, que pesquisa economia mineral e gestão ambiental, manejos e conflitos.
Ainda, um estudo hidrogeológico da região elaborado pelo pesquisador espanhol Luis Javier Lambán Jiménez aporta elementos críticos que demonstram inconsistência do Estudo de Impactos Ambientais – EIA, do projeto Conga, realizado pela equipe técnica de Gerência Regional de Recursos Naturais e Gestão do Meio Ambiente Peruano.
No documento Jiménez comenta, “não existe um estudo hidrogeológico detalhado, precisando o impacto que geraria na flora e fauna terrestre. Nesse local há espécies endêmicas e protegidas que teriam um dano irreversível”, aponta.
Em outro trecho do documento, o pesquisador também cita danos aos camponeses, “a água para o consumo humano seria comprometida e as atividades de produção agrícola, base da atividade local, seria seriamente comprometida”, menciona.
O Projeto
Pleiteado pela empresa Yanacocha, cujos principais donos são a Newmont (USA, 51.35%), Buenaventura (Grupo Benavides, Perú, 43.65%) e o Banco mundial (5% de ações), é considerado um mega projeto para extração de cobre e ouro.
Localizado aproximadamente a 73 km ao noroeste da cidade de Cajamarca e a 585 km da cidade de Lima, a jazida tem uma projeção de capacidade de 504 milhões de toneladas de mineral com 0.28% de cobre e 0,72 gramas de ouro por tonelada.
“A exportação de cobre e ouro será obtida tratando 92 mil toneladas diárias de minério” explica Daffós, que estudou o projeto. O pesquisador acredita que a quantidade de ouro que se extrairia, sem considerar perdas, “é de 363 toneladas e o cobre fino extraído seria de 1.41 milhões de toneladas”.
O presidente da Câmara do Comércio do Peru, Jorge Vergara, declarou que o governo Peruano não deve se intimidar com as manifestações e aprovar Conga. “Não podemos parar por causa dessas pessoas que são contra o progresso peruano, a execução do projeto tem que seguir”, afirma.
Já o primeiro-ministro peruano, Óscar Valdes, disse que aceita as reivindicações, mas acredita que são infundadas. “Somos respeitosos aos protestos, mas nossa perícia sobre os impactos da exploração da mina sairá nos próximos dias e provará o que sempre tem acontecido no Peru, o respeito das mineradoras ao meio ambiente”.
Fonte: Opera Mundi