Coleções de Cordel já podem ser lidas em tablets em todo o mundo. O Cordel superou a civilização imprensa de Gutemberg e ingressou na civilização cibernética do espaço virtual. Tradição nordestina ganha espaço na rede com obras completas disponibilizadas por instituições. Popularizada em feiras livres da Região Nordeste do Brasil, onde seus folhetos impressos em papel pardo adornados por xilogravuras ficavam expostos em varais, a literatura de cordel também pode ser acessada via internet.
Uma das principais fontes para tal é a Fundação Casa de Rui Barbosa, localizada no Rio de Janeiro. Repositório de literatura popular desde 1989, o órgão disponibilizou parte do acervo de 9 mil folhetos em um site especialmente construído para facilitar o acesso remoto. Segundo Dilza Ramos Bastos, chefe de Serviço de Biblioteca da instituição, o trabalho começou em 2001. Inicialmente, a ideia era divulgar o material por meio de CDs e, depois, migrou para a rede.
A digitalização foi uma medida importante para a preservação do próprio acervo, que passou a ser menos manipulado por pesquisadores. “Nós diminuímos a manipulação e facilitamos o acesso à informação visual do texto e das ilustrações”, explica. “Hoje são raros os casos em que precisamos dar acesso direto ao documento.”
A origem exata da literatura de cordel é difícil de ser pontuada. Formas literárias similares são encontradas em outros países, como França, Espanha e Portugal. Os romances ibéricos em versos, oriundos da tradição oral e posteriormente impressos em folhetos, e os desafios improvisados do Nordeste, são indicados por pesquisadores como algumas das forças criadoras do cordel. Surgido na primeira metade do século XIX em Pernambuco e na Bahia, a forma clássica do cordel atingiu o auge da produção entre 1930 e 1960.
Impressos em papel barato, os folhetos de cordel mediam cerca de 12×18 centímetros e possuíam de oito a 32 páginas, ilustradas com imagens reproduzidas de jornais ou xilogravuras. Seus versos rimados relatavam desde temas tradicionais (como os romances de cavalaria medieval) até eventos sociais, econômicos e políticos brasileiros, como o fenômeno do cangaço ou o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954.
Um dos primeiros cordelistas a imprimir e vender seus versos foi o paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918), autor de Peleja de Manoel Riachão com o Diabo, publicado, provavelmente, em 1889. Tal folheto pode ser lido e impresso na íntegra pelo usuário por meio do site da Fundação Casa de Rui Barbosa (www.casaruibarbosa.gov.br/cordel). Outras instituições como a Fundação Joaquim Nabuco, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel e até mesmo a Biblioteca do Congresso norte-americano possuem acervos digitais semelhantes.
Atualmente, existem 2.340 folhetos digitalizados no banco de dados virtual da instituição, inaugurado em julho de 2008. A escolha das obras publicadas na rede procurou obedecer aos critérios de direitos autorais e de raridade. Por causa disso, apenas 25% dos 9 mil folhetos foi disponibilizado para o acesso via internet. O número corresponde aos autores que já caíram em domínio público ou cujos herdeiros autorizaram sua reprodução. Para o presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva, todos os meios de comunicação acabam se constituindo como novos espaços de produção e divulgação dos cordéis. “Muita gente pensou no início que o rádio de pilha acabaria com a literatura de cordel. Pelo contrário, ele serviu como veículo de divulgação para os cordelistas e repentistas”, reflete o cordelista nascido na cidade cearense de Ipu, em 1937
Fonte: site Famaliá